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“Ela tentou esconder outra gravidez”, diz patroa de empregada que abandonou bebê

Aposentada, moradora de Higienópolis, afirma ter boa relação com funcionária e que não a demitiria se tivesse sido informada da gravidez

Por Adriana Farias
Atualizado em 1 jun 2017, 16h34 - Publicado em 8 out 2015, 21h23

A patroa da empregada doméstica Sandra Maria Queiroz, de 37 anos, que abandonou a criança recém-nascida em Higienópolis no domingo (4), disse à VEJA SÃO PAULO lamentar pelo fato de a funcionária ter escondido a gravidez com medo de perder o emprego. ” Não a demitiria”, afirmou Sônia, que preferiu não revelar o sobrenome. A criança, achada por um zelador, permanece na Santa Casa de Misericórdia e será encaminhada para o Conselho Tutelar da Sé. 

“Tudo isso foi uma grande surpresa para mim. Se ela tivesse contado da gravidez eu teria ajudado, orientado, jamais a demitiria”, disse por telefone a aposentada. “Ela já tentou esconder a gravidez da outra filha [de três anos] que mora com a gente e eu a trato com maior carinho”, afirmou. “Ela poderia ter doado”, limitou-se a dizer, encerrando o assunto. Ela contou estar muito abalada e seus médicos a aconselharam a não dar depoimentos sobre o episódio.

Após deixar o 4º DP (Consolação) por volta das 19h de quarta (7), Sandra realizou exames no Instituto Médico Legal e retornou para a residência da patroa sem conseguir parar de chorar, segundo Edileine Machado, de 37 anos, amiga da doméstica. Ela contou que foi cuidar da criança na casa de Sônia enquanto as duas prestavam depoimento na tarde de ontem.

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policial militar bebe abandonado higienópolis
policial militar bebe abandonado higienópolis ()

Edileine afirmou ser a única pessoa que sabia da gravidez de Sandra. Diz ainda tê-la aconselhado a doar o bebê. Abaixo o relato da amiga:

“A Sandra tem dois filhos. O de 17 anos está na Bahia e a de três mora com ela em um quarto aconchegante e cheio de brinquedos no apartamento da dona Sônia. Ela chegou a esconder essa gravidez, pois a teve após um “namorico”. Sempre criou a menina com muito amor e carinho. Ela tem um coração grande e a atitude dela me chocou demais. Eu era a única a saber da gravidez, aconselhava-a a contar para a patroa, pois as duas tinham uma relação muito boa. A Sandra acreditava, porém, que poderia ser demitida e não teria condições financeiras de cuidar. Uma parte do salário ela costumava enviar para a família na Bahia. Os pais trabalham na roça e com barracas de frutas. Falei para ela ir ao médico e se, não quisesse ficar com a criança, poderia doar que não era crime. Eu ameacei contar para a patroa dela. Aí ela me disse que estava indo ao médico, mas não ia. Já o pai da criança é uma pessoa que ela conheceu num churrasco com forró há uns seis anos e tem o apelido de “Jota”, mora em Pirituba. Não sei o nome completo, mas foi avisado da gravidez e não se importou. Foi aí que ela entrou mais em desespero.

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No sábado a noite, ela me mandou uma mensagem dizendo que estava sentindo contrações. Tentei retornar e não consegui. Só retomei o contato com ela umas 13h do domingo e ela não me atendeu. Liguei novamente às 17h e ela me atendeu. Perguntei sobre as dores e ela disse: “Ahhh, nem te conto te ligo depois”, e desligou. Mas não ligou mais. Na segunda-feira, vi as reportagens na televisão falando sobre um abandono de bebê em Higienópolis bem perto de onde ela trabalha, desconfiei, fiquei trêmula e meu coração disparou. Liguei para ela, que disse jurar que não era ela. Eu sou mãe, tenho três filhos homens, mas não vou condená-la. Foi um ato de desespero muito grande.”

Segundo Edileine, colegas estão tentando convencer “Jota” a ficar com a pequena. A reportagem entrou em contato com ele, que limitou-se a dizer que não tinha certeza se era o pai da recém-nascida.

ENTENDA O CASO

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Sandra Maria Queiroz é natural de Vitória da Conquista, no interior da Bahia. Está em São Paulo há seis anos, onde trabalha como empregada doméstica para uma família da Rua Pernambuco, em Higienópolis. Mora no emprego e é mãe de dois outros filhos: uma menina de 3 anos, que fica com ela na capital, e um rapaz de 17 anos, que mora na Bahia.

Ela prestou depoimento na tarde de quarta-feira (7), no 4º Distrito Policial (Consolação). Horas antes, havia sido abordada por investigadores andando pela rua, perto do local em que deixou o bebê, uma menina de poucos dias de vida, dentro de uma sacola de papelão.

Para chegar até ela, os investigadores cruzaram uma série de imagens de câmeras de segurança. As primeiras eram muito borradas, mas, em algumas, seu biotipo aparece com mais nitidez. Abaixo, uma delas, na qual abaixa a cabeça ao passar sob um sistema de vigilância.

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Os policiais percorreram prédios nas proximidades do local do abandono e conversaram com diversos porteiros e zeladores, até que localizaram o prédio onde trabalha. Fizeram, então, uma campana em local próximo ao imóvel. Ela confessou de imediato que era a mãe e havia abandonado a criança. Explicou que temia perder o emprego e que a patroa não sabia da gravidez.

COMO FOI A NOITE DO ABANDONO

Sandra contou que conheceu o pai da menina em um forró, se relacionou com ele, mas só sabe seu primeiro nome e não conseguiria localizá-lo. Disse que escondeu a gestação da patroa, com quem tinha boa relação, durante os nove meses, o que foi favorecido por estar acima do peso.

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Na madrugada de sábado para domingo, começou a sentir contrações, segundo seu relato. Estava no quartinho com banheiro da casa da patroa, onde mora, e teria feito o parto sozinha – cortado o próprio cordão umbilical e limpado o bebê. Diz que saiu de casa por volta das 17h com a menina na sacola e passou a circular pelo bairro, até tomar a decisão de deixá-la em uma calçada por volta das 19h20. Ela disse a polícia que, após deixar o bebê na rua, permaneceu próxima ao local, esperando alguém resgatá-lo. Cerca dez minutos depois, a sacola foi encontrada pelo zelador Francisco de Assis.

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Francisco de Assis Alves Marinho bebê abandonado higienópolis
Francisco de Assis Alves Marinho bebê abandonado higienópolis ()

No depoimento, Sandra disse que se arrependeu e que agiu em estado de desespero.

A patroa foi informada da história na noite desta quarta-feira, por telefone, e se assustou. “O senhor está louco”, disse ao policial que lhe comunicou.

Exames do Instituto Médico Legal atestarão a sanidade mental da mulher e terão de comprovar se ela realmente deu à luz nos últimos dias. Ela não será presa inicialmente, mas indiciada sob suspeita de abandono de incapaz, crime que pode incorrer em pena de 6 meses a 3 anos de reclusão, com possibilidade de extensão de um terço da pena por ser a mãe da criança. Não está definido com quem ficará a criança.

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