Continua após publicidade

As encrencas do Camilinho: a grande coleção de brigas do vereador

Dos cabritos levados a uma praça com mato alto a fala racista, Camilo Cristófraro acumulou inimizades por cinco anos

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
3 jun 2022, 06h00

Alvo de processo na Corregedoria da Câmara Municipal por usar uma frase racista que vazou nas caixas de som do plenário há um mês, o vereador Camilo Cristófaro (Avante) terá seu futuro político julgado por colegas nas próximas semanas.

Depois que disse “Não lavarem a calçada… é coisa de preto”, Camilinho, como é conhecido por seus pares e até por adversários, vem sendo objeto de diversas manifestações, inclusive com carros de som na frente do Legislativo, no Viaduto Jacareí.

+ Justiça manda voltar para a cadeia homem arrastado pela PM

Um desses protestos contou com a presença do presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil). “Fui ofendido pelo ato de racismo praticado pelo vereador. Como presidente, vou manter a minha isenção, respeitando todos os direitos dele, mas vou trabalhar para a cassação de seu mandato”, disse Leite, em áudio enviado em um grupo de vereadores.

Embora tenha o mesmo peso dos colegas em uma votação nominal, Milton Leite é uma das pessoas mais influentes da política paulistana e em um vídeo, gravado ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB), disse que vai “mandar o Camilo embora”.

Continua após a publicidade

Enquanto tenta se defender administrativamente, Cristófaro é alvo de um processo criminal por abuso de autoridade. Como presidente da CPI da Pirataria, ele fez uma ação em um shopping popular na região da Rua 25 de Março e foi acusado de arrombar um boxe sem autorização judicial. A Polícia Civil concluiu que ele não poderia ter feito o que fez e o indiciou. O caso está na Justiça, ainda sem decisão sobre se a denúncia será ou não aceita. Em caso positivo, ele, que nega o abuso, se tornará réu.

+ Polícia apreende de Porsche a Ferrari sem origem comprovada

Em outra ação, a empresária Hwu Su Chiu Law, conhecida como Miriam e esposa de Law Kin Chong, que foi acusado no passado de ser o maior contrabandista do Brasil, afirma ser alvo de calúnia, injúria racial e ameaças.

Durante a visita de seu advogado ao vereador, para despachar questões pendentes de análise sobre uma convocação sua para depor na comissão, Miriam foi xingada pelo parlamentar. “Ela é uma filha da puta. Ela não é empresária, não. Ela é uma naja que te encanta e pica… Vocês não viram nada, eu vou destruir esses shopping centers.”

Continua após a publicidade

Procurado, Camilo Cristófaro, que pediu desculpas pela fala racista, não respondeu ao pedido de entrevista.

Camilinho aparece ao lado de três funcionários negros em um vídeo gravado com os assessores
Desculpas: após fala racista, gravou vídeo com assessores (UOL/Reprodução)

Nos últimos cinco anos, Camilinho vem acumulando encrencas, agressões e confusões dentro e fora da Câmara. Em 2017, dois meses depois da posse, ele foi acusado pela então vereadora Isa Penna (hoje deputada estadual pelo PCdoB e que foi alvo de importunação sexual por seu colega Fernando Cury, do União Brasil) de tê-la chamado de “vagabunda”, “cocô de galinha” e “terrorista”. Na sequência, teria empurrado a parlamentar.

Vereador é flagrado pelas câmeras em conversa agressiva com Isa Penna
Dedo em riste: acusado de xingar Isa Penna (G1/Reprodução)

+ Tribunal autoriza concessão de Congonhas e Campo de Marte

Em ambos os casos ele disse que isso não ocorreu. Três meses depois e sem poder negar a cena, que foi filmada nos corredores da Câmara, Camilo jogou o celular de um assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT) no chão.

Camilinho aponta o dedo no rosto do assessor de Suplicy
Celular no chão: agressão a assessor de Suplicy (G1/Reprodução)

Eleito em 2016 com 29 603 votos, Camilo se fez conhecido por filmar radares escondidos, ciclovias que não estavam interligadas e o que mais lhe chamasse a atenção, sempre contrário à atuação do então prefeito Fernando Haddad (PT). Com sotaque “macarrônico” e o slogan “Se a sua verdade não for a minha verdade…”, levantou a bandeira do trânsito e foi reeleito quatro anos depois, apesar de cerca de 6 000 votos a menos do que na eleição anterior.

Continua após a publicidade

Depois do petista, seu alvo preferido foi o tucano João Doria, eleito prefeito há seis anos com apoio amplo de outros partidos, inclusive o de seu então PSB (ele foi desfiliado recentemente, a pedido, depois das falas racistas). Assim que a legenda desembarcou da gestão do PSDB, Camilo passou a mirar na figura pessoal de Doria.

Em um dos vídeos, ele mostrou uma praça na região do Ipiranga coberta por mato alto. Para ilustrar a cena, ele levou, acredite, uma dúzia de cabritos, que foram soltos no espaço. “A cidade está a tal ponto abandonada que eu trouxe as minhas meninas, as minhas cabritas, para pastar aqui no Heliópolis. Estão aqui a Dengosa e nossos bebês.”

+ Prefeito diz que dependentes migraram da Cracolândia para o interior

Na ocasião, Camilo disse que a surreal cena pôde ser feita graças à ajuda de um amigo, que lhe forneceu o transporte dos animais. “Elas ficam comendo o capinzal que o Doria deixou pela cidade. São Paulo está um caos e eles não estão nem aí para a cidade”, afirmou à Vejinha na época.

Continua após a publicidade

Depois da história das cabritas,Camilo foi processado por Doria, chamado de “Pinóquio” pelo parlamentar. O caso foi julgado improcedente e o ex-prefeito foi condenado a pagar 7 500 reais de honorários e de custas. Coube recurso e a ação ainda permanece em tramitação (na segunda instância).

Ainda no campo judicial, na última semana, o Ministério Público pediu a quebra do sigilo fiscal do vereador, sob a acusação de enriquecimento ilícito. Segundo a denúncia, ele fez movimentações financeiras incompatíveis com sua renda.

A Justiça negou a quebra, dizendo que o parlamentar nunca se negou a abrir sua vida financeira. O promotor do caso fez pesquisas para saber se Camilo possui aviões ou barcos, mas só encontrou sua coleção de dezesseis Fuscas.

+ Assine a Vejinha a partir de 12,90

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA São Paulo de 8 de junho de 2022, edição nº 2792

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.