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Dia dos namorados

Confira a crônica da semana

Por Ivan Angelo
Atualizado em 14 fev 2020, 16h02 - Publicado em 1 jun 2018, 06h00

Como era o dia dos namorados quando ainda não havia o Dia dos Namorados? O 12 de junho era apenas o dia das promessas e simpatias para arranjar um namorado. Repare que a tradição não falava em arranjar namorada, pressuposto de que homem não tinha dificuldade nesse assunto. Me engana que eu gosto.

Quem precisava de ajuda para conseguir um namorado acordava cedo na véspera do Dia de Santo Antônio, 13 de junho, para fazer simpatias para o santo. A véspera era a data ideal, a fim de, no dia 13, que era o da festa, das fogueiras, de foguetório, de bandeirinhas, de quadrilhas e de quermesse, a pessoa já ter as coisas encaminhadas. Em algumas cidades do miolo de Minas Gerais, minha origem, acendia- se a fogueira no dia 12, porque uma das simpatias era a moça pular a fogueira três vezes. A fogueira devia ter a base quadrada, a de São João era redonda, a de São Pedro, triangular. Preciosismos.

Festas por toda parte no mês. O frio ajudava, favorecendo fogueiras, bebidas, comidas e corações quentes. Todos os anos, artistas populares compunham, especialmente para as festas, canções animadas no arrasta-pé para facilitar abraços, na época chamados de dança. O duelo de canções acontecia exatamente como no Carnaval, e até os compositores eram os mesmos. A mais divertida, na voz moleca de Carmen Miranda, com autoria de Lamartine Babo, dizia: “Eu pedi numa oração / Ao querido São João / Que me desse um matrimônio! / São João disse que não! / São João disse que não! / Isto é lá com Santo Antônio!”.

Por que esse santo, e não outro? É uma longa história portuguesa, com muitas histórias entremeadas. A mais bonitinha diz que uma jovem muito pobre, para não ter de se prostituir, recorreu ao santo pedindo um dote, pois sem dote ninguém se casava naqueles séculos, e Antônio fez aparecer nas mãos da moça um bilhete para o comerciante tal dizendo-lhe que entregasse a ela os escudos equivalentes ao peso do papel. O comerciante concordou, botou o bilhete num prato da balança e uma moeda no outro, mas o papel estranhamente pesava mais, e ele foi pondo moedas até equilibrar os pratos com 400 escudos, com os quais ela fez seu dote e se casou.

A lenda do santo casamenteiro cresceu, histórias como essa se espalharam, as simpatias para conseguir seu favor se multiplicaram, e aí está Antônio, com esse trabalhão nas costas.

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Junho era um mês de pequeno comércio, vendiam-se mixarias como foguetes, chapéus de palha, chita, bombinha, traque, espantacoió, amendoim, canjica, fubá, cachaça para quentão… Mês fraco para as grandes lojas. Em 6 de junho de 1948, a Galeria Paulista de Modas publicou no Estadão um anúncio de uma promoção especial: “Dia dos Namorados — 12 de junho”. O jornal carioca O Globo publicou dias depois, 10 de junho, outro anúncio de vendas especiais: “13 de junho — Dia de Santo Antônio — Dia dos Namorados”. Não era oficial. Vários países tinham, para isso, o 14 de fevereiro, Dia de São Valentim. Entramos na onda com um dia nosso, um santo de casa, ou quase isso, com tradição de acudir os sem-amor. No ano seguinte, 1949, um publicitário baiano, João Doria, da Standard Propaganda de São Paulo, bolou para as lojas Exposição Clipper um slogan que “colou” e marcou a data, 12 de junho, apoiada nacionalmente pela Federação do Comércio: “Não é só com beijos que se prova um amor”.

Setenta anos passados, o agrado virou obrigação. É o caso de revidar: não é só com presente que se prova um amor.

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