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Catorze anos à procura do motorista

Veja o depoimento do jornalista Ricardo Viveiros, que perdeu filho e neta em colisão na Rua da Cantareira, em 1996

Por Daniel Bergamasco
Atualizado em 5 dez 2016, 17h40 - Publicado em 28 out 2011, 23h50

“A sensação de lei cumprida me trouxe um alívio enorme, mesmo que tenha demorado catorze anos para acontecer. Foi esse o tempo levado até encontrarmos o paradeiro do atropelador que matou meu filho, Ricardo, aos 26 anos, e a caçula dele, Mariana, de apenas 6 meses, em 1996. O motorista atravessou o sinal vermelho na Rua da Cantareira, no centro, em altíssima velocidade.

Era noite de sábado e o Ricardo tinha ido até minha casa para uma visita, sem avisar. Eu não estava, então ele deixou um bilhete sob a porta, a primeira coisa que vi quando cheguei. Em seguida, lavei o rosto, vesti o pijama e estiquei o braço para desligar o abajur. Ainda com o dedo no botão, acendi a luz de novo. Era o telefone tocando, com a notícia do acidente. Nas semanas seguintes, fui ao fundo do poço. Antes de dormir, fazia força para sonhar com ele, desejando que me dissesse que eu não tinha culpa de estar em um aniversário naquela noite.

Ao longo dos anos seguintes, o sofrimento continuou muito presente. Um dia, atendo o telefone e escuto: ‘Papai, eu quero te ver’. Era um homem idoso, beneficiado com um rim pela doação dos órgãos. É o tipo de situação em que você revive a dor e acaba se lembrando da impunidade. Ir atrás do culpado se mostrou a forma de, pelo menos, ter um ponto final justo nessa história. O escritório do advogado Maurício Zanoide passou esse tempo tentando localizar o condutor, que havia fugido do local, mas registrara boletim de ocorrência de acidente sem vítima, obviamente para receber indenização do seguro. Alguém anotou a placa do carro, então foi fácil confirmar o nome.

Esse cara ficou desaparecido e nós em alerta, até que, em 2010, ele fez carnê numa grande rede de lojas e descobrimos que estava em São Paulo. O julgamento aconteceu logo depois, com pena de um ano e nove meses de prisão, por homicídio culposo, que ele cumpre em liberdade, por ser réu primário. Mesmo que não tenha ido para a cadeia, considero esse resultado uma vitória, dentro da legislação do meu país. O Felipe, meu filho de 18 anos, muito bem disse: é como se, finalmente, tivéssemos enterrado Ricardo e Mariana.”

Ricardo Viveiros, 61 anos

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