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Cartões-postais da cidade são “espanta turista”

Apesar da importância do turismo, marcos paulistanos têm acesso difícil, sujeira e iluminação e infraestrutura precárias

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 out 2019, 18h27 - Publicado em 4 out 2019, 06h00

No último fim de semana, o evento SP na Rua terminou com um saldo amargo para comerciantes e moradores do centro: pichações tomaram parte das fachadas da Galeria do Rock, do Sesc 24 de Maio e também de uma unidade do Senac. O episódio evidenciou que, para valorizar o patrimônio de uma região, colocá-la na rota do turismo e do lazer e trazer mais receitas para a cidade, os desafios vão bem além de fazer crescer o número de visitantes esporádicos. “Um grande desafio é a educação do público”, diz o secretario municipal de turismo, Orlando Faria. Para receber quem vem de fora, a experiência ainda tem muito que melhorar. “Há infraestrutura, mas às vezes falta limpeza e segurança.”

Entre os cartões-postais que sofrem com o acúmulo de lixo e falta de mobiliário urbano estão a Estação da Luz e o Monumento às Bandeiras. Outros são praticamente isolados para quem quiser dar uma voltinha a pé, como o Mercado Municipal. Em regiões como a Praça da Sé, a questão é agravada com o aumento da população em situação de rua. A resolução passa longe de qualquer ação cosmética. “A mudança tem de visar a quem passa lá todo dia”, defende a pesquisadora de turismo urbano, Mariana Aldrigui. Um negócio que merece prioridade. Os turistas gastam na cidade 13 bilhões de reais por ano. Apenas 17% dos visitantes (2,7 milhões) são estrangeiros, especialmente de curta estadia, que vêm a trabalho. Buenos Aires recebe quase o dobro.

Mazelas da Sé

Um dos mais importantes pontos turísticos paulistanos, a Praça da Sé funciona como um espelho de alguns dos problemas sociais mais graves que assolam a cidade. O Movimento Estadual da População em Situação de Rua contabiliza 32 600 pessoas nessa condição. Em 2015, o número era menos da metade do atual. Centenas delas se aglomeram na praça em busca de doações ou de um banho. “As fontes de água são usadas para higienização. Uma solução seria instalar mais banheiros públicos ali”, afirma Darcy da Silva Costa, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua. O comércio ilegal e o uso de drogas são outros desafios a ser vencidos no marco zero da cidade. A iluminação à noite nas ruas transversais é precária, e faltam estabelecimentos abertos para o turista persistente.

O lixo tomou conta da Praça da Luz (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Lixo na Luz

Em pleno Bom Retiro, recentemente eleito o 25º bairro mais cool do mundo pela revista britânica Time Out, a Estação da Luz não é nada descolada além dos muros. O acúmulo de lixo é frequente por ali. “Os usuários de drogas remexem os sacos”, afirma um morador e comerciante da região, que preferiu ficar no anonimato por medo da violência. O clima de insegurança alcança também a vizinha Pinacoteca. Visitantes se organizam para sair em comboio do metrô. “Já ajudei muito trabalhador que ia ter a bolsa e a carteira roubadas”, diz.

Zona de comércio em São Paulo, Mercado Municipal não tem calçadas (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Pedestre sem vez

Reformas e promessas de melhorar o Mercado Municipal parecem só dar importância ao prédio e seu interior, ignorando o abandonado entorno. Quem sai da construção de 1933, na Avenida do Estado, vê uma calçada estreita e rachada, ocupada por lixo, e acaba caminhando na pista, junto aos carros. Ao lado, o agonizante Rio Tamanduateí lembra o que poderia ser uma bela paisagem.

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Quem visita o Pico do Jaraguá precisa levar o lanche de casa ou comprar no mercado informal (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Lanche zero

Localizado na Zona Norte, a 1 135 metros de altura, o Pico do Jaraguá atrai turmas de aventureiros e curiosos. Quem fica com uma fominha antes ou depois da selfie com a cidade ao fundo não encontra nenhuma oferta gastronômica no meio da semana: as duas lanchonetes estão desativadas. Nos fins de semana, a falta de opção é suprida pelo comércio informal de ambulantes.

Reforma no Museu do Ipiranga ainda não é atrativo para o parque (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Parque isolado

Enquanto a promessa de reabertura do Museu do Ipiranga em 2022 não é concretizada, o Parque da Independência vive um tanto isolado. Em 2018, por exemplo, 1,5 milhão de pessoas passaram por lá (no Ibirapuera, foram 14,4 milhões). Para chegar de metrô, é preciso desembarcar na estação Santos-Imigrantes e caminhar mais de vinte minutos. Para chegar perto do Monumento à Independência (1922), onde bitucas de cigarro emporcalham o mausoléu, o visitante enfrenta um calçamento repleto de rachaduras. Não há lanchonetes nem bancos ao redor.

Sem coberturas e pontos de apoio, Praça Roosevelt é um deserto (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Sob chuva e sol

Destino boêmio longevo, a Praça Roosevelt está longe de ser receptiva aos visitantes diurnos em dias de sol intenso ou chuva. Não há abrigo além do pergolado na lateral nem cobertura de madeira nos bancos. A instalação de um café em 2017 foi um avanço, mas o presidente da associação de moradores, Fernando Mazzarolo, aponta a falta de banheiros químicos. “As pessoas dependem da boa vontade dos bares”, diz ele.

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Promessa de muitos governantes, o Rio Pinheiros incomoda quem transita na Marginal (Alexandre Battibugli/Veja SP)

De nariz fechado

Quem passa na Marginal com o vidro do carro aberto já sabe: o deslumbramento com a pirâmide vazada da Ponte Estaiada não vence o desconforto do forte odor do Rio Pinheiros, que em pleno 2019 continua a receber esgoto doméstico. Em agosto, mais um programa de despoluição foi anunciado, agora pelo governador João Doria (PSDB). A promessa é que até 2022 o índice de poluição caia pela metade. Com a paisagem mais cheirosinha, uma pista exclusiva para que turistas possam observar o horizonte da capital não cairia mal.

A luta com a presença dos carros é um conflito para os visitantes (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Mar de carros

Acessar a pé o Monumento às Bandeiras (1953), de Victor Brecheret (1894-1955), em uma pequena praça perto do Parque Ibirapuera, é sentir-se numa versão urbana do profeta Moisés. Na travessia das duas faixas de pedestres, visitantes cortam um mar de carros nos engarrafamentos frequentes. Também não há bancos que convidem à contemplação da obra. O jeito é olhar rápido, tirar uma foto e ir embora.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 09 de outubro de 2019, edição nº 2655.

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