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Corinthians: Rebolo, o craque dos pincéis

Ex-ponta-direita que virou pintor, Francisco Rebolo Gonsales é o autor do emblema definitivo do Corinthians

Por Luís Patriani
Atualizado em 5 dez 2016, 18h50 - Publicado em 30 abr 2010, 21h07

Em meados da década de 30, o Sport Club Corinthians Paulista já era considerado o time do povo e, apesar de jovem, ostentava vários troféus em suas prateleiras. Seu emblema, no entanto, formado pela bandeira do estado de São Paulo dentro de um círculo, carecia de personalidade. Também era incapaz de representar as aspirações de grandeza da agremiação. É quando entra em campo o ex-ponta-direita Francisco Rebolo Gonsales (1902-1980), um dos ídolos do clube entre 1922 e 1927. Após ter trocado as chuteiras pelos pincéis, Formiguinha — como era conhecido, por causa de seu 1,60 metro — se incumbe de incrementar o escudo corintiano. Adiciona- lhe remos e uma âncora, referência aos esportes aquáticos praticados na época no Parque São Jorge. Surge a marca registrada do Timão.

Nascido no bairro da Mooca, esse filho de imigrantes espanhóis deixou o futebol em 1934. Alugou uma das salas do Palacete Santa Helena, na Praça da Sé, e deu seguimento à sua até então despretensiosa carreira artística. Pouco tempo depois, o edifício, demolido nos anos 70 para a construção do metrô, emprestaria seu nome ao grupo artístico Santa Helena. A equipe, formada também pelos pintores Mário Zanini, Aldo Bonadei, Clóvis Graciano, Fúlvio Penacchi, Manuel Martins, Humberto Rosa e Alfredo Volpi, tem em comum a origem humilde e ligada à imigração, o ofício de decorador de parede, a vocação autodidata e a repulsa pelo academicismo. Contrapõe-se à erudição e à intelectualidade exacerbada da primeira fase modernista no Brasil. Apesar de não se alinharem à ousadia estética das correntes mais avançadas, os quadros do ex-futebolista se destacavam pela técnica, lirismo e singeleza traduzidos na sua pintura de matizes e atmosferas, principalmente das paisagens naturais, representações dos subúrbios e naturezas-mortas. Formiguinha era o mestre do meio-tom.

“Rebolo retratou como ninguém os contrastes da vida urbana e seus arredores, aquela época predominantemente rurais”, conta Olívio Tavares de Araújo, crítico de arte e autor do prefácio do livro ‘Rebolo — 100 Anos’, lançado em comemoração ao centenário de seu nascimento. “Ele se expressava de forma intuitiva e tinha uma sensibilidade muito delicada para captar a emoção do cotidiano.” Sua ascensão foi meteórica. Dois anos após o início da carreira de pintor, ganhou a medalha de ouro do IV Salão Paulista de Belas Artes e a medalha de bronze no Salão Nacional de Belas Artes. Em 1954, consagra-se com o prêmio concedido pelo 3º Salão de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Passa então dois anos na Europa, visitando museus, pesquisando e pintando. A experiência revigora e transforma a sua criação, que fica mais estrutural e geométrica, mas sem perder a originalidade e a capacidade de emocionar. “Nos últimos anos de vida, Rebolo atingiu a simplicidade plena”, afirma Tavares de Araújo. “Ninguém na arte brasileira consegue dizer tanto com tão pouco.”

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