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Cortiço na Oscar Freire: sem-teto ocupam apartamento cobiçado

Vizinhos do imóvel no Jardins reclamam de algazarra e sujeira

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h22 - Publicado em 18 set 2009, 20h34

Construído na década de 50, o edifício de quatro andares fica em uma área valorizadíssima. Ali, o metro quadrado de um empreendimento recém-lançado pode chegar a 4.500 reais. Esse preço cai para 2.000 reais quando o imóvel é mais antigo, caso do condomínio da Peixoto Gomide. Seus apartamentos, que variam entre 90 e 121 metros quadrados, estão cotados em, no máximo, 240.000 reais cada um. De acordo com Miranda, seus clientes não pretendem vendê-los por menos de 400.000 reais. “Estaria disposto a pagar até 200.000 reais, mas não fiz nenhuma oferta, porque não tenho pressa”, afirma Moreira, que nega ter usado os sem-teto para pressionar os vizinhos. Garante que eles só estão ali para evitar invasões de verdade: “Dou casa e, em troca, eles me ajudam a coibir ocupações”. O advogado Miranda estuda entrar na Justiça contra a Santa Alice, pedindo ressarcimento por danos. Seu argumento é que o síndico, indicado pelo proprietário majoritário, não conserva o edifício como deveria, desrespeitando o Código Civil. O empresário Moreira promete tomar outras medidas. “Vou colocar seguranças e um zelador, além de fazer algumas melhorias”, diz. “Vamos ver se eles agüentarão pagar mais pelo condomínio.” A mudança dos sem-teto trouxe transtornos também para a vizinhança. “O pessoal faz algazarra à noite e pede comida de graça, o que constrange os clientes”, afirma Silvana Elmazi, gerente do restaurante Espaço Árabe. Muitos dos hóspedes de Moreira foram convocados na rua. “Eu olhava carros na Oscar Freire e dormia por ali mesmo, quando um senhor me ofereceu um teto”, conta o ex-serralheiro Carlos Vicente, que se instalou em novembro do ano passado num dos três quartos com a mulher, o filho de 1 mês e uma TV de 14 polegadas. Hoje, sete famílias espalham seus colchões surrados e mudas de roupas pelos oito cômodos do apartamento 32, com paredes pichadas e manchadas pela sujeira. Não há chuveiro (apenas um cano de onde jorra água) nem mobília, mas os novos moradores não querem outra vida. “Adoro os Jardins. Aqui é cheio de gente bonita e ainda estou perto do meu trabalho”, comemora Tiago Aparecido da Silva, guardador de carros em frente ao Suplicy Cafés Especiais, na Alameda Lorena. “Para quem não tem nada, estamos no lucro”, diz o catador Davi, enquanto empurra sua carrocinha pela Oscar Freire.

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