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A conturbada separação de Yara e Roberto Baumgart

Despejo da ex da mansão no Morumbi, confisco de joias e insinuações de infidelidade apimentam os bastidores do divórcio do casal

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 18h18 - Publicado em 31 mar 2012, 00h50

Celebrado em setembro de 1970, o casamento entre o empresário Roberto Baumgart e a bailarina clássica Yara Rossi, que adotaria depois o sobrenome do marido, tornou-se um dos temas favoritos das colunas sociais da cidade. O enlace foi um dos primeiros eventos realizados no Buffet França. Mais tarde, eles fizeram uma festa de arromba para a inauguração do apartamento em que foram morar, na Rua Caconde, no Jardim Paulista, onde cerca de 200 pessoas se refestelaram com champanhe e um cardápio que incluía caviar e lagosta ao curry.

Com 30 anos, ele era um dos herdeiros da Vedacit, líder do mercado nacional na venda de produtos químicos para a construção civil, embrião do grupo empresarial responsável posteriormente pela fundação e pelo controle de negócios poderosos como os shoppings Center Norte e Lar Center. Membro de um clã tradicional de descendentes de alemães, sempre preocupado em manter hábitos discretos mesmo depois de enriquecer, Roberto deixou a mulher se tornar o centro das atenções — papel que ela assumiu com gosto indisfarçável. 

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Sete anos mais jovem, Yara exibia no currículo, antes de subir ao altar, temporadas na Europa, onde estudou piano e balé em escolas de Frankfurt e em Londres. Com o passar do tempo, outras de suas habilidades ficaram conhecidas. Poliglota (afirma falar alemão, francês, espanhol, inglês e italiano), sempre magérrima e vaidosa (assumiu plásticas no rosto e no nariz, além de aplicação de silicone nos seios), começou a realizar empreendimentos, como a abertura de clínicas de estética na capital, e cultivou a imagem de madame esclarecida, citando filósofos gregos em meio a suas frases e colecionando livros raros, objetos de arte e porcelanas da Companhia das Índias, exibidos aos convidados nos eventos que lhe renderam a fama de ser uma das melhores anfitriãs da cidade. Nessas ocasiões, Baumgart não disfarçava o orgulho pela mulher. Ele tinha a vaidade de exibi-la a todos, quase como um troféu, e não se cansava de mimá-la com presentes caros.

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Passadas pouco mais de quatro décadas, porém, essa história com início tão glamouroso terminou num caso de polícia. Em janeiro do ano passado, um oficial de Justiça, acompanhado de uma viatura, bateu à porta do então endereço do casal, uma mansão no Morumbi, de estilo toscano, com 5.100 metros quadrados de área construída e 40 milhões de reais em valor de mercado. Meses antes, os dois haviam se decidido pela separação. Os sinais de crise conjugal estavam claros desde 1998, ano em que Yara e Roberto começaram a dormir em suítes distintas. Demorou mais de dez anos até eles resolverem que não havia outra solução a não ser formalizar o rompimento. 

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Nas primeiras discussões, surgiu a questão sobre quem deveria sair de casa. O negócio evoluiu rapidamente para um impasse, resolvido com uma atitude radical. Alegando que a convivência tinha se tornado insuportável, ele entrou com um processo pedindo o despejo da ex-mulher. No momento do cumprimento da ação, Baumgart estava internado, recuperando-se de um infarto, no Hospital Albert Einstein. Pega de surpresa enquanto jantava, ela teve apenas trinta minutos para recolher seus pertences e zarpar dali. Levou catorze malas cheias de roupas, mas não conseguiu carregar sequer uma joia de sua rica coleção, pois o segredo dos cofres onde ficavam as peças havia sido trocado. Entre as preciosidades, ficaram para trás colares com cascata de diamantes e pérolas da Cartier e da Bulgari, como o que usou no casamento de Athina Onassis e Doda Miranda, em 2005. Algumas delas custam cerca de 1 milhão de reais.

