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“Agora a lista do supermercado diminuiu. De tanto estocar, sobrou muito”

Gerente de mercado diz que compras gigantescas diminuíram, mas clientes ainda questionam a necessidade da máscara

Por Rafaela Morais, 24 anos, em depoimento a Alice Padilha
10 jul 2020, 06h00

“A maior compra que tivemos na loja na Vila Prudente durante a pandemia foi logo na primeira semana, uma cliente que gastou 14 000 reais. Ela comprou para ela, a mãe e a irmã vários quilos de arroz, carne e feijão. No começo era uma loucura, vários clientes ligavam e pediam para reservar um fardo inteiro de papel higiênico. A gente ficou até se perguntando se a cura estava no papel. Agora o tamanho da lista diminuiu. Acho que de tanto estocar, muita coisa sobrou, até porque os mercados não fecharam. A nossa demanda mudou muito, agora a maioria dos pedidos são on-line, via WhatsApp. Fazemos de trinta a quarenta entregas por dia e os clientes compram para durar de duas a três semanas. Os produtos de limpeza vendem mais do que qualquer comida. Tem três coisas que nunca podem faltar no estoque: papel higiênico, álcool e desinfetante. Muitas pessoas chegam aqui com tutoriais da internet, procurando itens para reproduzir. Recentemente tivemos muitas compras de isqueiro, por causa do vídeo da Giovanna Antonelli com truque para “queimar o coronavírus”.

Nós não paramos nenhum dia. Compramos 500 máscaras para distribuir entre os funcionários, já que muitos apareciam sem porque só tinham uma em casa. Foi difícil acostumar, eles reclamavam que não dava para respirar direito ou que borrava a maquiagem. Agora já é parte do uniforme. Acho que a multa deveria ter saído logo no início, porque mesmo com ela as pessoas não respeitam. Ontem mesmo um cliente disse: “Ah, então me obriga a usar a máscara até o nariz”.

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Seria melhor se tivesse acontecido o lockdown. As pessoas até levaram a quarentena a sério no primeiro mês, mas agora já tem muita gente fazendo festa e chamando conhecidos em casa. Eu acho que se amanhã o isolamento acabar, os moradores da região vão voltar para a vida normal, sem nem usar máscara. Mesmo agora, com todas essas mortes na televisão, as pessoas não estão preocupadas. O bar que fica aqui na esquina está sempre lotado. A parte de dentro está fechada, mas as pessoas compram a bebida e levam para tomar na calçada. E esse é um agravante, porque eu não posso impedir um cliente de entrar na loja só porque ele estava no bar com outras pessoas.

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Um lado bom é que as pessoas estão valorizando mais os comércios pequenos. Antes, muitos compravam em redes grandes e nem sabiam que o mercado estava aqui. A maioria dos clientes acredita que esse problema é só uma fantasia criada para parar o mundo. As pessoas entre os 40 e 50 anos são as mais difíceis de convencer. Elas dizem: “Mas eu me cuido, não vou pegar”. Os jovens chegam aqui com máscaras desenhadas, de artistas, tudo combinando com o look. E os idosos só vêm em último caso, preferem entrega em casa.

Até dezembro deve ter muita coisa aberta no Brasil, mesmo com o coronavírus. Nós já estamos na fase amarela do Plano São Paulo e eu não senti diferença nenhuma. As pessoas continuam morrendo, ninguém descobriu nada. Eu tenho um filho de 3 anos e mesmo que as aulas dele voltem, eu não vou levar ele pra escola. Antes ele estudava em período integral, mas agora eu prefiro tê-lo em casa, mesmo que seja mais complicado. Eu só saio para trabalhar. Já faço as compras aqui, então não preciso ir em outro mercado.

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Higienizar as compras é totalmente necessário, porque quando você escolhe um tomate, por exemplo, você não vai pegar só em um, né? Sou bem sistemática com a limpeza, passo álcool em tudo, limpo minha casa duas vezes ao dia e tiro o sapato antes de entrar. Sempre que chego do trabalho, tiro toda a roupa e coloco para lavar. Estou lavando o cabelo todos os dias. No meu banheiro tem até uma sacolinha para eu jogar a roupa e depois levar direto para a máquina de lavar, assim a peça não tem encosta em mais nada. Só depois de tudo isso que eu tenho contato com o meu filho.

Sinto falta de mais suporte do governo para o empreendedor e para a população. Poderiam distribuir kits de higiene ou criar um aplicativo que lembrasse as pessoas de lavarem as mãos. No fim, nós temos muito pouco retorno deles.”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 15 de julho de 2020, edição nº 2695. 

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