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Potencializados pelo confinamento, cresce busca por esportes em quadras de areia

Com o aumento da procura por atividades ao ar livre na capital, novas modalidades passaram a ser queridinhas do paulistanos, como beach tennis e futevôlei

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Fernanda Campos Almeida
25 jun 2021, 06h00

É como na praia. A turma chega, de chinelo e óculos escuros, deixa a mochila ao lado da rede, do guarda-sol ou em um banco próximo e cai dentro da quadra de areia para jogar vôlei, futevôlei ou, mais recentemente, uma variação do tênis. Ao fundo, o mar de prédios nos faz lembrar de que a paisagem em primeiro plano é artificial, assim como a areia branca e fininha, e criada para esportistas que não podem ou não querem descer a serra para praticar esportes típicos das regiões litorâneas.

Em tempos de pandemia, com academias ainda sem recuperar o fôlego de outros carnavais, devido aos fechamentos prolongados e pelo receio de muitos clientes de frequentar espaços confinados, a prática de atividades ao ar livre em São Paulo tem movimentado um setor e um público que escolheram um (não tão) novo esporte como queridinho da cidade, o tênis de praia, mais conhecido como beach tennis.

Criada na Itália nos anos 80, a modalidade foi exportada para o Rio de Janeiro na década seguinte, desembarcou em Santos logo depois e também subiu a serra, mas ficou restrita aos clubes esportivos. Agora, as quadras “avulsas” de areia espalhadas pela cidade cresceram 66%, passando de noventa para 150 em pouco mais de um ano. Um dos motivos do aumento do esporte é a facilidade do praticante em aprender os movimentos, ao contrário do futevôlei e do vôlei, que dependem mais de técnica e preparo físico.

“Mesmo para pessoas que não têm experiência esportiva, o beach tennis é fácil de aprender, pois é quase um frescobol com uma rede no meio”, afirma o italiano Alessandro Calbucci, 40, considerado o maior jogador de beach tennis do mundo pela Federação Internacional de Tênis. “Em duas semanas é possível aprender os primeiros fundamentos”, diz Calbucci, que mora no Rio de Janeiro e viaja constantemente a São Paulo para dar consultoria e promover workshops. Confira algumas dicas para iniciantes no final da matéria.

Um dos “discípulos” de Calbucci, o empresário Jorge Bauab vive do beach tennis e levou toda a família junto. Dono de oito quadras de areia na Arena Nacional, na Barra Funda, investiu 700 000 reais na construção de mais onze espaços de 8 por 16 metros, cada um composto de 60 toneladas de terra. O negócio é tocado por ele, a mulher, três filhos, uma nora e dois genros. Ali, todo mundo trabalha e joga junto.

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“O bom do esporte é que joga o gordo, joga o magro, joga pai, joga filho, todo mundo fica junto, ao contrário de outras modalidades”, diz Bauab, que possui sistema day use de sexta a domingo, a 40 reais por pessoa. No sábado (19), 81 atletas passaram o dia nos espaços da família Bauab, que vai construir mais arenas em Tamboré, bairro pertencente a Barueri, em uma área de 6 000 metros quadrados.

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A imagem mostra Jessica pulando no chão de areia para tentar buscar uma bola com a raquete
Jessica Bauab, na Arena Nacional: a família toda (Leo Martins/Veja SP)

Outro local que está para ser inaugurado fica na Mooca. Quem passa pelo número 3050 da Avenida Paes de Barros não imagina que atrás de um muro e em cima de uma garagem serão instaladas três quadras de areia suspensas. Ali, um desses espaços é voltado às crianças, que ficarão em uma espécie de “brinquedoteca” ao ar livre.

Responsável pelo entretenimento dos menores, o engenheiro agrônomo e estudante de educação física Laercio Pastore, o tio Laulau, é o idealizador de um projeto direcionado aos menores. Além das primeiras raquetadas, ele ensina as regras do jogo e códigos de ética esportiva. “Já levei meus cursos até uma tribo indígena chamada Rio Silveira, em Bertioga.”

A imagem mostra Lalau com outra criança em uma quadra de areia. Há uma rede entre eles, vários objetos de treinos espalhados fora da quadra e a criança está em posição de expectativa com sua raquete
Tio Laulau, na Mooca: atenção às crianças (Alexandre Battibugli/Veja SP)

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Enquanto uns focam na criançada, outros aceitam animais e apostam em eventos como forma de cativar a família toda. O Tatuapraia, no Tatuapé, possui passagem livre para pets (exceto dentro das quadras) e abre para as três modalidades de esporte de areia.