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Yara Baumgart - capa 2263
Yara Baumgart – capa 2263 ()

Desde então, Yara, hoje com 64 anos, e “Rolly”, 71, como a socialite tratava carinhosamente o ex, deixaram de se falar (procurados por VEJA SÃO PAULO, nenhum deles quis dar declarações). O caso virou um dos maiores processos de divórcio litigioso da história do país. Na ação inicial, em janeiro de 2011, Yara pedia uma pensão de 400.000 reais por mês, quantia suficiente segundo ela, para manter um padrão de vida que incluiria gastos a cada trinta dias de cerca de 100.000 reais com roupas e acessórios e outros estimados 18.000 reais com serviços de cabeleireiro e manicure, entre outros luxos e extravagâncias. Para se ter uma ideia, um dos maiores valores já fixados pela Justiça de São Paulo foi de 217.000 reais por mês, do empresário Flávio Maluf, filho do ex-governador Paulo Maluf, para a advogada Jacqueline Coutinho Torres. A decisão saiu em 2007, mas Maluf recorreu e conseguiu baixar a quantia para 100.000 reais. O processo acabou extinto três anos atrás. 

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Yara começou pedindo alto e, dois meses depois, mudou de estratégia: resolveu reivindicar muito, muito mais. Agora, briga pela partilha dos aquestos, ou seja, os bens amealhados durante o matrimônio. Baumgart está na lista dos maiores pagadores de impostos do país e tem um patrimônio estimado no mercado em aproximadamente 1 bilhão de reais. Ele se casou em regime de separação total de bens, mas isso não inibiu a pretensão de Yara. A união ocorreu sob a vigência do Código Civil de 1916. Segundo o artigo 259 da antiga legislação, presume-se que os bens adquiridos durante o matrimônio sejam divididos, caso o pacto não mencione de forma explícita a separação dos aquestos. “A jurisprudência é quase unânime nesse sentido”, afirma a advogada Carolina Mellone Etlin, uma das três representantes legais de Yara.

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Roberto Baumgart - capa 2263
Roberto Baumgart – capa 2263 ()

No julgamento ocorrido no primeiro semestre do ano passado na 1ª Vara da Família e sucessões do Foro regional de Pinheiros, o juiz não concordou com essa tese. O caso agora se encontra em segunda instância. Se a Justiça acabar dando razão a Yara, será preciso que um grupo de peritos entre em campo para avaliar a qual fatia da fortuna ela terá direito. Especialistas no assunto calculam que sua parte pode chegar a 400 milhões de reais. 

Além do palácio do Morumbi, que reúne duas adegas com capacidade para 7.000 garrafas, ao lado de uma academia completíssima em que a então dona da casa mantinha a forma física, e um acervo com cerca de 300 obras de arte, entre quadros de Portinari, Di Cavalcanti e Volpi, mais peças do vidreiro e artista francês Émile Gallé, expoente do art nouveau, o ex-casal possui um terreno de 108.000 metros quadrados na Ilha das Palmeiras, em Angra dos reis (RJ). Um dos vizinhos de lá é o apresentador Luciano Huck. No mesmo município, os Baumgart têm duas casas de frente para o mar e outro lote de 1.000 metros quadrados. Somente essa parte do patrimônio vale 30 milhões de reais. “É profundamente injusto o Roberto ficar com tudo e ela apenas com migalhas”, diz Ivo Aidar, outro dos advogados de Yara.

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Depois do episódio da expulsão da mansão, ela resolveu se instalar em uma das casas da família, também no bairro do Morumbi. O imóvel estava adaptado para abrigar o showroom do Vida Boa, spa de Yara inagurado em 2011. Ele funcionou durante nove meses. Antes de ocupar a propriedade, ela mandou reformá-la — e pegou um jatinho para passar uma temporada em Angra dos Reis enquanto a obra era tocada. Depois, engatou quatro meses em Paris “para esfriar a cabeça”, conforme contou a amigas. É para lá que pretende mudar-se definitivamente e começar vida nova.

