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O sucesso do talk-show de Danilo Gentili no SBT

Apresentador emplaca algumas vitórias sobre a Globo e é processado por sua antiga emissora. Diego Guebel, diretor de conteúdo da Band, o acusa de “traição”. Confira as entrevistas abaixo

Por Ricky Hiraoka
Atualizado em 1 jun 2017, 17h23 - Publicado em 4 abr 2014, 18h25

No fim do ano passado, quando Danilo Gentili e sua equipe assinaram contrato com o SBT, o diretor de planejamento artístico da emissora, Fernando Pelégio, propôs um brinde. O apresentador, mais tenso que de costume, recusou: “Só vou comemorar quando a coisa estiver dando certo”. Passadas quatro semanas da estreia, o paulista de Santo André mudou de semblante. Está bem à vontade para celebrar seus êxitos e até desdenhar da Band, onde ficou por seis anos, primeiro como integrante do CQC e depois à frente do talk-show Agora É Tarde. “Lá tudo era muito engessado”, diz, na primeira de muitas queixas.

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Os números têm corroborado essa autoconfiança. Batizado de The Noite, o show de entrevistas se destaca na rede de Silvio Santos e é tido nos bastidores como uma vitória pessoal de Daniela Beyruti, a filha número três do empresário, que se empenhou diretamente na contratação. A atração, transmitida em horário variável (nunca antes da meia – noite), atingiu 5,5 pontos nas quinze primeiras exibições, numa faixa em que o canal raramente ultrapassava os 4 (na Band, Gentili marcava entre 3 e 4 tentos e costumava ficar em terceiro na audiência). Nesse período, o magro (1,94 metro e 90 quilos) venceu o gordo no Programa do Jô, da Globo, três vezes, na média do Ibope, e assumiu a liderança por alguns minutos diversas outras vezes. Em paralelo, as buscas pelo nome do rapaz no Google mais que dobraram desde aestreia no SBT.

Gentili, com a troca, ampliou bem os rendimentos. O salário, na casa de 70 000 reais na emissora do Morumbi, hoje é de 150 000. Os merchandisings, que costumam encher os bolsos das estrelas da TV, ainda chegam devagar. Por enquanto, apenas uma rede de supermercados e uma operadora de telefonia fizeram ações (o preço de tabela por inserção é de 210 000 reais). O desempenho modesto nessa área não ocorre por falta de esforço do apresentador. Ele comparece às reuniões com agências de publicidade para vender a si próprio, o que reforça a fama de “mão na massa”: chega ao SBT às 9 horas e sai pouco antes da meia-noite, a tempo de se assistir em casa — e manter a equipe pilhada até o encerramento, em um grupo de discussão por celular.

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Dos 27 profissionais sob seu comando, sete são roteiristas (na Band, eram três nos últimos tempos), com a missão de criar situações inusitadas a cada dia. “Talk-show bom é aquele que você vê por causa do formato e não pelos convidados”, acredita. Quando Anderson Silva foi entrevistado, por exemplo, houve uma simulação de telecatch. A jornalista Rachel Sheherazade cantou Nós Vamos Invadir Sua Praia ao lado do Ultraje a Rigor, banda fixa do show, e emplacou a maior média de audiência: 7 pontos. “Na Band, davam mais atenção para as vinhetas do que para as sacadas”, reclama Gentili. Outra queixa: segundo afirma, era obrigado a aceitar o quadro Passou na TV, uma compilação de momentos curiosos de diferentes canais.

 

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Diego Guebel, diretor-geral de conteúdo da Band, devolve as alfinetadas. “Talvez Danilo não gostasse mesmo do quadro, pois esse era o único momento em que não aparecia”, ironiza. (Leia a entrevista completa de Guebel abaixo). “Ele foi se transformando em uma pessoa difícil de lidar e passou a se enxergar como o rei do universo”, continua. Acusa ainda o ex-contratado de “pedir a cabeça” do diretor Marcelo Zaccariotto e de desencorajar aumento de salário para Roger, vocalista do Ultraje. Gentili nega a primeira informação (“levei o Marcelo para o SBT”) e diz que a segunda é uma meia verdade. “Eu disse que havia prioridades, como um produtor que ganhava somente2 000 reais”, defende-se.

