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Prédio do Cisne Negro será demolido para construção de condomínio de luxo

Companhia ocupava o local desde 1977 e se muda para a Vila Leopoldina

Por Pedro Carvalho
15 dez 2023, 06h00
Cia. Cisne Negro: sede da companhia de dança e o estande de vendas do novo edifício (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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No dia 20, o Cisne Negro, uma das mais conceituadas companhias e escolas de dança do Brasil, vai deixar o prédio de três andares que ocupou durante os últimos 46 anos na Vila Beatriz, na Zona Oeste.

A construtora Nortis comprou o imóvel (e boa parte do quarteirão) para demolir e construir no lugar uma torre de 24 andares, onde o apartamento mais barato custará 8,9 milhões de reais — a cobertura vai sair por 24 milhões.

Inaugurada em 1977, a sede do Cisne Negro foi o primeiro prédio da Vila Beatriz e, de acordo com a diretoria do balé, o primeiro de São Paulo planejado para a dança. “Espelhos, barras, salas de ensaio: tudo estava no projeto original”, diz Dany Bittencourt, diretora do Cisne Negro — que irá para a Rua Aliança Liberal, 970, na Vila Leopoldina.

Na calçada do balé havia uma vidraçaria, uma sorveteria, uma sapataria e outros comércios e serviços. Todo esse passeio público — que liga as Ruas Pascoal Vita e Ourânia — será ocupado pela entrada do edifício, cujo terreno tem 2 800 metros quadrados.

Apesar da área ampla, o condomínio vai abrigar apenas 24 famílias, com um apartamento por andar. Cada unidade irá dispor de quatro vagas na garagem — serão três “sobressolos” de estacionamento. Lançado em novembro, tem sete unidades vendidas.

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O Cisne Negro foi fundado pela bailarina Hulda Bittencourt (mãe de Dany), que morreu em 2021 após um acidente vascular cerebral, aos 87 anos — ela será tema de uma exposição na Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro, a partir de 25 de janeiro. O marido de Hulda, Edmundo, construiu o prédio para a esposa. “Quase não havia imóveis na região. Quando o prédio ficou pronto, meu avô subiu no telhado e se espantou: ‘Só tem pasto no bairro’ ”, relembra Dany.

Nas últimas décadas, diversas incorporadoras procuraram Hulda para comprar o imóvel. Uma após a outra, ouviram “não”. “Ela gostava muito do bairro e do prédio, dizia que não venderia de jeito nenhum. Tanto que passou a morar no terceiro andar”, diz Ana Rita Gregório, funcionária que cuidou da vida doméstica de Hulda por 26 anos.

Imagem mostra duas mulheres sorrindo abraçadas com janela aos fundos. À direita, uma é loira e usa camiseta e calça e a da esquerda usa um vestido florido
Dany Bittencourt, diretora do Cisne Negro e a funcionária Ana Rita Gregório (Pedro Carvalho/Veja SP)
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O prédio, porém, tinha problemas como rachaduras, infiltrações e falta de acessibilidade aos pisos superiores — o elevador, tão antigo que ainda tem porta pantográfica, não cumpre essa tarefa. No bairro de altíssimo padrão, os vizinhos também costumavam reclamar do “barulho” dos ensaios. “Não devem gostar de Franz Schubert, Giuseppe Verdi…”, ironiza Dany.

Ao mesmo tempo, a Nortis subia a proposta — os imóveis da quadra receberam aproximadamente 17 500 reais por metro quadrado nas negociações. “A certa altura, o dinheiro que nos ofereciam dava para comprar outro terreno igual a esse e construir um prédio novinho”, ela afirma.

Ao longo das décadas, as salas e corredores do Cisne Negro viram ícones da dança brasileira e internacional. Bailarinos como Marcelo Gomes, Rolando Sarabia, Thiago Soares, Cecília Kerche e Ana Botafogo usaram o prédio do balé para ensaiar para espetáculos.

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“Foram gerações de coreógrafos e dançarinos que passaram por ali. É difícil deixar essa história para trás. No dia que assinei os papéis, chorei”, conta Dany. Felizmente, não é um “canto do cisne” para o grupo. Mas o quarteirão não será o mesmo.

Publicado em VEJA São Paulo de 15 de dezembro de 2023, edição nº 2872

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