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Estrangeiros sem teto: Ron Stephen White

O canadense, que hoje tem 67 anos, teve dificuldade de encontrar trabalho em razão da idade

Por Claudia Jordão
Atualizado em 5 dez 2016, 17h12 - Publicado em 28 abr 2012, 00h50

“Os três primeiros meses do ano passado foram os mais difíceis da minha vida. Eu já morava no Brasil quando comecei a enfrentar grandes problemas financeiros. É praticamente impossível um homem da minha idade arrumar emprego em São Paulo. Durante um tempo, fiquei na casa da minha namorada, que é brasileira e mora na Zona Sul. Mas ela vive com a família, e a coisa não deu certo. Acabei indo parar na rua. Para sobreviver, durante o dia comia os restos de comida deixados nas praças de alimentação de shoppings. É impressionante como o brasileiro desperdiça coisas. Bastava esperar um pouco nesses locais para colocar a mão em pratos inteiros de sushi, por exemplo. À noite, aproveitando que sou idoso e não pago passagem, entrava num ônibus em direção a Cumbica. Dormia no aeroporto. Sempre fiz questão de andar limpo para não ser enxotado dos lugares. Com uma parte do dinheiro das esmolas que recebia, comprava sabonetes para tomar banho direito. Conseguia passar despercebido em vários lugares. Certa vez, usei um cartão daqueles que servem como chave em hotéis. Graças a ele, frequentei a piscina de uma das unidades do Marriott (não vou dizer qual para não ter problemas).

+ Estrangeiros sem teto

Depois de um tempo vivendo assim, fiquei fraco e a cabeça começou a falhar. Até que uma noite eu vagava próximo do Hospital São Paulo (na Vila Clementino), quando um PM me encaminhou para o médico. De lá, fui levado para o albergue onde vivo até hoje, na Cidade Ademar. As pessoas são cuidadosas, como e durmo muito bem. Não penso em voltar para a minha terra: tenho apenas um irmão por lá, além de não gostar nada de frio. Sou chef de cozinha, estudei em uma escola de culinária em Nova York e trabalhei em hotéis como o Fairmont Royal Park, em Toronto. Vim pela primeira vez a São Paulo para participar de um festival de gastronomia no hotel Caesar Park, em 1996. Um ano depois, conheci a minha namorada e me fixei aqui. Meu sonho é trabalhar para a comitiva canadense na Copa do Mundo e na Olimpíada no Brasil. Para isso, já estou em contato com o consulado do meu país. Possuo muita experiência e espero não ser descartado pela idade. Enquanto tiver saúde, não vou desistir de procurar trabalho. Todos os dias, vou ao Sesc Santo Amaro para atualizar o meu blog e fazer contatos, além de nadar um pouco. Enquanto isso, ganho um dinheiro com algumas aulas de inglês que dou para pessoas que conheço.”

 

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