Candidatos à prefeitura vão de shows de forró a missas atrás de votos
No início da campanha nas ruas, eles batem cartão na porta das principais lideranças locais da cidade
Fundado há 21 anos no bairro do Limão, na Zona Norte, o Centro de Tradições Nordestinas (CTN) promove animadíssimas apresentações de artistas como o grupo Chamego Mais, faz exposições de fotos e realiza shows sobre a culinária típica de estados como Bahia e Ceará. Aos domingos, quando é maior o movimento, o galpão de 27.000 metros quadrados que abriga a entidade recebe 20.000 visitantes. Nas últimas semanas, o local virou centro de romaria dos candidatos a prefeito.
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No dia 5 de agosto, José Serra (PSDB) passou por lá durante uma festa típica. Posou para fotos, conversou com os frequentadores e deixou o recinto depois de quarenta minutos. Antes disso, Celso Russomanno (PRB) bateu cartão no endereço. Ficou mais tempo (quatro horas) e caprichou na interação, tirando uma parceira para dançar forró. Fernando Haddad (PT) e Soninha Francine (PPS) já agendaram sua visita para os próximos dias.
“Somos abertos a todos os políticos”, diz o diretor Robson Amaral. “Eles sabem que aqui é ponto de encontro de nordestinos e descendentes, que passam da casa dos 4 milhões de pessoas na cidade.” O CTN faz parte de um circuito de lideranças locais que se tornou estratégico para quem está à caça de votos.
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Além da plateia presente nas visitas, os eventos têm um efeito multiplicador interessante. “Eles geram mídia espontânea nas rádios e televisões e, dessa forma, atingem milhões de pessoas”, afirma o cientista político Rubens Figueiredo. A rota do beija-mão também inclui paróquias na cidade, como a de São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo, na Zona Leste. Quem manda no pedaço há trinta anos é Antonio Luiz Marchioni, mais conhecido como padre Ticão. Preso por três vezes na década de 80 por participar de invasões de propriedades, é uma figura ligada historicamente à esquerda católica. Mas se mostra atualmente um anfitrião bem eclético, sem fazer distinção da corrente ideológica do candidato. Recentemente, recebeu Gabriel Chalita e aproveitou a ocasião para apresentar ao peemedebista algumas propostas. Uma delas envolve a construção de outra universidade na Zona Leste, região que já conta com um câmpus da USP. “O Kassab prometeu várias vezes que faria essa obra e, até agora, nada”, reclamou o padre. Chalita ficou de avaliar o assunto.
Nos trinta primeiros dias da corrida eleitoral nas ruas, quem tem gasto mais sola de sapato é Soninha Francine, que realizou no período um total de 48 visitas a pontos diferentes de São Paulo. “É a melhor maneira de conquistar adeptos e diminuir a taxa de rejeição”, acredita. Nessa primeira etapa da campanha, esteve mais na Zona Oeste. Logo no início do corpo a corpo, marcou presença no evento “À mesa com empresários”. Com 170 comerciantes e lideranças de bairros como Lapa, Perdizes e Vila Leopoldina, o negócio goza de alto prestígio entre os prefeituráveis. Haddad, Chalita e Russomanno participaram de outras edições do evento e Serra deve comparecer ao local no próximo dia 27. “Nós apresentamos a eles vários formadores de opinião, o que explica todo esse interesse”, conta o organizador dos encontros, Ubirajara de Oliveira, proprietário de jornais e revistas de bairro da área.
Ainda relativamente pouco conhecido entre os eleitores paulistanos, Haddad é outro que mantém a agenda intensa. Havia realizado até a semana passada um total de 35 visitas e é o candidato que procura distribuir melhor as andanças pela metrópole, sem privilegiar demais nenhuma zona. Um dos responsáveis pela campanha, o vereador petista Antônio Donato definiu uma tática para tentar cobrir o maior número de bairros. “Durante a semana, passamos prioritariamente por centros comerciais, como o Largo Treze, em Santo Amaro. Aos sábados e domingos, fazemos carreatas pela periferia”, explica o candidato.
A estratégia, por enquanto, não rendeu grandes frutos. Segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em julho, Haddad está ao lado de Soninha, em terceiro lugar, com 7% das intenções de voto — Serra aparece em primeiro (30%), seguido de Russomanno (26%). O argumento clássico para minimizar o número desfavorável é que a briga está apenas começando. Nessa linha de raciocínio, até 7 de outubro, data do primeiro turno, há tempo para ganhar terreno sobre os principais adversários, sobretudo com o começo do horário eleitoral gratuito, a partir do próximo dia 21. Enquanto isso não acontece, o jeito é encarar forró, missa e tudo o mais que vier pela frente.