O frio, no dizer popular, está de rachar, assim como o calor esteve de rachar; ou está de matar, como o calor esteve. Um está de congelar, e esteve o outro de derreter; um é cortante, o outro foi abrasador.
Esses lugares-comuns sobre o tempo passeiam na boca do povo, e neste julho as exclamações sobre o frio escapam de bocas fumegantes em meio à excitação dos encontros fugazes nos dias de temperatura abaixo de 10 graus na capital e oscilando para baixo e para cima de zero nas cidades serranas. É a utilidade dos lugares-comuns: servem a todos, irmanam todos, e a seu modo aquecem as relações.
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Em encontros menos ligeiros, há tempo para opiniões:
— Adoro o frio!
— Ai, não, prefiro o calor!
Os defensores de um e de outro destacam os muitos prazeres das estações preferidas. Alguns com um fundinho de menosprezo pelo gosto do outro, ou com um leve sentimento de superioridade por desfrutar momentos prazerosos em temperaturas que trazem desconforto a outros. E argumentam:
— Tem coisa mais gostosa do que ficar enroladinha no sofá debaixo de um cobertor quentinho, vendo alguma coisa boa na televisão junto com pessoas queridinhas, filhos, maridão, namorado?
— Cara, bom mesmo é bermudão, camiseta, chinelo de dedo e uma linda duma cerveja num bar de mesa na calçada, olhando as belezuras da vida.
— Eu amo, amo!, chegar em casa, botar os pés na frente da lareira, copo de vinho tinto na mão, e dar bicadinhas, olhando o fogo através do vinho, ai, é tudo de bom!
— Cara, as mulheres ficam lindas no verão, aquela pele dourada, a saia curta levezinha, alcinhas, meu, que que é aquilo, aquele pudim de leite condensado passando por você…
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— Vou falar para você, eu gosto, gosto demais de ver uma mulher classuda, de bota, calça comprida justa, e aquele casaco bem cortado, cintado, uma fenda enorme, echarpe no pescoço, pisando firme na Avenida Paulista, batendo salto, toque, toque, toque, aquele rastro de perfume… Maravilha.
— No calor é que se pode apreciar um bom suco. Refresca até a alma. Abacaxi, açaí, caju, manga, lichia, lima… Você não consegue separar o sabor do frescor, tomando conta de você devagarinho.
— Ai, um chocolate quente, um cappuccino, hum, você vai esquentando por dentro, e aquele friozinho lá fora…
— Verão tem festa, né? É alegre: Natal, Ano-Novo, foguetório, Carnaval. Deus me livre do frio.
— Fogueira, quentão, quadrilha, forró, canjica, pinhão quente, cachaça, e quem se importa com o frio? É até melhor, tempera a festa.
— Praia, quem não gosta de uma praia? Criançada de férias, muito sorvete, picolé, camarão, barrigada na piscina…
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— Gosto de férias é em julho, na montanha. Hotel-fazenda, passeio a cavalo, aquela sopa fumegante à noite, pão de alho quentinho, muito cobertor, lareira, livro, bom demais.
E assim vão, jogando argumentos para um lado e para o outro, contabilizando prazeres. Se colocarmos à parte os fundamentalistas de cada opinião, veremos que tanto os calorentos quanto os friorentos normais são capazes de aproveitar os prazeres de cada estação no momento certo. Claro, há lugares ruins para aguentar calor. Ônibus é um. E há muitos lugares difíceis para aguentar frio. Esquina é um. Mas o número de lugares e momentos para aproveitá-los é muito maior.
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