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Como é o treinamento da PM para atuar nos estádios paulistanos

Selvageria das torcidas organizadas: soldados só sacam seus cassetetes com ordens superiores e precisam manter a calma mesmo quando provocados

Por Fábio Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h31 - Publicado em 18 set 2009, 20h27

Os gols, as jogadas e o desempenho dos atletas ficaram em segundo plano nos dois últimos clássicos do Campeonato Paulista disputados na capital. Cenas dos confrontos entre torcidas organizadas e policiais dominaram o noticiário. Depois do empate entre Corinthians e São Paulo, no dia 15 de fevereiro, bombas de gás tiveram de ser usadas para dispersar corintianos enfurecidos que passavam por um dos corredores do Morumbi. No domingo passado (22), a pancadaria começou na arquibancada do Pacaembu. Duas soldadas apanharam de santistas revoltados com a derrota diante do Corinthians e os policiais sacaram os cassetetes e os usaram para conter a multidão. Neste sábado (28), quando se enfrentam São Paulo e Palmeiras, no Morumbi, o clima tenso pode se repetir. Mudam os times, mas os responsáveis pela segurança dentro dos estádios são sempre os mesmos. Os 650 integrantes do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar pouco revezam nas escalas de trabalho. De 200 a 230 atuam nas partidas consideradas de risco. Em confrontos tidos como mais “tranquilos”, a média é de 100. O clube mandante, que tem o privilégio de definir o campo de jogo, paga 31,70 reais por PM destacado.

A rotina dos campeonatos, às vezes com três partidas disputadas simultaneamente, exige uma preparação específica. Em cada rodada, o comando do 2º Batalhão de Choque classifica o risco dos jogos, baseado numa escala de zero a 3 que considera sete itens (local, vias de acesso, horário, divulgação da mídia, estrutura do estádio, rivalidade e situação dos times no campeonato). Os clássicos – partidas entre Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, quase sempre no Morumbi, Pacaembu ou Parque Antarctica – recebem nível 3.

Os policiais treinam cada passo a ser dado nos estádios. Quem é posicionado na divisão de torcidas, por exemplo, não pode arredar pé, aconteça o que acontecer. Por isso, são escolhidos a dedo os mais resistentes a provocações. Quando observam alguma conduta perigosa, eles acionam por rádio outros soldados para não precisar abandonar o ponto de maior tensão na arquibancada. “Esses homens suportam forte pressão psicológica”, afirma o capitão Leandro Pavani, oficial de planejamento do 2º Batalhão. “São xingados e tornam-se alvo de objetos atirados contra eles o tempo todo, mas não podem se deslocar.” Em situações de confronto como a de domingo passado, os soldados dependem da ordem de um sargento ou oficial para sacar o cassetete e avançar contra a multidão. Após o ataque é feito um recuo de 2 ou 3 metros para facilitar a dispersão. “São dezenas contra centenas. Sem técnica não conseguiríamos manter a ordem”, diz Pavani. Segundo o comandante do batalhão, tenente-coronel Hervando Velozo, o confronto é sempre o último recurso. “No jogo entre Corinthians e Santos, com policiais femininas atacadas, a reação foi inevitável.” Mulheres representam 10% do efetivo usado nos jogos. Fazem revistas em torcedoras nas catracas e depois ajudam na segurança interna. Quando os bastões não resolvem, o segundo passo durante o conflito é lançar mão das bombas de gás ou de efeito moral, como na briga do dia 15 no Morumbi. O comandante Velozo, no entanto, ressalta que a orientação é evitar bombas no interior do estádio para não criar um tumulto generalizado. Poucos oficiais portam revólveres (com balas de borracha ou de verdade).

Tanto a polícia quanto o Ministério Público relacionam os tumultos no Morumbi e no Pacaembu ao descontentamento das torcidas organizadas com a redução das cotas de ingressos para os clubes visitantes. “A ação é orquestrada por líderes de torcida”, afirma o promotor Paulo Castilho, que defende a diminuição. “Assim, o trabalho da polícia no acesso ao estádio e mesmo nas arquibancadas fica mais fácil.” Pelo menos sete dos dez detidos na pancadaria do Pacaembu eram de organizadas, que praticam selvageria e espantam os torcedores comuns dos estádios. Uma das 76 câmeras de monitoramento permitiu a identificação.

200

PMs atuaram dentro do Pacaembu na partida entre Corinthians e Santos

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250

policiais cuidaram da segurança fora do estádio

650

homens é o efetivo total do 2º Batalhão de Choque

10

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soldados, no mínimo, são usados em cada área de divisão de torcidas 3

31,70

reais é quanto o clube mandante paga por PM destacado para a partida

10

torcedores do Santos foram detidos após a briga do último domingo

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