Canarinhos ao léu

Confira a crônica da semana

Por Mário Viana
Atualizado em 8 jun 2018, 06h00 - Publicado em 8 jun 2018, 06h00
 (Attílio/Veja SP)
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Começo desde já pedindo desculpas ao leitor por alguma desinformação causada pelo lapso de tempo. Entre a minha escrita e a sua leitura passou um número de dias suficiente para eu não ter visto ainda pelas ruas da cidade aquele clima festivo que costuma marcar toda Copa do Mundo.

Ruas cobertas de bandeirinhas, asfalto colorido a mão com desenhos alusivos ao futebol, camisetas com o nome de ídolos, amigos combinando desde já na casa de quem vão se reunir para ver os jo gos… Não tem nada disso até onde minha míope vista alcança.

Uns vão culpar o trauma do 7 a 1 contra a Alemanha, quatro anos atrás. Outros lamentarão a falta de jogadores carismáticos e realmente empenhados em defender a camisa amarela. Há ainda quem despeje tudo na conta da política. O futebol pode não ser mais uma caixinha de surpresas, mas certamente é um baú com espaço para muito mi-mi-mi.

Houve um tempo em que o Brasil parava — mais que o Brasil, São Paulo cobria-se de silêncios durante os noventa minutos das “nossas” partidas. Só se quebrava a quietude com os gritos de gol, fogos e outras quizombas provocadas pela indestrutível esquadra verdeamarela. Houve esse tempo, acreditem.

O Brasil ganhava e as ruas se enchiam de gente festejando como se fosse uma vitória pessoal. E era, porque aqueles onze sujeitos em campo representavam um pouco de cada brasileiro — do loiro ao negro, do feio ao bonito, do fortão ao magricela, todos com nomes e apelidos tão intraduzíveis como Cafu, Tostão ou Garrincha.

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No fundo das retinas de cada um de nós haverá sempre alguma cena relacionada às Copas do Mundo. Lembro de correr com a molecada pelas ruas da Zona Norte festejando o tricampeonato, em 1970, sem fazer a menor ideia de onde fosse México ou Itália. Lembro dos primeiros jogos que vi com transmissão colorida, em 1974. Ou da capa do Jornal da Tarde, em 1982, com o garotinho chorando a desclassificação na Espanha.

Houve também o dia em que saí do metrô com a seleção já em campo e encontrei uma Rua Vergueiro deserta feito cidade de faroeste. Salvo engano, foi a única vez que vi São Paulo absolutamente vazia. Quase deu medo.

Não tem como esquecer a tabela informal com os melhores botecos para assistir aos jogos — ganhava pontos o que tivesse espaço para os pulos a cada gol brasileiro. Inesquecível também a presença de um primo uniformizado de jogador canarinho, dos pés à cabeça, em pleno velório da minha mãe.

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Pode ser que o clima jururu passe, conforme os gols forem aparecendo. Não há ninguém mais volúvel que torcedor, a gente sabe. Uma vitória, por menos impactante que seja, serve para amenizar as dores das apocalípticas derrotas da última Copa. Esquecer, nunca. Mas que ajuda a sofrer menos, ajuda.

Nem os inconformados com a política resistirão a dar uma espiada nos jogos — mesmo que, em vez de Brasil, prefiram torcer por alguma seleção menos frequente nesse tipo de evento, como Peru, Marrocos e Senegal. Há quem queira torcer pela Islândia, desde que consiga decorar a tempo os nomes de Ragnar e Magnússon, entre outros. É complicado.

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