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A odisseia das entregas

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h46 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Um amigo comprou uma mesa de estilo indiano em uma loja de decoração em um shopping. Queria deixar a sala linda para seu aniversário. A entrega foi prometida para dali a uma semana. Passou. Veio outra semana. Foi reclamar.

– Tivemos um acúmulo de entregas devido à promoção, explicou a vendedora.

Marcou nova data. A mesa não veio. A festa passou. Ele foi falar com a gerente. Veio a mesma explicação.

– Isso já me foi dito da outra vez, ele retrucou. Pode mudar o disco?

Vários telefonemas depois, rosnou querendo o dinheiro de volta. A mesa foi entregue no dia seguinte. Quando a vê, ele fica irritado, lembrando-se das discussões.

Também já passei por isso. Certa vez contratei uma senhora para trabalhar em casa. Arrumei um colchonete:

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– Será só por alguns dias.

Comprei cama e colchão em uma grande rede. Prometia entrega imediata. Que ilusão! A mulher acordou quebrada durante semanas. Eu brigava, ameaçava. O vendedor se esquivava.

– A culpa não é minha. É problema do departamento de entregas.

– Foi você quem me vendeu. Com quem vou reclamar!?

Até em comida chinesa já me dei mal. Uma noite pedi yakisoba. Deram 45 minutos para chegar. Uma hora e meia depois, liguei.

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– O rapaz já saiu, deve estar perto! respondeu a mocinha.

Com o estômago ganindo, voltei a chamar após mais meia hora.

– Houve um problema com o endereço, mas já foi resolvido.

Mais noventa minutos e recebi um yakisoba frio, grudento. Dei duas garfadas e resolvi fritar ovos. O pior, porém, foram duas poltronas que encomendei em uma sofisticada loja de decoração da Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Seis meses depois, não haviam aparecido. Foram inúmeras as reclamações. Nove meses mais tarde, a loja ainda tentava amenizar:

– São poltronas importadas, feitas artesanalmente e…

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– Já deu tempo de nascer um bebê ou construir uma casa. Não foi suficiente para duas poltronas?

Lindas, mas quando as vejo eu me lembro de todas as peripécias.

E uma amiga que encomendou um bolo para levar ao trabalho? Como não chegava, foi embora sem ele. Ao voltar, estava derretido. A caixa pingava chocolate na portaria! Ela ainda teve de pedir desculpas!

E com um detalhe: todos exigem receber antecipadamente, ou vincular a conta a cartão de crédito ou crediário. Cumprir a sua parte é outra história!

Outra coisa terrível a respeito das entregas é o horário. Uma vez comprei uma máquina de lavar. Durante a negociação, a vendedora foi só sorrisos. Quando me deram a data de entrega, perguntei:

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– Em que horário?

– Comercial.

Eu morava sozinho em uma casa e tinha emprego. Como fazer? Falei com minha chefe.

– Você quer faltar por cau-sa de uma máquina de lavar?

– Não posso deixar na calçada.

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Irritada, ela me deu a permissão. Acordei bem cedo para ouvir a campainha. Passei o dia trancado. Prisioneiro da máquina de lavar. No finzinho da tarde, liguei.

– O caminhão teve um problema, a entrega será amanhã durante o horário comercial, ouvi de volta.

Ahhhhhhhhhhhh! Não podia faltar de novo. Recorri a uma vizinha que mal conhecia. Quando cheguei, a máquina estava no meio da sala. E lá continuou até eu encontrar alguém para me ajudar a carregá-la! Mesmo hoje, em apartamento, não me sinto à vontade para deixar as chaves na portaria. E nunca me fornecem um horário de entrega pelo menos aproximado.

Fala-se muito em crise. Mas eu vejo meu exemplo. Prefiro deixar de comprar ao stress que algumas empresas já me causaram. Sem dúvida, também existe uma crise de respeito ao comprador.

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