Em meio a esse período, contratou o renomado advogado Sérgio de Magalhães Filho para resolver a questão do divórcio. Os dois romperam o contrato, e o caso acabou na Justiça depois que Yara deu um cheque sem fundos para pagar os 120.000 reais de honorários, que foi protestado. Mas ela resolveu o caso há dois meses, quitando a dívida. Enquanto não resolve o processo de separação, Yara recebe a renda do aluguel de alguns patrimônios que estão em seu nome, como endereços comerciais na Rua Groenlândia, no Jardim América, e na Rua Joaquim Floriano, no Itaim Bibi. Eles lhe garantem uma renda de cerca de 150.000 reais por mês. É muito para a esmagadora maioria das pessoas, mas insuficiente para bancar seu dispendiosíssimo estilo de vida. Até pouco tempo atrás, apesar das farpas trocadas dentro e fora dos tribunais, amigos íntimos de Baumgart contam que ele ainda se responsabilizava por contas da ex, como a fatura do cartão de crédito. “Roberto sempre foi fascinado por ela”, afirma um deles.

Yara e Roberto Baumgart - capa 2263
Yara e Roberto Baumgart – capa 2263 ()

A guerra judicial deu origem a outros processos relacionados. Entre eles, o pedido para que “Rolly” pague aluguel pelo período que vem morando sozinho na mansão do Morumbi. O imóvel está em nome dos dois. Yara quer 200.000 reais por mês, metade do valor avaliado para locação do endereço. Acusa também Baumgart de enriquecimento ilícito, pois dentro da casa teriam ficado objetos que ela herdou dos pais, como cristais, louças e quadros. O empresário, por sua vez, entrou com um pedido para revogar as doações de bens que fez para ela durante o matrimônio, alegando “ingratidão”. Isso inclui objetos como joias, livros e vários itens pessoais. Ele perdeu em primeira instância, mas deve recorrer da sentença.

Como é comum em processos de divórcio litigioso, o acúmulo de ressentimentos de ambos os lados fez respingar lama na discussão. Gente íntima de Baumgart adora comentar a grande proximidade que havia entre a socialite e o psicanalista Jorge Forbes, ainda no tempo em que ela era casada. No ano passado, quando estava investindo no spa Vida Boa, Yara contratou-o para dar consultoria ao projeto, pagando-lhe 80.000 reais por mês pelo trabalho. A afinidade entre os dois foi tamanha que provocou comentários. Um deles dá conta de que, logo após a separação, ela teria assumido sua paixão por Forbes. Ele nega veementemente o suposto caso. “Minha relação com essa senhora foi profissional”, afirma, enfático. “Nunca mais a vi desde que encerramos o trabalho.”

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Do lado da turma ligada a Yara, as pessoas dizem já tê-la ouvido comentar que achava suspeito o grande interesse de seu ex pelo trabalho do pianista catarinense Pablo Rossi, de 23 anos. Em julho de 2004, o casal o conheceu durante um concerto que ele deu com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Na época, o pianista morava em Florianópolis e procurava um patrocinador para bancar seus estudos. Baumgart aceitou assumir esse papel e o enviou para uma temporada de aprendizado em Moscou, no conceituado conservatório Tchaikowsky. Em março de 2008, desembolsou mais de 280.000 reais para a Sociedade Cultura Artística comprar um piano Steinway para a casa. A condição da doação: Pablo deveria ser o primeiro a tocá-lo, na récita de inauguração (o instrumento se perdeu cinco meses depois, no incêndio que destruiu boa parte das instalações do teatro). Até hoje, o empresário continua fazendo o mecenato para o jovem talento. “Nunca tive nenhum outro tipo de relacionamento com o Roberto”, diz Pablo. “Ele apenas apoia meus estudos. É um absurdo tal ilação.”

Considerando a alta temperatura em que a disputa já se encontra, os próximos capítulos da batalha prometem. Para pôr a mão no que acredita lhe ser de direito, Yara justifica ter ajudado no crescimento da carreira do ex-marido. Seja cuidando dos quatro filhos do casal, articulando encontros profissionais ou promovendo festas para amigos e fornecedores. “Antes de me conhecer, Roberto nunca havia ido ao exterior. Eu apresentei o mundo a ele”, confidenciou a socialite semanas atrás a uma amiga. Yara se gaba igualmente de tê-lo introduzido no mundo das artes, universo com que está familiarizada há muito mais tempo.

