“O Jardim” apresenta três tramas encenadas simultaneamente
Peça confirma o talento do dramaturgo e diretor mineiro Leonardo Moreira
O dramaturgo e diretor mineiro Leonardo Moreira tem 28 anos e ambição de sobra. Egresso da faculdade de artes cênicas da USP, ele fundou a Cia. Hiato e, desde 2008, surpreende os paulistanos com espetáculos de qualidade crescente como “Cachorro Morto” e “Escuro”, vencedor, em março, do Prêmio Shell de texto, cenário e figurino. No drama O Jardim, em cartaz no Sesc Belenzinho, Moreira firma-se como o nome mais promissor da atualidade ao oferecer uma refinada dramaturgia de estrutura fragmentada e uma encenação que desafia a atenção do espectador.
“Cachorro Morto” é ambientado no presente; “Escuro”, na década de 50. “O Jardim”, porém, se passa em três épocas — e em todas elas os personagens enfrentam rupturas. No ano de 1938, um casal (Thiago Amaral e Fernanda Stefanski) que acaba de comprar uma casa encara a separação. Após quatro décadas, em 1979, duas irmãs (Luciana Paes e Maria Amélia Farah) internam o pai (Edison Simão) em um asilo. Nos tempos atuais, uma mulher e a empregada (Aline Filócomo e Paula Picarelli) constatam o abandono da residência onde a família viveu e gravam um vídeo.
A montagem propõe uma apresentação simultânea das três histórias, com sutis interferências entre as situações. Cada trama é exibida para três plateias, posicionadas em ângulos diferentes na mesma sala. Assim que terminam suas cenas, os atores mudam de posição no palco, em uma espécie de carrossel. Ao transitar por questões relacionadas à memória afetiva ou factual, Moreira fornece as ferramentas para a compreensão das narrativas e, apoiado no ótimo elenco, instiga o público a mergulhar nesse painel e se identificar com situações ali vividas.
AVALIAÇÃO ✪✪✪✪