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Dramaturgo recria o coração da cidade em novela das 7

Bosco Brasil dá tom de fábula à São Paulo na novela global Tempos Modernos

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h59 - Publicado em 21 jan 2010, 15h17

Desde o último dia 11, a região central de São Paulo ganhou uma nova cara. Mais moderna, com a segurança controlada por computadores, prédios antigos restaurados, outros novinhos em folha e ainda artistas de rua encantando os pedestres. O que pode parecer o tão falado projeto de revitalização do centro da capital posto em prática, por enquanto, é só ficção e cenário da novela Tempos Modernos, exibida pela Rede Globo no horário das 19 horas. Essa imagem idealizada e narrada em tom de fábula saiu da imaginação do dramaturgo paulista Bosco Brasil, de 49 anos. Nome conhecido do teatro, ele, depois de colaborar ou dividir créditos em oito folhetins, assina a primeira trama como titular e recria essa ambientação baseado nas memórias que viveu na região durante sua adolescência.

Nascido em Sorocaba, o escritor chegou à capital com a família aos 3 anos. Instalaram-se numa casa no Jardim São Paulo, bairro da Zona Norte. Mudaram-se mais tarde para a Vila Mariana e ele, aluno do Colégio São Bento, aproveitava os intervalos das aulas para bater perna nas redondezas da Praça da Sé e do Vale do Anhangabaú. “Conheci o centro antes da degradação, quando o coração financeiro da cidade ainda não era localizado na Avenida Paulista”, lembra ele, que trabalhou como contínuo, percorrendo os bancos das ruas Boa Vista, XV de Novembro, Álvares Penteado e Líbero Badaró.

É justamente em uma fictícia Líbero Badaró que está situado o principal cenário de Tempos Modernos, o Edifício Titã, controlado pelo empresário Leal (papel de Antonio Fagundes). Assim como a fachada desse prédio, pedaços de São Paulo ganharam uma versão no Projac, complexo de estúdios e cidade cenográfica da Globo, no Rio de Janeiro, em uma área de 7 000 metros quadrados. Uma réplica da Galeria do Rock, localizada por aqui no Largo do Paiçandu, chegou aos olhos dos telespectadores em muitas cenas dos primeiros capítulos. A Avenida São João também recuperou a beleza — por enquanto, infelizmente, apenas na televisão — e é vista como ponto de encontro dos personagens. Lá estão situadas a Badaró Livraria e a pizzaria Pasquale & Pasquale, comandada pelo personagem do ator Genézio de Barros. São cenas bem diferentes das exibidas em A Favorita, de João Emanuel Carneiro, a última novela global a explorar o centro, em 2008. A trama trazia imagens das personagens Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Claudia Raia) circulando pela Avenida São João, Largo do Arouche e Viaduto do Chá. Bosco Brasil pe de que os espectadores não lhe cobrem muito realismo ou coerência, pois tanto sua história como suas criaturas têm os pés mais cravados na fantasia. “Coloquei no ar o centro dos meus sonhos”, diz o autor. “Aquela região é um dos poucos pontos da cidade que têm uma cara, devido às suas características arquitetônicas. Em geral, São Paulo é caracterizada pelas pessoas.”

Ao longo dos capítulos, ele apresenta ao público de outros estados alguns desses tipos paulistanos. E foi ao mostrá-los nos palcos que se estabeleceu como escritor. Depois de frustrar os sonhos da família, que almejava vê-lo diplomata ou padre, estudou teatro na Universidade de São Paulo (USP) e teve uma bem-sucedida estreia como dramaturgo com a peça Budro (1994), enfocando a juventude da classe média paulistana no fim do milênio. A consagração veio em 2001 com Novas Diretrizes em Tempos de Paz. Dirigida por sua ex-mulher, Ariela Goldmann, a montagem trazia Dan Stulbach e Jairo Mattos — posteriormente substituído por Tony Ramos — em um drama sobre um judeu que tenta imigrar para o Brasil fugindo do nazismo. Ficou três anos em cartaz. “É raro ver um autor tão detalhista e que valorize tanto as palavras de um texto”, afirma Stulbach. Adaptado para o cinema, no ano passado, sob a direção de Daniel Filho, o filme causou menos impacto, e, surpreendentemente, Bosco Brasil confessa ter controlado a curiosidade de saber como a obra ficou transportada para a tela grande. “Estava tão ocupado com a novela que não vi o filme, e agora espero o lançamento em DVD”, diz ele. Fora esse stress inicial, o autor garante que leva muito bem a rotina de escrever para a televisão. Passa diante do computador entre dez e doze horas diárias, exceto aos sábados, quando tenta folgar. Mesmo assim, encontra tempo para, vez ou outra, conferir as gravações no Projac.

Radicado no Rio há seis anos, ele é casado com a roteirista Maria Elisa Berredo, parceira de Aguinaldo Silva na recente minissérie Cinquentinha, e não tem filhos. “Não acho nada chocante meu horário de trabalho. Afinal, não é a média normal de todo brasileiro?”, comenta. “Além disso, ajudar a revitalizar a região central da minha cidade pode ser uma recompensa extra.”

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