Na semana passada, conversei com moços sobre o Carnaval e cheguei à conclusão de que em São Paulo é uma festa de coroas. Deve ser também no Rio, pelo que se vê nos blocos de rua, pela idade da maioria dos turistas, pelo público das arquibancadas da Marquês de Sapucaí. Os meninos e as meninas da minha enquete não tinham planos, esperavam o feriado para dar uma esticada, viajar, e seu destino dependia de poucas variáveis: grana, turma, sol, programas, família. Não encontrei quem dissesse Rio, Salvador ou Recife pelo Carnaval em si.
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Vão dizer que minha pesquisa não tem valor estatístico. Não tem mesmo. Aqui não predominam números, mas impressões, vagas certezas tiradas de conversas durante o trote de calouros universitários no câmpus das colinas de Perdizes. Alguns repicaram a questão com amigos nas redes sociais da internet e as respostas eram parecidas: se estivessem em Salvador ou no Recife, entrariam no clima para zoar, mas não iriam até lá só para isso. Rio de Janeiro, nem pensar. Preferiam o Litoral Norte de São Paulo, por causa das turmas e das baladas. Acham esse negócio de Rei Momo bizarro e que as rainhas e musas podem ser umas gostosas mas não superam as gatas calouras. São enfeites para coroas ricos, acham.
Bom, então não se sabe quanto por cento da garotada universitária não vai entrar nessa festa. Como não encontrei ninguém que fosse, poderia levianamente calcular 100%, mas deixo o número assim mesmo, vago. Quem é que vai, então? Se alguém quisesse procurar um lugar em São Paulo para cair na folia, como se dizia antigamente, aonde iria?
Recorri ao Google, “Carnaval em São Paulo”, esperando uma oferta equivalente ao tamanho da metrópole. Aí veio: Ouro Preto, Salvador, Votuporanga(!), Rio de Janeiro, pacotes com ingressos para o desfile carioca, hotel-fazenda… Nenhum programa em São Paulo, zero.
Quem sabe tentando novamente, invertendo palavras-chave — tags, como eles dizem. Apareceram várias ofertas, descontos de até 90% em hotel resort; apareceram cruzeiros, Nordeste com coqueirais nas praias, Oeste com águas quentes, Minas com história e feijão… Nada de São Paulo.
Digito “programação de blocos Carnaval de São Paulo”. Vem a programação de 2011, bandas de bairro, trajeto de cada uma — tudo do ano passado! Digito “Carnaval SP 2012 ingressos”. Aparecem a página de uma picaretagem condicionando você a se filiar para obter ingressos e três anúncios de desfiles do Rio de Janeiro com ofertas. Tento “bailes de Carnaval em SP”: só turismo fora da cidade, coisas assim. Digito “Carnaval 2012 bailes SP”, e aparecem Rio, Recife, interior do estado e só dois gatos-pingados paulistanos, Juventus e Tênis Club. Talvez ainda existam nos clubes fechados, que não entram em roteiros. Tento “roteiro dos bailes Carnaval 2012 sp”: o mesmo fracasso, predominam propostas turísticas mandando você passear.
Afinal — ufa! —, no site spturis.com se encontram todas as informações sobre blocos de rua, dias dos desfiles pelo bairro de cada um, desde 4 de fevereiro, trajetos, num total de doze blocos, envolvendo cerca de 12.000 pessoas; informações sobre a Pholia na Luz, que reúne quinze agremiações, total calculado de 11.000 participantes; e finalmente tudo sobre o desfile das grandes escolas. Nada sobre bailes.
Para uma cidade de 11 milhões de pessoas, é pouco. Não é que a cidade não goste de festa. Olha a parada gay, olha a passagem de ano na Paulista, olha a Virada Cultural — milhões participando. Desconfio que é por serem festas mais modernas, e de graça. Quando essa geração da minha pesquisa chegar ao comando, ainda haverá coroas carnavalescos? O Carnaval vai-se tornando apenas um grande reality show na televisão.
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E-mail: ivan@abril.com.br