O futuro do prédio da Daslu
Ex-templo do luxo vai abrigar quatro restaurantes, escritórios e teatro para 1.200 pessoas
Em tons de bege, com abundância de molduras e colunas, o edifício neoclássico na Marginal Pinheiros representou o auge e o declínio de um império comandado pela empresária paulistana Eliana Tranchesi, que morreu na sexta-feira 24, aos 56 anos, vítima de câncer. Os 20.000 metros quadrados do prédio, sobrepostos em quatro pavimentos de lojas, acomodavam um estoque de altíssimo luxo desde 2005, quando a Daslu deixou sua antiga sede, um conjunto de casas na Vila Nova Conceição. Pouco mais de um mês após sua inauguração, o ambicioso empreendimento passou a estampar o noticiário não pelo brilho de suas marcas reluzentes, mas pela acusação de sonegação de impostos e fraude de importações.
+ Os caçadores de terrenos na capital
Agora, o gigante da Vila Olímpia, propriedade da construtora WTorre desde 2006, volta aos holofotes. A empresa está desmontando toda a parte interna e em breve começará a obra de 125 milhões de reais que vai mudar radicalmente a cara do lugar. O projeto do escritório americano Arquitectonica, responsável por construções como o Bronx Museum of the Arts, em Nova York, dá adeus ao neoclássico. A aposta para a fachada são os revestimentos de placas brancas de crystalato (material feito de vidro) importadas do Japão e vidros espelhados. Mais seis andares serão erguidos ali, totalizando onze pavimentos e 28.000 metros quadrados de área construída. Nesses novos andares funcionarão escritórios, com áreas entre 1.200 e 5.000 metros quadrados.
+ Alguns imóveis milionários ainda não pagam IPTU
Uma novidade que vai intensificar o vaivém noturno é a construção de um teatro para 1.200 pessoas. Ele concorrerá com casas como o Teatro Abril (1.530 lugares), Bradesco (1.457) e Alfa (1.100). A programação será focada em musicais da Broadway. A obra, com conclusão prometida para 2013, faz parte do complexo WTorre Plaza, inspirado no Rockefeller Center de Nova York. Situado numa das regiões mais valorizadas da cidade, entre as avenidas Nações Unidas, Chedid Jafet e Juscelino Kubitschek, o terreno de 60.000 metros quadrados também abriga a Torre Santander, o Shopping JK Iguatemi (com previsão de inauguração para meados de abril) e outros dois edifícios corporativos, em fase final de construção (veja abaixo). “Transformar a região era um sonho antigo”, diz Walter Torre Jr., presidente do conselho de administração da WTorre e responsável pela nova arena do Palmeiras, em obras na Pompeia. “Em breve, este será um local onde as pessoas vão trabalhar, fazer compras e curtir restaurantes sem a preocupação de incomodar os vizinhos à noite.”
Os quatro restaurantes, entre eles o badalado Serafina, nos Jardins, ficarão no térreo da antiga Daslu. Há ainda negociação com o Spot, em Cerqueira César. A ideia é atrair quem dá expediente na região para circular pelas alamedas arborizadas e aproveitar as instalações. A prefeitura exigiu do empresário algumas obras como contrapartida, a fim de melhorar o trânsito na região, que certamente ficará ainda mais complicado. O complexo contará com 6.000 vagas de estacionamento, o que não chega a ser uma notícia tranquilizadora, uma vez que, com a conclusão das obras, está sendo estimado um número de 16.000 pessoas trabalhando nos escritórios.
A WTorre começou a investir os 90 milhões de reais previstos nas obras exigidas. Uma delas é uma ciclovia de 4,8 quilômetros de extensão às margens do Rio Pinheiros. Entre as melhorias viárias, está a construção de um viaduto que ligará a Avenida Juscelino Kubitschek à pista central da marginal no sentido Castelo Branco, sem previsão de término. A construtora também revitalizou o Parque do Povo, área que pertence à administração municipal e que a empresa mantém com gastos de 100.000 reais por mês.
A marca Daslu permanece viva e presente no comércio sofisticado da cidade. Assim como o Shopping Cidade Jardim, o futuro Shopping JK Iguatemi abrigará uma loja de 1.500 metros quadrados da grife. Menos suntuosa e com menos glamour do que quando surgiu ali e embasbacou os paulistanos pelas suas ambiciosas dimensões, mas com sua linha de roupas que continua sendo objeto de desejo.
DETALHES DO EMPREENDIMENTO
Investimento: 125 milhões de reais
Entrega: Prometida para 2013
Restaurantes: Estão programados quatro estabelecimentos, entre eles uma filial do badalado Serafina
Estacionamento: 800 vagas
Escritórios: Seis pavimentos de salas com unidades de 1.200 a 5.000 metros quadrados
Teatro: Lugares para 1.200 pessoas
COMPLEXO NA VILA OLÍMPIA
1. Parque do Povo – Uma área de mais de 30.000 metros quadrados que pertence à prefeitura foi revitalizada pela construtora, que gasta cerca de 100.000 reais por mês na manutenção de todo o parque
2. Shopping JK Iguatemi – Com 36.000 metros quadrados, o futuro centro de compras — deve ser inaugurado em abril — terá quatro pisos de lojas, entre elas cerca de quarenta grifes
3 e 4. Torres empresariais – Com vista para o Parque do Povo, Via Funchal e Vila Olímpia, os prédios abrigarão escritórios e 1.000 vagas de estacionamento
5. Edifício Santander – Antigo “esqueleto da Eletropaulo”, o espigão foi reformado e vendido ao banco em 2009. Hoje, trabalham ali 8.000 funcionários
6. Antiga Villa Daslu