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Oi, lembra de mim?

Confira a crônica da semana

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
24 mar 2017, 19h36

Por Mário Viana (mario@abril.com.br)

Não, não lembro. A sinceridade deveria ser sempre a melhor resposta e o mais eficiente castigo para quem nos põe no embaraçoso jogo da memória social. “Não lembro, por que deveria?” é uma contestação atrevida, mas embute o risco de a outra pessoa responder: “Porque passamos a noite juntos” ou algo ainda mais constrangedor. Na dúvida, opte pela gentileza.

Não me ofendo quando não sou lembrado de primeira. No máximo, lamento a incapacidade da outra pessoa em registrar uma figura tão marcante quanto eu, mas é preciso saber lidar com isso. Quando abordo alguém com quem já mantive contato social, entro de cara no tema. “A gente se conheceu durante o festival internacional do pinhão em Visconde de Mauá”, por exemplo.

Assumir a desmemória exige traquejo. Certa vez, entrando em um teatro, fui abordado pelo clássico “Tá lembrado de mim?”. Claro que não estava, mas o rosto do rapaz me era vagamente familiar. Em segundos, o cérebro resolveu funcionar: ele e eu frequentávamos a piscina do mesmo clube. “Claro que lembro, mas nunca tinha te visto de roupa.” Foi sincero e inocente, mas causou espanto nas pessoas ao redor.

Quando é uma mulher que faz a pergunta nefasta, uma boa saída é apelar para o penteado. “Você mudou o corte de cabelo?” é infalível. Com raríssimas exceções, mulheres sempre mudam a cabeleira a cada temporada — trocam a tintura de Castanho 18 para Castanho 16, reduzem o comprimento em meio centímetro, essas coisas. Geralmente, a tática funciona. A não ser que ela tenha se separado. Todo fim de casamento culmina numa visita ao cabeleireiro, o que torna a saída do “mudou o corte” bastante arriscada.

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Com homens, é mais complicado. Homem não é dado a mudanças de penteado. No máximo, fica careca. Ou gordo. Ou careca e gordo. A verdade, dita com jeito, pode ser melhor. “De onde mesmo a gente se conhece?” Aconteceu ainda outro dia durante uma festa e, para minha sorte, o rapaz estava de chapéu. “Uau, você fica completamente outro com esse panamá”, eu disse. Era verdade.

Às vezes, você está com alguém que conhece a pessoa de rosto vagamente familiar. O quase desconhecido conhece você, chama-o pelo nome, fala do seu trabalho, só falta comentar do ciático inflamado da sua Tia Cotinha. E você, nada. A esperança é que seu ou sua acompanhante pronuncie o nome mágico, esclareça o mistério, jogue luz em sua vida. A chance de isso acontecer é mínima e, acredite, não acontece. Quando a pessoa, enfim, se afasta, você reclama. Sua companhia protesta inocência. “Eu também não faço a menor ideia de quem seja”, diz. “Pensei que você conhecesse. Ela sabia tudo a seu respeito.”

A amnésia social pode render situações hilárias. Já me aconteceu de passar pelo embaraço, levar a conversa em banho-maria até cair uma ficha. “É o Antenor, que trabalhou comigo no banco”, comemoro intimamente. Continuo o papo, a coisa anima, contam- se piadas e, ao me despedir, dou o tradicional tapinha no ombro. “Vamos marcar um chopinho qualquer dia desses, Antenor.” O sujeito sai batendo o pé, ofendido. “Meu nome é Olegário, Gilberto.” Eu tinha me lembrado da pessoa errada. Ele também.

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