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A 007 da traição: a história da detetive mais famosa da cidade

Com seu trabalho, Daniele Martins ajuda a provocar cerca de 300 divórcios por ano

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 nov 2017, 06h00 - Publicado em 17 nov 2017, 06h00
Daniele Martins: profissão incomum (Reinaldo Canato/Veja SP)
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Estima-se que perto de 5 000 pessoas atuem como detetives particulares na Grande São Paulo, em uma rotina que não tem nada a ver com a vida glamourosa dos grandes agentes de Hollywood. Em sua maioria, elas não têm escritório e trabalham como autônomas — sozinhas e sem equipe. Nesse cenário em que o amadorismo e a informalidade imperam, Daniele Martins é um ponto fora da curva.

Paulistana da Zona Norte, com sorriso de adolescente e olhos verdes graças às lentes artificiais, a profissional de 31 anos atende cerca de cinquenta clientes por mês em seu escritório, na Avenida Angélica, em Higienópolis. Tem a fama de ser a mais eficiente do ramo na capital. Cobra 12 000 reais por quinze dias de investigação e raramente deixa de comprovar as suspeitas de quem a procurou. “Se a pessoa está tendo um caso, jamais fica duas semanas sem pular a cerca”, afirma.

Segundo as contas da própria detetive, seu trabalho ajuda a provocar 300 separações por ano. Parece um número exagerado, mas faz sentido quando se olha de perto a estrutura da empresa. Atua ao lado de Daniele uma equipe de trinta arapongas. Recursos tecnológicos usados nas ações são cobrados à parte. Uma escuta clandestina dentro de um carro sai por 2 800 reais. Para que seja instalado no computador e no celular de alguém um software espião, que permite a leitura de mensagens de WhatsApp e Facebook, é preciso desembolsar 4 000 reais (informação útil: só vale para Android).

Daniele Martins
Catarina, Daniele, Mayara e Maysa reunidas no México: óvulo de uma, gestação na barriga de outra (Arquivo Pessoal/Veja SP)

Com essa tabela de preços e de serviços, a 007 dos divórcios fatura aproximadamente 200 000 reais por mês. Ela dá seu número de telefone particular a todos os clientes. Muitos querem um retorno do dia de investigação. “Atendo tarde da noite, sem problemas. Lido com gente traída e muito fragilizada.”

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Com mais de uma década de experiência no ramo, Daniele conta que, nos últimos tempos, o uso do celular é capaz de levantar as primeiras suspeitas. “Quem entra com o aparelho no banheiro e troca a senha toda hora quer esconder algo”, explica. Ela até hoje faz campana na rua, mesmo que seja em horário pouco convidativo. “Tem marido que sai de casa às 4 da manhã dizendo que vai tomar o primeiro voo para o Rio para uma reunião de trabalho”, afirma. “Mas, na verdade, ele vai passar o dia com a outra.”

Certa vez, a detetive entrou pelo vão da garagem de um motel para registrar a placa do carro do alvo investigado. Em outra ocasião, em um drive-in, fotografou o veículo de um homem que estacionava em uma vaga e ficou à espreita na garagem ao lado, gravando com o celular os ruídos do casal vizinho, que resolveu namorar fora do automóvel. “Furiosa, a mulher do sujeito queria inserir esse áudio no processo de divórcio”, lembra.

Daniele entrou no ramo aos 18 anos. Depois de trabalhar no departamento de eventos de um hotel, a convite de uma amiga visitou o Instituto Universal dos Detetives Particulares, na região da Praça da República. Decidiu na hora inscrever-se. A aluna dedicada foi contratada pelo professor Marco Aurélio de Souza, responsável pela escola. “Mesmo sem muita experiência, a Dani era uma das minhas melhores funcionárias”, conta ele, que é filho de detetives.

Marco Aurélio de Souza detetive
Marco Aurélio de Souza: professor e o primeiro patrão (Ricardo D'angelo/Veja SP)

Passados alguns anos, ela virou autônoma. Fez anúncios em jornais e revistas e não negava serviço. “Quando a demanda aumentou, abri um escritório em Santana”, diz. Como a clientela abonada se recusava a atravessar a cidade, decidiu mudar-se para Higienópolis há quatro anos.

A profissional era bicampeã do Prêmio Magnífico na categoria de melhor detetive do Brasil, organizado pela jornalista Zildetti Montiel. Acaba de conquistar o tri, e receberá a homenagem neste domingo, 19, no bar Coconut Brasil, em Santa Cecília. Fabrício Dias, da concorrente Líder Detetives, debocha. “Esse negócio é uma farsa, não existe um júri técnico para avaliar quem merece vencer”, critica. Dani não dá importância ao comentário. “Já fui entrevistada por Pedro Bial e Luciana Gimenez”, orgulha-se.

Há treze anos no mercado, estima ter colaborado para dar fim a 2 000 matrimônios. Esse número só não é maior porque muitos clientes perdoam a traição. “Tem rapaz que faz um escândalo ao ver a foto da mulher com outro homem. Uma semana depois, resolve dar uma segunda chance.”

Ao contrário de seus clientes, a detetive tem uma vida conjugal tranquila: vive há cinco anos com a esteticista Mayara Nucci da Silva, de 28 anos. O casal mora na companhia de Maysa, 12, filha de um relacionamento anterior de Mayara, e de Catarina, 1. Após duas inseminações sem sucesso, Mayara gerou a caçula com o óvulo de Daniele e sêmen vindo da Alemanha. Quando a menina fez o primeiro aniversário, elas foram para o México para comemorar. “No fundo, todos queremos uma família estável”, afirma Dani.

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