Um dos fundadores do local, o empresário Marco Junior quer atrair um público cada vez mais diversificado e não apenas voltado ao esporte. “Desde antes da pandemia chamamos músicos que fazem shows de pagode com clima de praia”, conta. Veja mais locais que alugam quadras no fim da matéria.

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Saindo do Tatuapé pela Marginal Tietê e pegando a Rodovia Castello Branco rumo a Itu são cerca de 100 quilômetros. Na cidade, a febre do beach tennis chegou aos condomínios de casas e às arenas avulsas. Praticante da categoria A (a última antes da profissionalização) e professor da modalidade, Gabriel Cremasco, 36, afirma que não é porque o esporte é fácil de aprender que o esportista precisa ficar despreocupado com os cuidados do corpo.

“Todo esporte necessita de prevenção de fortalecimento muscular, e com o beach tennis não é diferente. São comuns lesões de ombros e cotovelos. É óbvio que a areia diminui o impacto, mas é sempre bom lembrar que o piso é irregular e pode também causar torção de pés e joelhos.” Outra preocupação de todo atleta, iniciante ou não, deve ser com a escolha de quem vai ensiná-lo.

“É importante que o professor tenha registro profissional no Conselho Regional de Educação Física e o certificado de curso de capacitação para ensinar beach tennis de uma federação ou confederação”, explica Jorge Bierrenbach, vice-presidente da Confederação Brasileira de Beach Tennis.

Professor com certificado, mas de golfe, o ex-golfista profissional Philippe Gasnier, 41, escolheu o beach tennis como esporte nas horas vagas. “O pessoal acha que jogo golfe o tempo todo, mas é bom fazer algo que não seja sua obrigação”, diz o carioca morador de Itu que disputou o circuito internacional de golfe e jogou partidas contra Tiger Woods, o “Pelé do golfe”.

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A imagem mostra Philippe, em uma quadra de beach tennis, com sua raquete e taco de golf. Ele está com óculos escuros e boné.
Philippe, na Arena Pé na Praia, em Itu: do golfe ao beach tennis (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Na mesma região, o jovem Richard Gomes, 15, é atualmente o número 1 do ranking da categoria sub-16. Nascido e criado em Caraguatatuba, no Litoral Norte, ele passa a semana em Jundiaí, onde treina e ensina nas quadras da VtennisTeam Sport Center.

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“Virei professor também. O beach tennis me proporcionou virar um homem independente antes da hora. Meu sonho é ser um dos melhores do mundo”, diz o menino candidato a “Pelé do beach tennis”, que, embora passe a maior parte do tempo em quadras confinadas, prefere a brisa do mar no rosto. “Na praia, o vento às vezes atrapalha e a bola fica mais lenta ou mais rápida, dependendo da direção.” A raquete de beach tennis, que custa entre 600 e 2 000 reais, é a mesma em qualquer tipo de ambiente.

A imagem mostra Richard, uniformizado, segurando quatro medalhas em suas mãos enquanto sorri para a foto.
Richard, em Caraguá: aulas em Jundiaí (Instagram/Reprodução)

Não é só o esporte caçula das arenas com areias artificiais que atrai novos praticantes. Sucesso nas praias desde a década de 80, o futevôlei mudou a vida da pedagoga Beatriz Bertucci, 31. Sem poder frequentar as academias por causa da pandemia, ela passou a se exercitar apenas nas ruas, com as corridas, mas viu no “vôlei com os pés” seu momento de estar mais perto da praia.

“Meu namorado já jogava e resolvi acompanhá-lo em uma aula no início deste ano. O que mais me encantou foi por estar a céu aberto e sob um clima totalmente diferente, com música. Nem parece que estamos em São Paulo”, conta a jovem, que se mudou recentemente do Bosque da Saúde para uma casa com quintal no Jardim Aeroporto. O espaço ganhou, claro, uma rede pequena para a prática do esporte, vendida a 299 reais na loja Decathlon.

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Professor da Bia e de seu namorado, Victor de Lima, 30, o personal trainer Vinicius Macedo, 22, viu quase triplicar a demanda por aulas de futevôlei onde trabalha, na BRA Sports, no Campo Belo. “Em março do ano passado, no início da pandemia, paramos com setenta alunos. Quando reabrimos, em julho, o número dobrou. Hoje temos mais de 200 alunos”, comemora.

