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Cinco morrem em acidente de trânsito

Meninas se divertiram, beberam e morreram estupidamente na contramão

Por Edison Veiga e Fabio Brisolla
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

Foi em Caraguatatuba que a estudante Narel Pereira de Moura, de 17 anos, se divertiu no último Carnaval com um grupo de amigas. Ali, conheceu a professora Karen Cristina Pereira. A amizade-relâmpago resultou num convite para Narel e sua turma: Karen ia comemorar seu 26º aniversário com um churrasco num condomínio em Mogi das Cruzes, onde mora com os pais. As meninas adoraram a idéia e chegaram a trocar recados ansiosos pela internet sobre a festa, que reuniu cerca de trinta pessoas no último domingo (10). Por volta das 8 da manhã, Narel e seis amigas seguiram de Santo André para Mogi das Cruzes num Fiat Siena prata. A agente de viagens Liliane Assunção Miguel, de 28 anos, dirigia o veículo. À beira da piscina, passaram o dia jogando conversa fora e bebendo cerveja. Perto das 6 da tarde quiseram deixar o lugar. “A mãe da aniversariante me disse que nessa hora sugeriu a elas que tomassem um banho e jantassem antes de sair, já que não tinham condições de pegar o carro”, conta a dona-de-casa Cilene Pereira da Silva, mãe de Narel. Elas teriam acatado a idéia e saído de lá duas horas mais tarde. Logo após passarem pelo portão 2 do condomínio, aconteceu o pior. O Siena entrou na contramão na Estrada de Itapeti e bateu de frente com um caminhão Mercedes-Benz LS1525 vermelho. Das sete ocupantes do veículo, cinco morreram.

Como é praxe em acidentes de trânsito, os legistas do Instituto Médico-Legal de Mogi das Cruzes retiraram amostras do sangue das vítimas para exame de dosagem alcoólica. “Ouvi três pessoas que estavam na festa e todas afirmaram que elas beberam socialmente”, afirma o delegado Jorge Luís Esteves, responsável por apurar o inquérito de homicídio culposo (em que não há intenção de matar). “Como o termo socialmente é muito vago, temos de esperar o laudo técnico, que será concluído em trinta dias.”

Amigos das meninas confirmaram que elas costumavam ingerir bebidas alcoólicas quando saíam para badalar – com exceção da vendedora evangélica Suelen Silva Ferreira, de 24 anos. “Íamos sempre a festas juntas”, diz a vendedora Rafaela Nunes, que conhecia todas as ocupantes do Siena. “A Liliane era a motorista ‘oficial’ da turma, por ser a única que tinha carro disponível. Ela também bebia, mas era cuidadosa na hora de voltarmos.”

A associação entre álcool, direção e certeza de impunidade é explosiva – em média, 25 000 pessoas morrem todos os anos no país em desastres provocados por motoristas que beberam demais. A lei diz que qualquer motorista que tenha mais de 0,6 grama de álcool por litro de sangue está embriagado e pode ser preso. “Isso equivale a duas latas de cerveja, ou uma dose de uísque”, explica o médico Sergio Duailibi, especialista em dependência química da Universidade Federal de São Paulo. Com esse nível de álcool no sangue, o condutor perde a noção de distância, não é capaz de distinguir a velocidade correta, fica com os reflexos mais lentos e torna-se mais propenso a cometer infrações.

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Pesquisas recorrentes sobre o tema apresentam resultados assustadores. Em outubro, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia ouviu 1 034 pessoas entre 18 e 30 anos no Rio de Janeiro e em São Paulo. A maioria admitiu que costuma dirigir após tomar bebida alcoólica – 26% afirmaram que isso ocorre sempre e 31% disseram “muitas vezes”. De acordo com o levantamento do Ibope em parceria com o Programa Volvo de Segurança no Trânsito realizado em abril do ano passado, 83% dos 1 000 motoristas entrevistados (170 na capital) com até 25 anos dizem que já dirigiram alcoolizados. A algazarra dos passageiros no carro é outra agravante, já que também desvia a concentração do motorista. Segundo estudos da Universidade de Waterloo, no Canadá, jovens que transportam dois ou mais caronas correm cinco vezes mais risco de sofrer um acidente fatal, caso do Siena em que estavam as sete amigas.

A julgar pelo estado em que ficou o carro, a sobrevivência das vendedoras Tamires Gomes Navarro e Jessika Zopolato Mendes é quase milagrosa. Ambas estavam no banco de trás. Tamires sofreu trauma abdominal, luxação no ombro esquerdo, fratura no cotovelo direito e traumatismo craniano leve. Jessika teve a bacia e os membros inferiores fraturados. Até quinta-feira passada, elas ainda não sabiam da morte das companheiras de churrasco.

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