Prefeitura quer instalar mais cinco corredores verdes na capital
Depois de inaugurar o da Avenida 23 de Maio, projetos do gênero podem se entender para as marginais e Radial Leste
Um jardim vertical lotado de samambaias, além de temperos como manjericão, alecrim e orégano, está exposto na Avenida 23 de Maio desde sábado (5). O corredor verde tem 10 950 metros quadrados de área e quase 6 quilômetros de extensão. Começa no Viaduto Tutoia e termina no Jaceguai. São 250 000 mudas montadas em uma placa de 163,7 toneladas.
O paredão de plantas surgiu para cobrir o cinza da paisagem daquela via, depois que a operação Cidade Linda apagou quase todos os grafites dos setenta muros. Só permaneceram sete pinturas. Na época, João Doria prometeu que o muro não ficaria daquela forma por muito tempo. Coube ao paisagista Guil Blanche, CEO do Movimento 90º, especializado em projetos dessa espécie, tirar a ideia do papel.
A Tishman Speyer, empresa do mercado imobiliário, bancou o negócio, estimado em 9,7 milhões de reais, e também se comprometeu a cuidar da manutenção anual, no valor de 137 500 reais, até 2020.
A primeira grande iniciativa desse tipo na capital surgiu em 2015, no Minhocão. O trabalho também foi financiado pela Tishman Speyer, em conjunto com as construtoras Max Haus e WTorre, que investiram um total de 3,7 milhões de reais para instalar um mural de plantas em sete prédios do entorno.
“Além de ele melhorar a paisagem, muitos moradores dizem que os apartamentos ficaram menos barulhentos e mais frescos”, elogia Cristiane Andreatta, coordenadora da associação Conselho Gestor do Parque Minhocão. Há críticas também. “Alguns síndicos reclamam de mosquitos e infiltrações”, diz Francisco Machado, vice-presidente da Coordenadoria Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança (Conseg) de Santa Cecília.
Doria afirma que haverá novos jardins verticais pela metrópole. “As iniciativas serão bancadas por doações”, diz. Ele não revela detalhes, mas, nos bastidores, sabe-se que há cinco projetos em andamento, ainda sem data de implantação. A prefeitura tem conversado com alguns escritórios de paisagismo sobre a execução e ainda negocia com empresas para fechar uma parceria.
O primeiro seria um parapeito formado por trepadeiras na pista do Minhocão, a um valor estimado em 3 milhões de reais. Outro, um jardim na parte de baixo do viaduto, de 12 milhões de reais. Doze pontes das marginais Pinheiros e Tietê seriam cobertas com plantas, numa área total de 12 000 metros quadrados, e os muros do Aeroporto de Congonhas virariam um corredor verde.
A ideia mais ambiciosa, entretanto, é uma obra que se estenderia por 26 500 metros quadrados da Radial Leste, a 23,6 milhões de reais.
Além do poder público, empresas privadas vêm investindo no negócio desde 2010. Com isso, há hoje cerca de 100 paredes verdes na cidade, boa parte das quais fica na região dos Jardins. Entre elas está a obra do Hospital Sírio-Libanês, na Bela Vista, uma das maiores no país, inaugurada em 2015. São quase 1 000 metros quadrados de área, que abrigam 80 000 plantas de 42 espécies na fachada.
Outros murais de destaque são o da Fiesp, na Alameda Santos, e o do HCor, no Paraíso. A tendência começou na França, com o botânico Patrick Blanc, que cobriu o Museum of Science and Industry em 1988. Depois, surgiu em países como Estados Unidos e Singapura.
Um dos projetos mais icônicos do mundo atualmente é a floresta Bosco Verticale, criada em 2014 por Stefano Boeri, em Milão, na Itália. São duas torres de 112 e 80 metros de altura, com varandas externas tomadas por árvores de médio porte e arbustos.
Naquele mesmo ano, o projeto ganhou na Alemanha o International Highrise Award, considerado o Nobel da arquitetura dedicada aos arranha- céus, por “proporcionar uma simbiose entre homem e natureza em plena metrópole”.
Alguns ativistas criticam esse tipo de construção como contrapartida ambiental. “A árvore absorve 300 vezes mais gás carbônico que a mesma metragem de um jardim vertical”, afirma Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP. O ambientalista Ricardo Cardim ressalta o alto custo de implantação: uma muda sai por cerca de 300 reais, enquanto o metro quadrado do mural, por quase 900 reais.
Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, por sua vez, é a favor do método. Segundo ele, trata-se de uma medida que ajuda a repor o desmatamento e a resfriar a capital. “As ilhas de calor causam mortalidade precoce por problemas cardíacos. Por ora, os vizinhos do Minhocão e do novo corredor terão esse risco diminuído.”
“Paredões” em fase de projeto
Parapeito Minhocão: a ideia é fazer uma barreira formada por trepadeiras na pista do viaduto.
Marquise Minhocão: a parte de baixo também receberia um jardim em toda a sua extensão.
Radial Leste: trata-se de um corredor nos mesmos moldes da 23 de Maio, que se estenderia por 26 500 metros quadrados da via.
Marginais Pinheiros e Tietê: doze pontes seriam cobertas com plantas, numa área total de 12 000 metros quadrados.
Aeroporto de Congonhas: 3 000 metros quadrados de muros virariam um corredor verde.