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Moradores investem em circuitos eletrônicos para vigiar as ruas

Vizinhos bancam câmeras de vigilância para inibir assaltos e outros problemas

Por Jussara Soares
Atualizado em 1 jun 2017, 17h15 - Publicado em 5 set 2014, 23h00
Frei Fonseca: até a paróquia entrou no circuito
Frei Fonseca: até a paróquia entrou no circuito (Fernando Moraes/)
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No trajeto de casa para o trabalho, um paulistano tem seus passos monitorados, em média, por quinze câmeras de vigilância. Essa estimativa é da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese). A entidade calcula que a cidade tenha cerca de 1,5 milhão de equipamentos do tipo, incluindo desde os aparelhos em muros de residências até os localizados em espaços públicos sob a responsabilidade da Polícia Militar, da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). A parafernália tende a aumentar nos próximos meses. Isso porque são cada vez mais comuns os casos de associações de moradores de bairros que se cotizam para investir em tecnologia com o objetivo de inibir assaltos e outros problemas. Ou seja, a população está bancando o custo da própria segurança.

O exemplo mais recente é o da Sociedade Amigos da Vila Madalena (Savima), na Zona Oeste, que planeja implantar ao longo dos próximos cinco anos 185 equipamentos de gravação no lugar. Estimado em 18 milhões de reais, o investimento será rateado entre comerciantes e empresas de segurança que atuam na região. “Já estávamos discutindo o assunto fazia tempo, mas os transtornos provocados pelo fluxo de pessoas durante o Carnaval e a Copa do Mundo foram a gota d’água e nos mostraram a necessidade de agir logo”, conta o presidente da Savima, Cassio Calazans.

As quatro primeiras câmeras devem começar a operar até o próximo mês. Elas serão colocadas nas imediações das ruas Aspicuelta e Wizard. Uma central de monitoramento está sendo montada nas redondezas. “Quando toda a estrutura estiver funcionando, serão necessários 120 000 reais por mês para mantê-la”, calcula o coordenador do projeto, Roberto Rocha.

Na área do 23º Distrito Policial, que engloba Perdizes e Pacaembu, onde foram registrados 1 286 roubos entre janeiro e julho deste ano (uma média de seis ocorrências por dia), várias vias adotaram esquema semelhante. A Rua Itapitangui tem dez câmeras, e a Itaperuna, onze (ambas são do Pacaembu). Há quatro meses, foi a vez de a Tefé, no mesmo bairro,  instalar oito equipamentos — seis deles afixados no alto das residências, para fazer uma cobertura ampla do local, e dois usados exclusivamente para filmar placas de automóveis.

 “Os carros que costumavam passar por aqui em alta velocidade agora andam mais devagar, e a sensação de segurança aumentou”, elogia o engenheiro Rodrigo Mauro, um dos vizinhos responsáveis pela iniciativa. Das 36 casas da Tefé, trinta aceitaram custear o valor de 15 000 reais do serviço contratado da empresa Câmeras JR. Quem entrou no rateio pode acessar atualmente as imagens pelo computador ou celular. Elas também ficam armazenadas em uma central.

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O Jardim Lusitânia, nas imediações do Parque do Ibirapuera, também faz parte da lista de regiões com esquema de “Big Brother”. Há um ano, o bairro adquiriu os oito primeiros equipamentos. No início, apenas quinze famílias toparam financiar a empreitada. Atualmente, já são vinte filmadoras e 55 participantes. Eles desembolsam taxas mensais de 148 reais pelo serviço que cobre o Largo da Batalha e as ruas Macau, Prestes João, Tejo e Gama. Até a Paróquia de Santo Ivo, que fica nessa área, entrou na “vaquinha”.  Responsável pela igreja, frei Rildo Fonseca de Lima diz que já não é possível deixar tudo somente a cargo da polícia. “A segurança tem de ser comunitária”, acredita.

