Fora dos trilhos

Confira a crônica da semana

Por Mário Viana
Atualizado em 14 fev 2020, 15h58 - Publicado em 14 set 2018, 06h00
 (Attílio/Veja SP)
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Em qualquer lugar do mundo, a civilização anda de metrô. Não tem nada mais prático do que se locomover debaixo da terra, sem engarrafamentos, até chegar ao seu destino. O metrô coloca o passageiro praticamente dentro de museus, parques e shopping centers sem maiores transtornos. Seja em Xangai, Praga ou Rio de Janeiro, os trens subterrâneos são uma mão na roda.

São Paulo, coitada, desafina o coro. Não há Poliana otimista que consiga enxergar algo de bom nos trens estufados de gente na Linha Vermelha, que liga a Zona Leste ao resto da cidade. Nas horas de rush, o aperto fica uns quinze pontos abaixo da linha do desumano. Atinge com folga os níveis de crueldade com quem trabalha, estuda e precisa voltar para casa duplamente moído — da jornada e do trem.

Também desafia a inteligência o túnel que liga as estações Consolação e Paulista, completamente lotado a qualquer hora do dia e da noite. Será que ninguém pensou que o vaivém num dos pontos mais movimentados da cidade exigiria espaço físico? Faltou aula de tabuada nessa faculdade.

Apesar disso, não existe nada mais elegante do que cruzar São Paulo de metrô — pelo menos nos fins de semana. Você pode acordar no Sacomã e almoçar na Vila Madalena, pegar um cinema na Paulista ou tomar uma caipirinha naquele restaurante badalado nos confins da Zona Norte. Dá para sair do Itaquerão e pegar um ônibus até a Baixada Santista, no Jabaquara.

Há muitas razões para se orgulhar do nosso metrô. As estações são geralmente bastante limpas e os trens passam, quase sempre, a intervalos curtos. Tudo bem que, cada vez mais, há vendedores de tudo quanto é tranqueira, músicos passando o chapéu e pedintes variados. Mas isso é comum em qualquer metrô do mundo.

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Poderíamos ter mais linhas de metrô, claro. Desde que inauguraram o sistema de transporte subterrâneo de Paris, em julho de 1900, os engenheiros europeus tentaram emplacar a novidade nos países latino-americanos. No Cone Sul, a única cidade a adotar a ideia foi Buenos Aires — daí o encanto com os trens velhinhos que levam portenhos para todos os lados.

São Paulo e Rio, naquela época, não se interessaram pelo sistema. Não havia motivo. No Brasil, transporte público sempre foi coisa de pobre. Quando vai à Europa, a classe média verde-amarela acha bacanérrimos os metrôs de Paris, Londres e Madri. Volta para casa falando maravilhas dos trens e chega a dar dicas de como economizar nas passagens. Os mais viajados elogiam até o metrô de Nova York, cujas estações nunca cheiraram a perfume francês. O metrô lá é fedido, mas funciona às mil maravilhas.

Aqui, essa mania de transporte público não dá likes. Em São Paulo, o negócio é andar de carro, mesmo que isso polua e engarrafe mais a cidade. Em defesa dos paulistanos motorizados, é bom dizer que nossa malha de transporte público é uma piada de mau gosto.

Rodízios e ciclovias, marcos civilizatórios em qualquer cidade do mundo, funcionariam melhor se não vivêssemos numa cidade tão gigantesca. Vamos ser realistas: é muito complicado morar em Sapopemba, trabalhar no Morumbi e estudar na Paulista — e querer fazer tudo isso na base da pedalada. Haja perna.

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