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Avenida da ZL vira novo point de eventos e baladas da noite paulistana

Antes deserto fora do horário comercial, endereço na Mooca entrou na rota de quem sai em busca de diversão

Por Guilherme Queiroz
3 nov 2023, 06h00

Andar pela Avenida Henry Ford aos finais de semana, até pouco tempo atrás, era caminho certo apenas para os moradores da Mooca que procuravam uma rua vazia para se exercitar. E coloca vazia nisso. Esse pedaço da cidade, essencialmente industrial — com exceção de um shopping —, praticamente morria fora do horário comercial. Mas a coisa mudou. Em 2023, em um domingo de manhã, dá para caminhar por ali e dar de cara com um daqueles divertidos contrastes paulistanos: jovens super produzidos, saindo de uma festa com música eletrônica alternativa, a caminho da estação Ipiranga da CPTM depois de uma noitada, cruzando com homens e mulheres munidos de tênis de corrida.

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O Komplexo Tempo, no número 511 da avenida, juntou dez galpões industriais, que até antes da pandemia eram usados como armazéns de mercadorias, para criar um espaço que soma 12 000 metros quadrados e sedia eventos importantes, como São Paulo Fashion Week, que rola ali em novembro, e shows de nomes como Maiara e Maraísa, Gusttavo Lima, festas corporativas e baladas, que viram a noite com gêneros como tribal house, vertente eletrônica queridinha do público LGBTQIA+.

“Antes, as pessoas vinham para a Henry Ford às 8h, saíam para almoçar ao meio-dia e às 17h estavam indo embora. Agora, quando as indústrias fecham, nós chegamos”, conta Klaus Pian, 58. Ele e o marido, o lutador de muay thai Moises Gibi, são os sócios da empreitada, que recebe gente de todo tipo. Na tarde do domingo 22 de outubro, por exemplo, uma matinê reuniu no endereço adolescentes de 12 a 17 anos, com entrada proibida para os maiores de 18.

Quando a casa está cheia, leva para a região mais que o dobro do número de pessoas que trabalham por lá. Segundo dados da associação de empresas do Polo Industrial da Mooca, Ipiranga e Vila Prudente, são ao menos 29 empresas no pedaço, que contam com 2 400 funcionários e faturam cerca de 3 bilhões de reais ao ano. Em dias de lotação, o Komplexo junta até 6 000 frequentadores.

Imagem mostra interior de grande galpão, com muitas luzes vindo de um palco e centenas de pessoas em local cheio, em que pode-se ler em um letreiro distante: #BGC3
Evento do universo gamer na Henry Ford: capacidade para até
6 000 pessoas (Komplexo Tempo/Veja SP)

“Quando eles chegaram, todos ficaram assustados, achando que poderia nos afetar de alguma forma. Mas agora os empresários pensam que vamos virar algo como o Puerto Madero (bairro de Buenos Aires, Argentina), uma mescla industrial e cultural”, conta o representante da associação de empresas da região, João Lo Ré Neto, 60. “Eles (do Komplexo) são colaborativos e quando nós estamos trabalhando, estão dormindo (e vice-versa)”, diz Lo Ré Neto. “Atuo com logística para eventos, com caminhões saindo dali durante a noite. Com mais gente na rua nesse horário, temos mais segurança. E o visual da avenida mudou”, conta Marcelo Rayol, 50, sócio-proprietário de uma empresa de logística vizinha ao Komplexo.

Os dez galpões do espaço têm boa parte da fachada decorada com grafites coloridos, substituindo o marrom antes predominante. “O pessoal das empresas da região notou isso e começou a pintar as fachadas, a se preocupar mais com a aparência”, conta Rayol.

“Estou tentando convencer o meu amigo Renato Ratier, da D-Edge (balada na Barra Funda), a vir para cá também, mas até agora não topou”, se diverte Klaus Pian, que sonha com uma Henry Ford voltada para o entretenimento. “Essa avenida atende o que espaços de eventos precisam. Principalmente por não incomodar os moradores, porque não há moradores. Essa é uma vantagem de uma zona industrial”, explica Pian.

Imagem mostra rua deserta com galpão marrom em dia ensolarado. Galpão está parcialmente pixado
Galpões antes da chegada do Komplexo, em 2019 (Reprodução/ Google Maps/Divulgação)

“O Klaus acordou um dia no meio da pandemia e me disse que a gente tinha que montar um espaço de eventos. Em cinco meses encontramos o local e inauguramos (em 2022)”, conta Moisés Gibi, tetracampeão mundial de muay thai. Eles são donos também do Complexo #9, centro cultural e esportivo que fica embaixo do Viaduto Júlio de Mesquita Filho, na Bela Vista. Gibi trabalha na contratação de DJs para as festas, acompanhado do manager Mauricio Ortiz.

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Imagem mostra várias pessoas atravessando avenida, com carros parados esperando os pedestres. Ao fundo, galpão preto com grafites coloridos
No domingo, 22 de outubro: festa para adolescentes (Leo Martins/Veja SP)

Pian não é nenhum novato da noite paulistana e esse não é o seu primeiro empreendimento na região da Mooca. Entre 2000 e 2004, ele, ao lado do ator Miguel Falabella e do apresentador Gugu Liberato (1959-2019), foram os responsáveis pela balada Fabbrica 5, que ficava na Avenida Alcântara Machado. “Era uma casa incrível, no lugar certo, na hora errada”, lembra Pian, que era também um dos sócios da The Week, na Lapa, que fechou as portas durante a pandemia, após dezessete anos de operação.

A empolgação da vizinhança, no entanto, tem limite. “Os que são proprietários dos galpões estão animados, mas agora quem paga aluguel tem medo de que comecem a aumentar os preços”, conta Lo Ré, da associação da região, que reúne indústrias de segmentos como metalurgia e empresas de comércio. “Quando eu cheguei aqui, o valor do metro quadrado era 12 reais. Agora está em 28”, diz Pian. Tudo tem seu preço. ß

Publicado em VEJA São Paulo de 3 de novembro de 2023, edição nº 2866

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