Ela gosta de contar histórias de concertos a que assistiu em países como Áustria, Rússia e Itália e diz que nunca pensou duas vezes antes de pegar um avião para conferir exposições em qualquer canto do mundo. Do lado dos Baumgart, a decisão de não tocar publicamente no assunto esconde um grande ressentimento. Não bastasse enfrentar o desconforto de ver os detalhes do divórcio sendo discutidos nas rodas sociais, a percepção é de que o empresário responsável por presentear a ex com um padrão de vida elevado corre agora o risco de ser parcialmente “depenado” por ela na Justiça. O retrato dos anos 70 do casal feliz e admirado por todos, definitivamente, faz parte do passado.

A PENSÃO DE 400.000 REAIS 

Yara Baumgart - capa 2263
Yara Baumgart – capa 2263 ()

Alguns gastos relacionados por Yara no pedido de pensão alimentícia. Dois meses depois de apresentá-lo, abriu mão da mesada e passou a reivindicar parte do patrimônio

■ Cerca de 100.000 reais em roupas, acessórios e demais artigos ligados à vestimenta

■ 18.000 reais em gastos com cabeleireiro, manicure e outros cuidados com o corpo

■ Despesas com cerca de vinte funcionários da casa do Morumbi, entre eles seguranças, copeiros e mordomos

■ Folha de pagamento dos funcionários das casas de Angra dos Reis

■ Viagens em primeira classe ao exterior

■ Hospedagem em hotéis cinco ou seis estrelas, se possível em suítes presidenciais

BATALHA NOS TRIBUNAIS

Os advogados estrelados que brigam no caso 

Advogado Dilermando Cigagna Jr - capa 2263
Advogado Dilermando Cigagna Jr – capa 2263 ()

Antes de assinar uma procuração, o empresário Roberto Baumgart cotou orçamentos entre os principais advogados de família da cidade. Ao final, optou por contratar em 2010 os serviços de Dilermando Cigagna Jr., responsável pela defesa, em causas semelhantes, de clientes como Jacqueline Coutinho Torres (ex de Flavio Maluf) e a notória Val Marchiori. O advogado não quis comentar a história. “É um assunto confidencial”, disse. Uma de suas vitórias foi garantir o bloqueio dos bens que estão em nome de Yara. 

Advogados Yara Baumgart - capa 2263
Advogados Yara Baumgart – capa 2263 ()

Dilermando enfrenta nos tribunais três colegas contratados por ela — os também especialistas em direito de família Ivo Aidar, Amaro Alves de Almeida Neto e Carolina Mellone Etlin. Eles se ocupam do processo do divórcio e da partilha de bens, além de outras ações movidas por ela contra Baumgart. Uma delas diz respeito a um processo de enriquecimento ilícito. O motivo é que o empresário teria se apoderado de bens que Yara herdou da família, como louças, cristais e quadros. Tudo isso ficou na mansão do Morumbi, de onde Yara foi despejada no ano passado.

ALGUMAS DAS POSSES EM DISPUTA

Exemplos de tesouros de um patrimônio estimado em mais de 1 bilhão de reais 

Casa em Angra - capa 2263
Casa em Angra – capa 2263 ()

O casal costumava passar os fins de semana em Angra dos Reis, onde tem propriedades que somam 30 milhões de reais, uma parte delas na Ilha das Palmeiras, frequentada por gente famosa como o apresentador Luciano Huck.

 

Relógio Patek Philipp - capa 2263
Relógio Patek Philipp – capa 2263 ()

Yara possui uma série de relógios, como o suíço Patek Philippe, que em versão “simples” custa mais de 50.000 reais. 

Colar Yara Baumgart - capa 2263
Colar Yara Baumgart – capa 2263 ()

A socialite tem predileção por colares da Cartier e da Bulgari. Há itens que valem 1 milhão de reais. 

Obra de Émile Gallé - capa 2263
Obra de Émile Gallé – capa 2263 ()

Os Baumgart amealharam cerca de 300 obras de arte, entre as quais cinquenta peças do vidreiro e artista francês Émile Gallé, expoente do art nouveau. O acervo é avaliado em 5 milhões de reais. 

Mansão dos Baumgart - capa 2263
Mansão dos Baumgart – capa 2263 ()

Com 5.100 metros quadrados de área construída, a mansão do Morumbi vale 40 milhões de reais. Entre outras coisas, tem móveis ingleses e franceses, duas piscinas e duas adegas com capacidade para 7.000 garrafas.

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