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Questionado se com a chegada do inverno, ocorrida na segunda (21), diminuiria a procura, Macedo afirma que não sentiu perda de alunos. “A galera não quer ficar em casa nem muvucada nas academias.” As aulas coletivas de futevôlei na BRA custam 275 reais mensais (duas vezes por semana). Os cursos individuais saem de 80 a 100 reais por hora, dependendo do número de aulas. No beach tennis, os valores coletivos são os mesmos 275 reais, mas para uma vez por semana.

A imagem mostra Vinicius, Bia e Victor, abraçados pelos ombros, posando para a foto em uma quadra de futevolei
Vinicius (à esq.), Bia e Victor: professor e alunos (Leo Martins/Veja SP)

Não são só os mais novos que estão aptos a jogar futevôlei. O aposentado Miguel Archangelo Torralbo, 70 anos recém-completados, conheceu o esporte na Associação Desportiva da Polícia Militar (ADPM), no Tatuapé, e se apaixonou.

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Hoje, ele treina cinco vezes por semana em várias quadras espalhadas pela cidade. Para Torralbo, é uma forma de se manter ativo e de bem com a vida. “Não sou mais garoto e consigo jogar até quatro partidas por dia, mas não jogo mal não”, brinca.

A imagem mostra Torralbo em uma quadra de futevôlei, com a bola posicionada em sua frente sobre um montinho de areia.
Torralbo, no futevôlei: quatro jogos por dia (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Enquanto as modalidades novas e consolidadas ganham cada vez mais espaço ao ar livre, outros esportes também começam a despontar no horizonte cinzento da capital. No Sun7, aberto em 2019 no Morumbi e que em outubro chegará às margens da Represa de Guarapiranga, o boxe na areia já é uma realidade.

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“É o mesmo treino, porém mais intenso. A areia faz trabalhar as pernas”, explica a proprietária Daniella Lacava. Os ensinamentos ao ar livre de jabs, cruzados e ganchos, duas vezes na semana, custam 234 reais no plano mensal e 190 no semestral.

Se os locais privados ao ar livre estão abertos, os públicos continuam fechados. “Jogávamos vôlei de praia toda semana em uma das cinco quadras de areia no Distrital da Mooca, mas faz mais de um ano que os espaços estão fechados”, diz a comerciante Jacqueline Campos, 30. Procurada, a Secretaria Municipal de Esportes afirma que não há prazo para a reabertura dos 46 centros esportivos da cidade, fechados por causa da pandemia.

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REGRA DE TRÊS

O professor de beach tennis Daniel Ribeiro dá dicas de como sacar, devolver e atacar.

Saque

1- Posicionar-se levemente em diagonal em relação à quadra;

2- Lançar a bola com o braço esticado e alinhado ao pé esquerdo (destros) ou pé direito (canhotos);

3- Acertar a bola no ponto mais alto (corpo e braço em extensão).

A imagem mostra o professor acertando a bola de beach tennis em uma quadra de areia.
Postura do saque (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Devolução

1- Manter as pernas afastadas para gerar equilíbrio;

2- Flexionar levemente os joelhos para aumentar a estabilidade;

3- Manter a raquete à frente do corpo e em uma altura que não atrapalhe a visão.

A imagem mostra o professor acertando a bolinha em uma altura média. Ele está em uma quadra de beach tennis, com os joelhos flexionados para acertar a bola na altura do seu ombro.
Postura para a recepção (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Ataque

1- Fazer o contato da raquete com a bola acima da altura da rede;

2- Quanto mais para baixo for a trajetória da bola, melhor será o ataque;

3- Quanto mais perto da rede o jogador fizer o ataque, maior será a chance de acertar.

A imagem mostra o professor se esticando para acerta a bolinha do beach tennis no alto. Ele está em uma quadra de areia.
Postura para o ataque (Alexandre Battibugli/Veja SP)

AREIAS NO MAPA – Onde praticar?

A imagem mostra uma montagem com duas fotos. À esquerda, uma visão por cima de várias quadras de beach tênis onde há algumas duplas jogando o esporte na areia. À direita, a foto pega o momento em que uma pessoa faz o movimento da bicicleta jogando futevolei, em uma quadra de areia do esporte.
Expansão: à esquerda, a Arena Nacional da Barra Funda, e à direita, futevôlei na BRA Arena (Leo Martins/Veja SP)

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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de junho de 2021, edição nº 2744

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