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Corinthians: cadê o nosso estádio?

Há quase sessenta anos o time de maior torcida do estado sonha em ter uma arena à altura de sua história e importância

Por Henrique Skujis
Atualizado em 5 dez 2016, 18h50 - Publicado em 30 abr 2010, 21h11

Aos 100 anos de idade, o Corinthians ainda não tem uma casa própria da qual possa se orgulhar. Sim, a Fazendinha, inaugurada em julho de 1928 em um terreno comprado por 2 800 contos de réis do Esporte Clube Sírio, mora no coração da torcida e tem valor histórico inestimável. Mas sua capacidade — 18 000 lugares — não lhe confere alvará nem sequer para receber jogos do Campeonato Paulista. Haverá quem diga que estádio não faz falta. Times como Milan e Internazionale, da Itália, também não têm. Além disso, o Pacaembu sempre foi o lar dos jogos do time na capital. Um lar doce, mas não próprio. Por isso, quem veste a faixa de presidente do clube sempre trata de tirar da manga um plano infalível para erguer a sonhada arena. Nos últimos meses, por exemplo, duas ideias mirabolantes vieram à tona. Uma delas foi a construção do estádio no terreno onde hoje está o parque de diversões Playcenter, na Marginal Tietê. Dias depois, Andrés Navarro Sanchez, presidente do Corinthians, não confirmou nem negou a intenção de convidar o arquirrival Palmeiras para tocar a obra em conjunto. “O sonho está próximo”, chegou a declarar o dirigente. Mas, como tudo o que foi dito sobre o assunto até hoje nunca virou verdade, é prudente não estourar o rojão. Em 2007, com o time recém-chegado à segunda divisão, Sanches havia prometido a arena para 2010. “Será um boom no nosso centenário”, disse à época. Naquele ano, quatro projetos tramitavam entre os conselheiros do Parque São Jorge.

A citação mais antiga desse desejo na história do clube data de 1953 — um ano após o São Paulo ter anunciado o início da construção do Morumbi. O editorial da revista ‘Corinthians’, órgão oficial do clube, afirmava: “Nosso campo, sejamos sinceros, não está à altura do Corinthians. É inadiável a construção de um estádio de verdade, do qual possamos nos orgulhar”. O texto dizia ainda que “uma equipe de engenheiros, trabalhando graciosamente, dará início brevemente aos estudos do nosso futuro e espetacular estádio”. Pouco mais de uma década depois, Wadih Helu, presidente do clube entre 1961 e 1971, apresentou o projeto de uma arena coberta. Mais tarde, afirmou que compraria o Pacaembu. Finalmente, lançou uma campanha de venda de carnês com o objetivo de arrecadar recursos para a construção do Corinthião, um estádio com capacidade para 133 500 pessoas. 

Paulo Liebert

A velha Fazendinha tem capacidade para 18 000 pessoas

Nos anos 70, a era Vicente Matheus, um dos mais longevos presidentes do Corinthians, deu à luz dois novos projetos. O primeiro deles, de 1975, previa a construção de um novo estádio onde está a Fazendinha, para 120 000 torcedores. Tornou-se página virada quando o próprio Matheus veio com a ideia de erguer uma arena ainda maior, com capacidade para 200 000 pessoas, em Itaquera. O terreno chegou a ser cedido pela prefeitura e entregue em solenidade no Parque São Jorge, com a presença do então presidente da República, Ernesto Geisel, e de seu sucessor, João Figueiredo. Para o jogo de inauguração, já marcado para 1982, sonhava-se encarar a seleção campeã da Copa da Espanha.

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Durante a Democracia Corintiana, entre 1981 e 1985, o plano do presidente Waldemar Pires foi mais modesto: cobrir o Parque São Jorge e elevar sua capacidade para 41 000 lugares. Craque do time na época, Sócrates chegou a fazer propaganda do lançamento da pedra fundamental do estádio em anúncio veiculado na Rede Globo, que apoiava a iniciativa. Com a derrota de Adilson Monteiro Alves, candidato de Pires, nas eleições e a venda de Sócrates para a Fiorentina, a Fazendinha continuou a mesma. Vale lembrar que, ao longo da história, o pequeno campo à beira do Rio Tietê chegou a ser utilizado para jogos oficiais. Com um retrospecto bastante positivo: foram 469 partidas, 347 vitórias, sessenta empates e 62 derrotas.

Quando Alberto Dualibi era presidente, entre 1993 e 2007, o sonho “quase” virou realidade. A parceria com o Banco Excel, em meados da década de 90, previa a construção de um estádio às margens da Rodovia dos Bandeirantes ou da Ayrton Senna. A Dersa teria vetado o projeto. Em 1999, numa sociedade com o fundo de investimentos texano Hicks, Muse, Tate & Furst (HMTF), o endereço mudou para as imediações da Rodovia Raposo Tavares, no quilômetro 18,5. Cerca de 60 milhões de dólares seriam destinados para a construção de uma arena coberta para 45 000 pessoas. Ela contaria com restaurante, bares temáticos, lojas e museu. “A crise econômica na Argentina, no começo dos anos 2000, tirou o HMTF do Brasil, e a parceria terminou”, justifica Roque Citadini, então diretor de futebol do clube.

Na terceira sociedade da gestão Dualibi, com a Media Sports Investments (MSI), o iraniano Kia Jorabichian, homem forte do fundo de investimentos do enroladíssimo magnata russo Boris Berezovski, almejava comprar o Pacaembu. Logo mudou de ideia e prometeu um estádio semelhante ao do Sporting, de Lisboa, com capacidade para 55 000 pessoas, shopping center e estrutura para receber shows. “Não é apenas promessa”, afirmou Jorabichian. “É o nosso próximo passo.” Pouco antes da Copa do Mundo de 2006, quando as investigações sobre a nebulosa parceria Corinthians/MSI decolaram, o dirigente se mandou para a Europa e nunca mais voltou. Por causa da ligação com o iraniano, Dualibi caiu, e o estádio, mais uma vez, virou fumaça.

+ Confira todas as matérias do especial ‘Corinthians: Uma Paixão que se Renova’

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