Na Justiça, a rede cobra multa de cerca de 1,5 milhão de reais pelo descumprimento do contrato, que venceria em um ano. Gentili, por outro lado, planeja acionar os ex-patrões pedindo direitos sobre o Agora É Tarde, que segue no ar na Band com média de 2 pontos, apresentado por Rafinha Bastos, de quem é sócio no bar Comedians, na Rua Augusta. Por trás das cortinas, aliás, é notório que os dois não se bicam. “Temos um negócio juntos, mas ele nunca foi meu amigo”, desconversa Gentili.

Diego Guebel: “Danilo passou a se enxergar como o rei do universo”

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Diego-Guebel
Diego-Guebel ()

Durante a entrevista com Danilo Gentili, ele afirmou que o quadro Passou na TV era uma imposição da emissora e que por ele esse quadro não seria exibido. Isso procede? Não. O formato é da produtora do programa Agora é Tarde e esse quadro era um dos quadros onde a audiência mais respondia. Mas o Danilo talvez não gostasse mesmo do quadro já que esse era o único momento do programa onde ele não aparecia por 1 minuto e meio. Ele não era o diretor do programa, nem tinha talento para isso. Era o apresentador, mas, ao longo do tempo, foi se transformando em uma pessoa muito difícil de lidar e passou a se enxergar como o “rei do universo”. Não aceitava nenhuma ideia que não fosse dele e por várias vezes nos pediu a “cabeça” do diretor, por exemplo. Diretor esse que foi com ele para o SBT.

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Outra queixa do comediante é que a Band preferia contratar estagiários “por duzentos reais” do que um bom roteirista que ajudasse na criação de quadros para o Agora É Tarde. Gostariam de comentar algo? Roteiristas são roteiristas, estagiários são estagiários. Conhecemos bem a diferença de ambos e como informação para o Danilo: um estagiário não ganha 200 reais. Se as pessoas da equipe do programa fossem tão ruins, ele não as teria levado para o SBT, certo? Ele criticava incessantemente a equipe do programa para nós, inclusive por e-mail  em mensagens muito mal educadas. Os mesmos que eram criticados e escorraçados por ele foram juntos para o SBT. Realmente ficamos sem entender.

Danilo Gentili alega também que a Band não permitia grandes ousadias no programa. Ele cita que brigou muito para que durante a entrevista com Dani Calabresa os dois pudessem cantar. Algo a comentar? Nunca recebemos nenhuma ideia do Danilo que achássemos tão ousada assim. Cantar é ousado?  Pelo contrário. O Danilo tem opiniões bem conservadoras sobre assuntos comuns. Ele não costuma ter ideias ousadas. É um cara de  direita.

Como a Band vê a saída do apresentador? O Agora é Tarde ia existir de qualquer maneira na Bandeirantes e sabíamos da vontade do Danilo em ter um programa. Depois de uma piada muito ruim que ele fez em 2011, todos tinham muito medo, mas a Band resolveu investir nele. O programa cumpriu seu papel durante esse período e claro que são normais discussões sobre conteúdo, estrutura ou o que quer que seja na produção de um programa, mas nunca aconteceu nada que justificasse a forma com que o Danilo fez sua saída. Descobrimos um dia antes de acabarem as gravações de 2013 sobre sua possível ida para outro canal. Perguntamos e ele confirmou, mas disse que queria ficar, que era somente o caso de resolvermos “alguns detalhes” para que ficasse mais tranquilo. Em um almoço no último dia de gravação, ele disse que ficaria na Band e inclusive propusemos alguns aumentos e ajustes para o elenco (Roger e cia). Ele nos dizia que não precisava de tanto dinheiro assim, dizia para que pagássemos menos ao Roger, por exemplo. Horas depois ele se trancou no camarim da própria Band e confabulou por bastante tempo com o restante do elenco, liderando um movimento para “levar o programa” para outra emissora. Soubemos depois por telefone no final do ano que ele quebraria mesmo seu contrato e faria tudo que fez. Contrato esse que tinha mais um ano de vigência. Tudo muito desnecessário. Todos tem direito de almejar novos caminhos, mas dessa forma ruim, cheia de mentiras e traição realmente nunca vimos. Há 6 anos , em 2008, o Danilo foi descoberto pela produtora do CQC e foi lançado como repórter do programa. No Agora é Tarde, ensinamos a ele para onde deveria olhar, como se posicionar. Como acha que a TV Bandeirantes se sente com relação ao Danilo? Gratidão não se ensina! Ou tem ou não tem.

