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Acidente retoma a discussão sobre o fechamento do Campo de Marte

A queda de um avião monomotor na Zona Norte não é a primeira tragédia aérea da região

Por Sérgio Quintella
Atualizado em 1 jun 2017, 16h16 - Publicado em 25 mar 2016, 00h00

Por volta das 15h30 do sábado passado (19), um avião monomotor modelo CA-9 decolou do Aeroporto Campo de Marte, em Santana, com destino ao Rio de Janeiro, mas espatifou-se três minutos depois na fachada de um sobrado de três andares na Rua Frei Machado, na Casa Verde, a 200 metros da cabeceira da pista. A bordo estavam o empresário Roger Agnelli, ex-presidente da mineradora Vale, sua mulher, os dois filhos, o genro e a nora, além do piloto. Os sete morreram na queda.

Os cinco moradores da casa escaparam sem ferimentos. As causas da pane na aeronave ainda serão apuradas pelos peritos técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). O desastre — que teve grande repercussão não só por ter ocorrido em uma área densamente povoada da capital, mas também pelo fato de envolver o nome de um dos principais executivos do país — colaborou para reacender uma antiga discussão a respeito do fechamento do terminal aéreo da Zona Norte.

A ideia ganha força sobretudo porque não é a primeira tragédia aérea registrada nas redondezas. Em 4 de novembro de 2007, um bimotor Learjet caiu na Rua Bernardino de Sena, a poucos quarteirões de onde ocorreu o episódio mais recente, matando oito pessoas. “Quando vi as cenas desse último acidente, voltou à minha mente toda a desgraça que presenciei aqui do meu lado”, afirma o mecânico Daniel Alves de Lima, vizinho da família de seis pessoas, que morreram na ocasião.

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Moradores da região reclamam que o assunto só vem à tona quando há uma calamidade. “Como um avião desaba sobre as pessoas e ninguém faz nada?”, questiona o presidente da Associação de Moradores da Zona Norte, Manoel Messias. “Quantos acidentes ainda precisarão acontecer até perceberem que a cidade cresceu e não comporta um aeroporto entre as casas?”, completa. 

Uma das principais interessadas na desativação, ainda que parcial, do Campo de Marte é a prefeitura. A intenção é retirar os aviões de pequeno porte, que representam metade das 93 000 operações anuais, e liberar apenas o tráfego de helicópteros. Com a redução no movimento, a gestão de Fernando Haddad teria espaço para implantar algumas das alterações urbanísticas nas margens do Rio Tietê prometidas durante a campanha eleitoral de 2012, como a construção de um grande parque e a liberação de prédios mais altos no entorno.

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Roger Agnelli ex-presidente da Vale
Roger Agnelli ex-presidente da Vale ()

Para retirar esse projeto do papel, no entanto, será necessário resolver uma disputa que se arrasta na Justiça há mais de meio século. O terreno de 2 milhões de metros quadrados pertence, desde 1932, ao governo federal, que o ganhou do município como espólio de guerra após a Revolução Constitucionalista. Em 1958, a prefeitura entrou com uma ação para reaver a posse da área e, desde então, o caso está nos tribunais.

Trata-se de um dos processos mais longevos da história do país. Em 2008, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) devolveu a propriedade ao município, mas um recurso ainda está sendo avaliado pelo Superior Tribunal Federal (STF). A última decisão significa que a prefeitura deverá receber um valor da Aeronáutica a título de aluguel pela cessão da área nos últimos 58 anos, o que nunca ocorreu. “Não existe uma quantia certa, mas serão cifras enormes”, diz o secretário municipal de Negócios Jurídicos, Robinson Barreirinhas. “Seria o suficiente, por exemplo, para zerar a dívida com a União, hoje de 27 bilhões de reais.”

Construído em 1920, o Campo de Marte possui 23 hangares e opera com aviação executiva, táxi aéreo e escolas de pilotagem, como o Aeroclube de São Paulo. Sua pista tem 1,6 quilômetro de extensão, pouco menos que a de Congonhas, de 1,9 quilômetro. Embora não receba atividades de linhas aéreas regulares, está entre os aeroportos mais movimentados do Brasil, com uma decolagem ou pouso a cada quatro minutos.

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Sua remodelação, portanto, acarretaria um problema logístico: definir o destino das mais de 100 operações com aviões realizadas diariamente por ali. Como Congonhas, Cumbica e Viracopos estão sobrecarregados com os quase 70 milhões de passageiros de voos comerciais transportados por ano. A única saída viável seria o aeroporto de São Roque, a 60 quilômetros da capital.

O negócio está sendo erguido pela iniciativa privada e começará a operar no segundo semestre com aeronaves de pequeno porte. A mudança, contudo, não é bem recebida pelos profissionais do setor. “Querem tirar os voos de Santana sob a alegação de que a cidade cresceu, mas, e quando São Roque ganhar casas em volta, para onde vamos?”, lamenta o piloto Mateus Ghisleni, diretor de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas. “Precisamos conviver com esse movimento, é assim no mundo inteiro”, reforça o presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, George Sucupira.

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