Alphaville: referência em desenvolvimento planejado

Com nome inspirado em filme da nouvelle vague francesa, nova onda urbanística nasceu em um terreno de 5 milhões de metros quadrados a 23 quilômetros de SP

Por Catarina Arimatéia
Atualizado em 14 Maio 2024, 12h49 - Publicado em 26 mar 2011, 00h02
Alphaville - 2210a
Alphaville - 2210a (Divulgação/)
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Quando o cineasta francês Jean-Luc Godard rodou o filme  ”Alphaville”, em 1965, os sócios Yojiro Takaoka e Renato de Albuquerque, ex-colegas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, já administravam havia dezesseis anos uma próspera construtora, focada em erguer pontes, viadutos e casas populares. No início dos anos 70, a dupla decidiu expandir o negócio e idealizou um condomínio no Alto de Pinheiros para paulistanos de bolsos recheados. O Ilha do Sul foi finalizado em 1973, e nesse mesmo ano surgiu a oportunidade de dar um passo além: comprar um imenso terreno fora da metrópole e idealizar um distrito voltado a indústrias não poluentes.

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Assim, em 8 de janeiro, os dois representantes da Albuquerque, Takaoka S.A. assinaram a escritura de compra da Fazenda Tamboré: uma área de aproximadamente 5,5 milhões de metros quadrados espalhada por dois municípios, Barueri e Santana de Parnaíba, a 23 quilômetros da capital e ao lado da Rodovia Castelo Branco. “O campo estava sendo ocupado por 105 posseiros. Em vez de brigarmos, contratamos uma pessoa da região, Manoel Deodato, para negociar”, conta Roberto de Albuquerque, irmão de Renato e responsável pelo setor administrativo do grupo desde seu início, em 1949. 

A missão de Deodato era entrar em contato com os posseiros e oferecer indenização pelas benfeitorias realizadas, como a construção de moradias e cercas. Foram dois anos de negociações. Conforme as áreas iam sendo liberadas, tinham início as obras do empreendimento. Em 1974, com nome inspirado na película de Godard, foi lançado o Alphaville Empresarial e o gigante de tecnologia Hewlett Packard adquiriu uma área de 20.000 metros quadrados. Das conversas com os executivos veio a ideia: criar uma área de casas para os funcionários. Surgia o embrião daquele que viria a ser o primeiro projeto urbano brasileiro semelhante às “edge cities” americanas, cidades planejadas próximo às grandes metrópoles. “Nascemos com vocação industrial e só decidimos abrir o primeiro residencial como experiência”, lembra Albuquerque.

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Em julho de 1975, o bairro surgia com a promessa de oferecer infraestrutura completa, muitas áreas verdes e segurança. O lazer seria garantido pelo Alphaville Tênis Clube, que atualmente ocupa uma área de 107.000 metros quadrados e conta com mais de 10.000 associados. Não existem mais títulos à venda. O sucesso do Residencial 1 levou a outros semelhantes. Hoje são quinze e, afora alguns casos, foram batizados com números. A prometida rede de serviços ainda demorou alguns anos para chegar. “Comprei um lote quase por obrigação, pois trabalhava como engenheiro na Albuquerque, Takaoka”, diz José Pinto Ferreira Netto, morador desde 1976. “Era um lugar selvagem, fora da civilização, não tinha nada. Para ir à escola, meus filhos pegavam ônibus às 5 horas da manhã.”

Até o surgimento do centro comercial, com lojas, bares e restaurantes, em 1980, era complicado abastecer as residências. “A construtora enviava diariamente leite e pão para as casas. Mas para comprar fralda, por exemplo, tínhamos de ir até a Praça Panamericana, no Alto de Pinheiros”, lembra o comerciante aposentado João Amâncio da Conceição, ex-vereador de Barueri, que se mudou em 1980. Responsável pelas entregas naqueles tempos, hoje Albino de Oliveira Lima é dono de duas padarias no bairro, as tradicionais La Ville, que vendem juntas 15.000 pãezinhos por dia. “O próprio Takaoka pedia para eu abrir uma filial na região, quando ia tomar cafezinho no meu estabelecimento em Barueri”, conta. Takaoka morreu em 1994 e, após isso, Renato de Albuquerque fundou a Alphaville Urbanismo S.A., que difundiu o modelo urbanístico para vinte estados do país.

DE PARIS A BARUERI

Alpahville, de Jean-Luc Godard - 2210a
Alpahville, de Jean-Luc Godard – 2210a ()
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Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1965, “Alphaville” traz a assinatura de um dos mais inovadores cineastas de todos os tempos, o francês Jean-Luc Godard, parisiense criado na Suíça. O filme narra a história de uma cidade futurista dominada pelo robô Alpha 60, vilão com sentimentos quase humanos. Entre uma estratégia e outra de combate ao inimigo de lata, o detetive Lemmy Caution (Eddie Constantine) apaixona-se pela filha dos cientistas que criaram a máquina, vivida pela atriz Anna Karina, musa do diretor e sua mulher à época.

Godard foi um dos artífices da nouvelle vague (nova onda), movimento que trouxe mais realismo ao cinema francês nos anos 60. Seu primeiro filme, “Acossado” (1959), já apresentava uma novidade: a utilização de câmeras na mão, método adotado posteriormente por Glauber Rocha e cia. no Brasil. No ano passado, o cineasta recebeu um Oscar honorário por sua contribuição ao cinema, mas não foi buscar a estatueta e chegou a declarar que o prêmio “não significava nada”.

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