 

Em 11 de maio, três dessas câmeras da Macau flagraram uma ação de bandidos em uma casa. Os ladrões arrombaram o local no meio da tarde e ficaram aguardando a chegada dos moradores, que foram feitos reféns. No trabalho de investigação do crime, a gravação foi solicitada pela polícia e mostra três homens chegando de carro e invadindo a residência. “O assalto aconteceu justamente em um trecho da via sem monitoramento.

Por isso, as imagens são de longe. Não conseguimos identificar a placa do automóvel utilizado na ação nem o rosto dos criminosos”, afirma a delegada Roberta Guerra Maransaldi, do 36º DP, responsável pelo caso. Depois dessa ocorrência, mais cinco moradores passaram a participar da vigilância monitorada e a Macau ganhou duas câmeras adicionais — exatamente nos pontos cegos da via.

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Empresa responsável pelo projeto do Jardim Lusitânia, a WL Segurança Eletrônica também instalou oito câmeras na Avenida Ceci e na Alameda Guaiases, no Planalto Paulista,na semana passada. Na central de monitoramento da companhia, quatro técnicos verificam as imagens das câmeras, que têm capacidade de aproximação de até 64 vezes. Com isso, é possível identificar um rosto com nitidez a uma distância de até 70 metros. Um software realiza uma ronda virtual a cada vinte minutos, trocando as imagens que aparecem nos televisores. “Se os técnicos veem algo suspeito, eles ligam imediatamente para a polícia”, explica Marcelo Lancelotti, sócio-diretor da WL.

Marcelo Lancelotti, da WL: central conectada à polícia
Marcelo Lancelotti, da WL: central conectada à polícia ()

A empreitada tecnológica exige um investimento alto. O custo médio de cada câmera é 2 500 reais. Por isso, segundo o coronel José Vicente Silva Filho, consultor em segurança pública, os aparelhos podem ser um bom recurso, mas deve ser avaliada a necessidade da região. “Deve-se tomar cuidado para que não vire um modismo sem finalidade”, alerta. “Há lugares como corredores comerciais e com problemas de criminalidade crônica que precisam do investimento, mas outros não”, completa. Oswaldo Oggiam, diretor da Abese, observa que a vigilância deve ser feita em parceria com a polícia. “O monitoramento das vias é uma tendência que cresce pela necessidade que o cidadão tem de se proteger. Mas a tecnologia isolada não resolve a questão”, ressalta.

Em Nova York, nos Estados Unidos, das 6 000 câmeras que integram a central de patrulhamento, cerca de 70% são da iniciativa privada. Aqui em São Paulo, o cenário ainda é bem diferente. O circuito de monitoramento tem apenas 130 câmeras da PM interligadas. Ou seja, a maior parte dos equipamentos instalados em nossas ruas não se comunica entre si. De acordo com o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, esse problema será corrigido em breve. “Faremos convênios para que as centrais comunitárias possam ceder imagens e integrar uma rede maior”, afirma.

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Ao mesmo tempo, o governo estadual está investindo para reforçar o número de câmeras de vigilância da PM. Até agora, a corporação conta com apenas 500 aparelhos para vigiar toda a cidade. “Estamos providenciando a compra de mais 600 até o fim deste ano”, promete Grella.

Espiões eletrônicos

Alguns dos principais dados do circuito instalado na metrópole

1,5 milhão

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Estimativa de câmeras existentes por aqui

150 000

Quantidade de equipamentos que estão na fachada de bancos, condomínios e pontos comerciais

500

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Número de aparelhos da Polícia Militar

383

Total de monitores da CET em vias públicas. Além disso, o órgão fiscaliza o trânsito com a ajuda de 400 radares

Manual de Instruções

Cuidados ao recorrer aos vigias eletrônicos

> Empresas: Consulte se elas são regularizadas e peça referências no mercado. A Abese tem um cadastro

> Polícia: Informe à Polícia Militar sobre o projeto e peça sugestão sobre a localização das câmeras

> Necessidade: O monitoramento de ruas está na moda, mas nem todas precisam do serviço. Avalie o índice de criminalidade do bairro antes de investir

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