Carolina faz 1 ano. Tem um largo tempo para aprender, neste mundo que vamos complicando a cada geração, e tem pouca idade para ensinar, mas é o que ela faz com mais graça, sem a pretensão dos sabichões, com a leveza dos anjos. Carol tem reforçado no seu entorno de pessoas rodadas e experientes a importância das relações humanas amorosas. Não é pouca coisa. É o que toda criança ensina, apenas com o ser criança. Ela e os exércitos em fraldas ensinam os adultos:
A praticar a suavidade — nos toques, no volume da fala, no veludo dos passos, no impedir ações possivelmente desastrosas. Suavidade que, adultos, vamos perdendo no trato diário com nossos iguais, seres imperfeitos que somos, urgentes, desajeitados.
A esbanjar carinho, em geral, sem inibições, coisa que temos desleixado na aspereza da vida adulta, mãos e almas calosas.
A exercitar a paciência — para repetir e repetir e repetir, para absorver o erro alheio, porque o trato diário com a falha adulta nos torna impacientes com o erro, mas Carol e os exércitos em fraldas lembram a todos que o erro é um passo da aprendizagem.
A ajudar e a proteger. Ajudar a levantar, a alcançar, a chegar aonde está difícil, a fazer o que ainda não dá; proteger fragilidades — e perceber, ao ajudar, que há fragilidades adultas.
A assistir com renovado entusiasmo ao espetáculo da natureza, que chama a atenção da criança para a beleza roxa de uma flor, o barulhinho molhado de uma fonte, o pio escondido de um pássaro, a graça vira e volta de um macaco.
A perder nojos: o de comer o pedaço babujado que ela nos enfia pela boca, o de tocar na fralda pesada de surpresas, o do leite regurgitado no peito da camisa, tudo para que ela sinta e saiba que a aceitamos toda.
+ Crônica: Conversa de celular
A perder a vergonha de parecermos ridículos nos gestos apalhaçados para provocar risadas da criaturinha, nas caretas, nas momices, na fala tatibitate que tenta facilitar a compreensão e na verdade a complica, na cantoria em falsete e no relato para os amigos das graças cuja graça esbarra em nosso desajeito.
A mudar a relação ansiosa que temos com os ponteiros do relógio, e então o inadiável se torna um não é bem isso, compromissos perdem a urgência a fim de acomodarmos a prioridade amorosa, a hora sagrada de dormirmos passa a ser a hora em que conseguimos dormir, numa boa.
A acordar o atleta que dorme insuspeito nas nossas juntas travadas, convocados que somos a participar dos jogos olímpicos para pais e bebês, nas modalidades rolar na grama, cavalinho na areia, levantamento de pouco peso, impulso de balanço, corrida à chegada do escorregador, carga gostosa nos ombros e mergulho em piscina de bolinhas.
A caprichar ainda mais na aparência, essa coisa habitual de barba feita, pilates, cremes, sobrancelhas, unhas, doses de sol, para nos sentirmos tão bonitos quanto ela, tão linda; e isso, ai ai ai, aumenta a libido, mexe com os ritmos de andar, o balanço, eta mundo bom!
E, acima de tudo, nossa filha Carolina e os exércitos em fraldas nos estimulam a reacender sonhos adormecidos, repor esperanças, confiar que o mau momento vai passar, preparar o campo, semear, e isso nos torna sócios do futuro que procuramos construir para eles, cuidando do que é possível, da saúde, das finanças e do caráter.