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Danilo Gentili: “Na Band, pedi para que diminuíssem meu salário para aumentar o salário de quem trabalha na produção”

 

Danilo Gentili SBT The Noite
Danilo Gentili SBT The Noite ()

Guebel afirma que você havia pedido a cabeça do diretor Marcelo Zaccariotto, que foi com você para o SBT, e que também criticava incessantemente a equipe em e-mails mal educados. Isso procede? Não procede e acho que a própria realidade mostra isso. Se eu era descontente, por que o convidei para ir para o SBT comigo? Atritos profissionais acontecem e vão acontecer sempre. Faz parte de um trabalho criativo. A divergência é essencial para esse processo. Se fosse verdade, por que teria levado Zaccariotto comigo? Não fui obrigado a nada. O SBT me deu carta branca. Pedi para levar o elenco e a equipe. O que constantemente critiquei desde os tempos de CQC foi a Cuatro Cabezas (produtora responsável pela realização do Agora É Tarde). Desde quando entrei lá, reclamava da falta de estrutura: faltava cadeira para os produtores, não tinha água no bebedouro. Eu dizia: “Guebel, a sua produtora precisa aumentar o salário dos produtores.” Ele falava: “Você é sindicalista? É o Jesus Cristo dos produtores?” Quando falta até papel higiênico, o desgaste aumenta. Sempre fui contratado da Band e reclamava que a Cuatro Cabezas colocava produção e repórter em hotel de craqueiro. Quando o Guebel virou diretor artístico da Band, a situação saiu do controle. Se reclamava, nunca sabia se iam melhorar a estrutura ou se isso me colocaria numa lista negra.

Guebel disse também que você havia garantido que não trocaria a Band pelo SBT no fim do ano passado. Isso realmente aconteceu? Não. A mudança para o SBT foi uma decisão  coletiva. Não era uma decisão que eu deveria tomar sozinho. Quando o Agora É Tarde entrou no ar, a gente pegou o ibope era 0,4 e fomos para quatro pontos. Criarmos uma grade para a emissora. Quando pedia cadeira para a produção, o que ouvia da direção artística era que o programa não era rentável. Eles iam diminuir o salário do Ultraje a Rigor, diminuíram a equipe e íamos perder a sexta. Quando todo mundo decidiu ir embora, eu subi na Band e falei que estava acontecendo. Saímos e almoçamos para conversar. No almoço, ele falou que o Ultraje ia ter aumento, íamos ter computador, não tirariam mais as sextas. Porque não fizeram nesses três anos? Realmente, pareceu mais seguro permanecer na Band. Sai do almoço e consultei Alex Baldin, chefe de roteiro, e Zaccariotto, que é meu diretor. Eles falaram: vamos embora. Reuni todo elenco e decidimos ir embora. No almoço, falei que a decisão seria do elenco. Depois inclusive, tive uma nova conversa onde a Band pediu para explicar por que estava indo embora e falei que a estrutura da Cuatro Cabezas era ruim. Eu gosto da Band, mas não conseguia mais trabalhar com a Cuatro Cabezes e é muito desconfortável par uma artista que o chefe de uma produtora seja o diretor artístico da emissora que ele presta serviço.

Guebel contou que uma das armas para convencer a permanecer na Band foi o reajuste dos salários de sua equipe, mas que você disse que não preciso pagar tanto para Roger e o restante do elenco. O que tem a dizer sobre isso? Dependendo o ângulo, isso é verdade. Eu tenho uma produtora que ganha dois mil reais e o Roger que ganhava muito mais que ela. Então, prefiro que deem 100% de aumento para os produtores. Não vou pedir o mesmo para o Roger. Você não precisa aumentar o casting na proporção de quem trabalha nos bastidores. Provavelmente, o que ele não falou é que pedi para que diminuíssem meu salário para aumentarem o salário de quem trabalha na produção.

 

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