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A trajetória do CEO de empresa de intercâmbio que teve inglês pago por tio

Nascido na Zona Leste, Eduardo Santos transformou negócio em época de pandemia

Por Pedro Carvalho
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h22 - Publicado em 15 out 2021, 06h00
A imagem mostra Eduardo Santos sentado em uma mesa, com roupa social. Ao fundo, é possível ver o topo de outros prédios pelas janelas da sala.
Estratégia de emergência: 62 000 cursos de graça no país (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Aos 15 anos, Eduardo Santos recebeu uma notícia dura. Aspirante a meio-campista do time juvenil da Portuguesa Santista, ao final de um treino ele ouviu dos pais: “O dinheiro acabou”. A família, moradora de Cidade Patriarca, na Zona Leste, não poderia mais bancar aquele sonho de ser jogador de futebol — e o jovem iria trabalhar para ajudar nas contas. Nos dias seguintes, em meio a um turbilhão de sentimentos ruins, uma novidade mudaria a rotina — e o futuro — do rapaz.

Um tio que morava no bairro resolveu pagar um curso de inglês para ele, em uma unidade da Fisk, por 84 reais por mês. “Era bastante dinheiro para nossa realidade”, lembra Eduardo, agora aos 34 anos e CEO da divisão brasileira de uma multinacional de ensino de idiomas e intercâmbio, a Education First (ou EF), empresa de origem sueca com mais de 52 000 funcionários pelo mundo.

Eduardo se tornaria o primeiro da família a concluir o ensino superior — não na área de idiomas, mas na de tecnologia. Ascendeu rapidamente nesse mercado e atuou em empresas como a Tivit e parceiras da Microsoft. “Ter passado sete anos naquele cursinho de inglês foi fundamental. Muitas vezes eu não era o melhor da equipe, mas me comunicava bem em outro idioma”, ele diz. “Eu ia a reuniões na Faria Lima e pensava: ‘Antes dos 30 anos vou virar presidente de uma empresa dessas’”. Em 2018, aos 30, chegou ao topo da EF no país.

O longuíssimo, quase intransponível, caminho que separa um jovem negro nascido em Cidade Patriarca de uma cadeira de CEO fora superado. Mas o jogo não estava ganho para o quase craque de futebol. Ocorre que o principal negócio da marca, responsável por 53% do faturamento global, eram os cursos de intercâmbio. Na pandemia, não somente esse produto deixou de existir como a empresa precisou devolver o dinheiro de quem não poderia viajar.

Os executivos, então, tomaram uma decisão inovadora. “Passamos a dar de graça nossos cursos de inglês on-line. Como as pessoas teriam de ficar em casa, estudariam pela internet”, diz Eduardo. “Doamos 62 000 cursos no Brasil.” Não era apenas altruísmo. A estratégia turbinou a área de ensino on-line da EF, até então secundária. Empresas que usaram a plataforma de graça no período decidiram agora pagar para seguir oferecendo o conteúdo aos funcionários. Marcas como Coca-Cola, Bradesco e Sodexo viraram clientes. E o faturamento ficou 45% maior do que na pré-pandemia.

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“Não moro mais em Cidade Patriarca, mas não me esqueço de quem ficou no bairro”, ele conta. “Muitos dali eram melhores do que eu, mas não tiveram um tio que pudesse pagar um curso para eles”, conclui.

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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760

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