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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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As diferenças entre psicopatas e sociopatas

Como se diferenciam esses dois tipos

Por Arnaldo Cheixas
Atualizado em 19 fev 2018, 16h34 - Publicado em 19 fev 2018, 15h14

Uma pergunta bastante frequente que me fazem é sobre a diferença de um psicopata para um sociopata. Basicamente, o psicopata é um sociopata cuja expressão da doença é mais grave. Mas há duas razões para os termos gerarem confusão.

A primeira é que, na verdade, não existe um diagnóstico oficial com esses nomes. Ninguém é diagnosticado como psicopata ou sociopata. Os diagnósticos das pessoas que normalmente são vistas como psicopatas ou sociopatas costumam ser de algum transtorno de personalidade. O termo psicopata, por exemplo, remete à década de 1940 e nunca foi aceito completamente pelas agremiações científicas. Com o passar do tempo, contudo, ele se popularizou e passou a compor o vocabulário do senso comum ao lado do termo sociopata, igualmente não científico.

A outra razão para a confusão é que há um mesmo transtorno de personalidade que incorpora tanto a sociopatia quanto a psicopatia. Trata-se do Transtorno de Personalidade Antissocial, que representa praticamente a totalidade dos psicopatas e sociopatas. Em outras palavras, tanto um psicopata quanto um sociopata são diagnosticados com Transtorno de Personalidade Antissocial.

O Transtorno de Personalidade Antissocial tem como característica principal um padrão amplo de desrespeito e violação dos direitos dos outros. O indivíduo tem dificuldade, portanto, de corresponder aos valores da sociedade em que vive. Quatro critérios diagnósticos (DSM V: 301.7 / F60.2) devem estar necessariamente presentes para que uma pessoa seja diagnosticada com Transtorno de Personalidade Antissocial. O primeiro critério (A) é o principal e representa a ocorrência de ao menos três processos dentre sete possíveis. Os critérios são os seguintes:

A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes:

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  1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção.
  2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal.
  3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
  4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
  5. Descaso pela segurança de si ou de outros.
  6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras.
  7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas.

B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.

C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade.

D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia ou Transtorno Bipolar.

Certamente é o sociopata quem se encaixa mais perfeitamente nos critérios diagnósticos do Transtorno de Personalidade Antissocial. Exemplos comuns de sociopatas são políticos corruptos, charlatões religiosos e esotéricos, malandros que exploram as outras pessoas em golpes e mentiras que produzem benefício para si. Apesar dessa dificuldade de ajuste de conduta, os sociopatas conseguem estabelecer vínculos com alguma qualidade e são afetados emocionalmente de algum modo pelas consequências de seus atos criminosos e desonestos, ou seja, podem sentir remorso ou culpa em certas situações. Isso faz com que o sociopata tenha, na verdade, algum limite para sua capacidade de impor o mal aos outros.

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O psicopata, por sua vez, não consegue estabelecer vínculos emocionais saudáveis, não sente empatia pela dor do outro e, principalmente, não sente qualquer tipo de remorso, culpa ou arrependimento diante da dor que causou ao outro. Em outras palavras, podemos dizer que o psicopata é um sociopata diagnosticado necessariamente com a presença do critério A7 para Transtorno de Personalidade Antissocial.

Como os psicopatas são menos afetados emocionalmente pelas normas sociais e pela dor do outro, são menos impulsivos do que os sociopatas. Os psicopatas costumam ter mais frieza e autocontrole no planejamento e na execução dos males que planeja.

Talvez a maior dúvida que as pessoas tenham é para saber se todo psicopata é um serial killer. Embora os romances e filmes tragam com certa frequência exemplos de psicopatas que se tornam assassinos em série, isto está longe de ser a regra. A prevalência do Transtorno de Personalidade Antissocial na população geral é de 3%, sendo que a minoria pode ser classificada como psicopata e, mesmo dentro dessa minoria, apenas uma parcela pequena se torna assassina.

Outra coisa importante é que nem todo assassino (mesmo dentre os que matam em série) é uma pessoa doente. Ou seja, nem todo crime se explica por um transtorno mental.

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Todos nós certamente tivemos, temos ou teremos algum contato com sociopatas e psicopatas. Alguns deles podem até se tornar profissionais de sucesso e, se receberem tratamento adequado, podem mesmo aprender a não romper com as regras sociais e, com isso, viver sem fazer o mal aos outros.

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