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Delegacia no Carandiru é a melhor da América Latina

De acordo com ONG holandesa, 9º DP é o campeão entre 23 países

Por Marcelo Ventura
Atualizado em 5 dez 2016, 19h23 - Publicado em 18 set 2009, 20h34

A impressão é a de que se está na recepção de um consultório médico ou de um escritório de advocacia. Ligada em volume baixo, a TV entretém as pessoas que aguardam o atendimento sentadas em confortáveis sofás azuis. Chamam atenção o piso de granito impecavelmente limpo, plantas, móveis novos, a iluminação natural e uma estátua de Dom Quixote logo na entrada. Apenas o distintivo pendurado na camisa do policial responsável pelo primeiro contato com vítimas, testemunhas ou cidadãos em busca de informações dá a pista: trata-se de uma delegacia. Situado no Carandiru, pertinho da extinta Casa de Detenção, o 9º Distrito Policial foi eleito o melhor da América Latina pela Altus, ONG holandesa que avalia delegacias do mundo todo. Pesquisadores da Altus visitaram 471 DPs de 23 países entre outubro e novembro do ano passado. Cada avaliador recebeu um formulário-padrão (traduzido para dezessete idiomas) para anotar suas impressões sobre orientação ao público, condições materiais, transparência e prestação de contas. A eficiência na resolução de crimes não foi questionada. Entre os 93 distritos paulistanos, 24 passaram pelo crivo da ONG, além de quatro unidades especiais e outras duas delegacias em Guarulhos e Barueri. Juntos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Recife tiveram 79 DPs visitados. Numa escala de zero a 100, o 9º DP ficou com nota 89 – bem à frente do último colocado na cidade, que não teve seu nome revelado e marcou apenas 32 pontos.Como a maior parte dos prédios policiais da capital, o do Carandiru foi erguido nos anos 40. Durante décadas enfrentou deterioração, falta de equipamentos e problemas de carceragem. Até 2002, suas cinco celas amontoavam cerca de 200 presos. “Havia rebeliões, mortes e os investigadores passavam quase todo o tempo cuidando dos detentos”, conta o delegado titular, Italo Miranda Junior. Desse tempo, restam apenas três grades enferrujadas, que decoram o jardim do antigo pátio. A reforma contou com a colaboração financeira de empresários da região. Além das salas dos policiais, há ali biblioteca aberta para alunos de escolas públicas, capela e núcleos de apoio em que atuam oito estagiários de psicologia e direito. São eles que cuidam dos chamados delitos sociais, ou seja, agressões leves, pequenos furtos e brigas. Isso deixa livres os 52 policiais para que se dediquem a casos mais complexos. Quem chega ao DP do Carandiru passa por uma triagem. Se for vítima ou testemunha, não encara os bandidos. Também não se vêem por lá policiais conduzindo suspeitos algemados. Eles entram por uma porta lateral e vão direto para a sala na qual são lavrados os flagrantes. Vítimas podem fazer reconhecimentos através de um vidro espelhado – igual aos de filmes policiais – sem ser vistas. Há ainda seis computadores e um banco de dados próprio, com fotos e informações de todos os criminosos fichados ali. “Os bandidos atuam sempre na mesma região, e isso facilita nosso trabalho de identificação”, diz Miranda. Na última terça-feira, o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Mário Jordão Toledo Leme, embarcou para Haia, na Holanda, para receber em nome do 9º DP uma homenagem da Altus. “O mais gratificante foi ouvir do governador José Serra a ordem de replicar a experiência por todo o estado”, orgulha-se Leme. Sem dúvida, para os paulistas, o melhor prêmio seria encontrar cada vez mais delegacias como essa.

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