Tite: curiosidades sobre o técnico campeão brasileiro
Amuletos da sorte, sonho de voltar aos gramados e bastidores da renovação com o Corinthians
1 – ANJOS DA GUARDA
Os punhos cerrados por noventa minutos. Tributo à morte do ídolo alvinegro Sócrates, ocorrida no mesmo dia da decisão? Nervosismo pelo título iminente? Nada disso. Na partida do último domingo (4), que definiu o campeão brasileiro, as mãos de Adenor Bachi, 50 anos, o Tite, escondiam amuletos especiais. “Tenho dois anjinhos de porcelana, um menino e uma menina. Representam meus filhos Matheus (22 anos) e Gabriele (16). Não sei de onde tirei a ideia, mas levei as imagens para o jogo com o Figueirense (pela penúltima rodada) e as deixei no bolso da calça. Contra o Palmeiras, resolvi segurar os anjinhos nas mãos. Rezei com eles pensando no meu pai (Genor, morto em 2009).”
+ Basílio, o amuleto do Corinthians
+ Corinthians: como tudo começou
2 – QUEM NÃO SE COMUNICA…
Famoso pelo discurso rebuscado e marcado por neologismos como “treinabilidade”, o que lhe rende gozações, o técnico passou, neste ano, por um treinamento para se comunicar melhor. Iniciado em fevereiro, logo após um dos maiores vexames do time (a eliminação precoce da Libertadores pelas mãos do modesto Tolima, da Colômbia), o trabalho teve o objetivo de aumentar sua identificação com a torcida. A intenção não era fazê-lo se livrar do vocabulário curioso, sua marca registrada, mas torná-lo mais descontraído e menos professoral. Tite hoje ri de suas bobagens (como a tal da “treinabilidade”, que nem ele sabe explicar direito o que significa). Antes raros, os palavrões também começaram a pontuar suas frases. A mudança agradou à família: o filho, Matheus, ligou dos Estados Unidos, onde mora, para elogiar a nova postura do pai.
3 – OS POINTS PREFERIDOS
A base do gaúcho de Caxias do Sul continua sendo Porto Alegre, mas São Paulo já não é só um local de trabalho. “Gosto daqui, e a família se adaptou muito bem à cidade.” Nos momentos de folga, ele prefere circular pelo Tatuapé, na Zona Leste, onde mora. Nessas ocasiões, costuma ir ao cinema num dos shoppings do bairro. Os amigos da capital, porém, ainda são raros: resumem se, basicamente, a outros membros da comissão técnica do clube.
4 – REFÚGIO NA METRÓPOLE
Para um treinador do Corinthians, é praticamente impossível andar incógnito por São Paulo. “Às vezes tento ficar de cabeça baixa na rua, mas sempre me descobrem”, conta. O assédio constante não é lá muito bem-vindo, mas só o incomoda de verdade quando envolve provocações de torcedores rivais. Para encontrar tranquilidade, Tite tem destino certo. “Eu e minha mulher vamos muito a um restaurante chamado Bacalhoeiro, no Tatuapé. Chegamos cedo, perto das 7 da noite, quando ele ainda está vazio, e nos sentamos a uma mesa em um cantinho mais afastado. Ali consigo ficar sossegado, pedir um bacalhau e tomar um vinho.”
+ Corinthians: famosos falam sobre seu jogo inesquecível
+ Corinthians: a raça de Wladimir veste a 4
A carreira como técnico tem títulos expressivos — Copa do Brasil (2001, Grêmio), Sul-Americana (2008, Inter) e o recente Brasileirão —, se comparados aos dos tempos de meia. “Sou um treinador muito melhor do que fui jogador”, diz. É sua opinião em nível racional; no inconsciente, tudo muda. “Tenho um sonho recorrente em que ainda não parei de jogar e estou no vestiário, naquele ritual de colocar as ataduras, as chuteiras”, revela. A maior glória nas quatro linhas foi também a mais dura decepção: o vice brasileiro de 1986, pelo Guarani, derrotado nos pênaltis pelo São Paulo. “Nosso estádio em Campinas, o Brinco de Ouro, estava lotado, minha mulher teve de assistir ao jogo das escadas de acesso”, lembra.
6 – CAMPEÃO DE ENTREVISTAS
A sequência de compromissos na última semana foi um desafio comparável às 38 rodadas do Brasileirão. “Calculo que já conversei com mais de 100 jornalistas desde que fui campeão”, disse, ainda na noite de terça (6). Passou por várias atrações da Band, entrou ao vivo no Globo Esporte, participou do Arena SporTV, gravou para os programas “A Bola da Vez”, da ESPN Brasil, “Altas Horas” e “Fantástico”, da Globo, e esteve nas festas de premiação da CBF e do “Mesa Redonda”, da TV Gazeta.
7 – OS PERFIS FAJUTOS
O Twitter acumula perfis de pessoas que fingem ser o técnico, apenas para fazer graça de suas frases mirabolantes. “Acho desagradável quando não identificam que é falso. Eu fiz um no ano passado, mas escrevi oito mensagens e larguei”, afirma. Na verdade foram dezenove posts, no endereço @tite_bachi. O Facebook abriga pelo menos quatro perfis seus, igualmente fajutos. “Gosto de tecnologia, mas aplicada a trabalho.” Uma página célebre é o “Fabuloso Gerador de Entrevistas Coletivas do Técnico Tite”, que “cria” frases no melhor estilo “titês”. “Nunca tinha ouvido falar, mas é uma brincadeira sadia, não vejo problema.”
8 – PAPO COM O PRESIDENTE
Em pelo menos duas ocasiões na carreira, Tite foi demitido por peitar interferências de dirigentes em seu trabalho: no próprio Corinthians, em 2005, e no Al Ain, dos Emirados Árabes, em 2007. Mas, em 2011, a relação próxima com o presidente do Timão permitiu uma respeitosa troca de confidências. “Cheguei a dar minha opinião algumas vezes, mas só quando o Tite me pediu. E sempre deixei claro que ele tomava a decisão”, afirma Andrés Sanchez. “Eram mais bate-papos sobre como eu iria armar o elenco”, desconversa o técnico.
9 – ESTILO NO VESTIÁRIO
+ Casagrande: Corinthians eternamente no meu coração
+ Corinthians: técnicos que fizeram história
É quase unanimidade que o trunfo do treinador no Corinthians foi o senso de justiça, evidente em episódios como o do enquadramento do zagueiro Chicão. Em má fase, o então capitão recusou-se a ficar na reserva. Acabou afastado do time por uns tempos. Tite ganhou respeito também por não tratar o atacante Adriano como uma estrela. Fora de forma, o craque teve poucas oportunidades. “O Tite aceita ouvir opiniões nos momentos ruins e nos bons”, afirma o meia Alex, outro que esquentou o banco por algumas rodadas, embora contratado para ser um dos destaques. “O técnico faz o estilo ‘gauchão amigo dos jogadores’”, afirma o comentarista Paulo Vinícius Coelho, da ESPN Brasil.
10 – RENOVAÇÃO PARA 2012
A permanência no Corinthians ficou praticamente acertada em uma reunião na terça (6): seu salário iria de 260.000 para 350.000 reais mensais. Mas indefinições políticas ainda deixam o cenário nebuloso. O clube tem eleições marcadas para fevereiro. “Por duas vezes, no Grêmio (2003) e no Corinthians (2005), fui contratado por uma diretoria e acabei trabalhando com outra, que não me queria. Então, antes de tudo, o Corinthians precisa definir se quer mesmo.