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Dona de casa escreve cartas para ajudar analfabetos

Clarisse Mendonça Aun, de 88 anos, atende 100 pessoas em um dia de atendimento na unidade de Santo Amaro do Poupatempo

Por Karin Salomão
Atualizado em 5 dez 2016, 14h14 - Publicado em 1 ago 2014, 23h00

Nome: Clarisse Mendonça Aun | Profissão: dona de casa | Atitude transformadora: redige cartas e currículos para analfabetos no Poupatempo Santo Amaro

Apesar de reproduzirem o próprio nome, muitas pessoas não conseguem transformar suas ideias em palavras. Para ajudar os chamados analfabetos funcionais, o Poupatempo conta desde 2001 com o serviço gratuito Escreve Cartas. Nele, voluntários redigem notícias para familiares, elaboram currículos, preenchem formulários e enviam queixas a órgãos públicos. Na unidade de Santo Amaro, atua a dona de casa Clarisse Mendonça Aun, de 88 anos. Desde 2002, ela supera as dificuldades causadas pela hipertensão, pelo diabetes e pela artrose e toda quarta-feira passa doze horas com uma caneta Bic à frente de uma folha de papel sulfite.

Chega a atender 100 pessoas em um dia e calcula que produziu até hoje cerca de 30 000 textos, em uma rotina parecida à da antológica personagem interpretada por Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil, de 1998. “Eu converso para entender o assunto e desenvolvo as ideias com as minhas próprias frases”, explica. “As pessoas abrem um sorriso enorme quando consigo escrever o que elas estão pensando”, completa.

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Em sua mesa no Poupatempo, Clarisse ouve todo tipo de problema. Apelos ao Ministério Público, ao ex-presidente Lula e até ao apresentador Luciano Huck se mostram corriqueiros, assim como pedidos para ganhar uma casa, um emprego ou dinheiro. Muitos vão para elaborar o currículo, almejando cargos de pedreiro, secretária e caixa de supermercado. Cartas românticas também são comuns. “Certa vez redigi uma para um rapaz enviar à namorada e incluí versos da música Como é Grande o Meu Amor por Você, de Roberto Carlos. Ele ficou comovido.”

O momento mais emocionante ocorreu quando Clarisse ajudou uma senhora a avisar o filho, na prisão, sobre a morte do irmão. “Ela tinha um jeito tão triste de falar que escrevi chorando”, lembra. Sua satisfação em colaborar vem da infância, quando consertava carrinhos dos colegas de rua. Já adulta, organizou quermesses e a Feira do Divino, evento de caridade em Santo Amaro, e atuou na Associação Pais e Amigos de Excepcionais (Apae) entre 1972 e 2002. Viúva há 36 anos, vive com uma pensão mensal de dois salários mínimos.

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