Pequena Krug é uma das mais célebres produtoras de champanhe
Com rótulos muito disputados, garrafas chegam a custar 15.000 reais no Brasil
Entre as mais célebres maisons de Champagne, a Krug é uma das menores. Seu tamanho está em proporção diametralmente oposta à qualidade da bebida que elabora, em torno de 500.000 garrafas por ano. Da cave na Rue Coquebert, no centro de Reims, saem espumantes superlativos, encantadores e, particularmente, caros. O mais simples, se é possível empregar essa denominação em um Krug, tem preço idêntico ao das linhas tops da maioria dos concorrentes, entre eles o Dom Pérignon, da Moët & Chandon, e o La Grande Dame, da Veuve Clicquot, aliás, grifes que, como a Krug, pertencem ao conglomerado de luxo LVMH.
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O requinte faz parte da empresa desde sua criação, no século XIX. Nascido na Alemanha, o fundador Johann-Joseph Krug era um hábil negociante de vinhos que decidiu abrir a própria casa a partir de um objetivo ousado, ou melhor, atrevido. Não interessava a ele lançar mais um bom rótulo entre os tantos encontrados na região de Champagne. Queria fazer um espumante sublime, de qualidade inquestionável, mantendo o mesmo padrão de um ano para outro.
A fim de atingir essa meta, trabalhou com alguns produtores de champanhe para descobrir o segredo das borbulhas engarrafadas. Especializou-se na assemblage, ou blend — nome dado à mistura clássica dos vinhos chardonnay, pinot noir e pinot meunier —, e legou esse conhecimento a seus descendentes. Apesar de ter sido vendida nos anos 70 ao grupo Rémy-Martin (transformado depois em Rémy-Cointreau) e, em 1999, à LVMH, a Krug é das raras maisons a manter a família fundadora ligada ao negócio. A representação está hoje nas mãos de Olivier Krug, da sexta geração.
Como primeiro cuidado aparece a escolha do trio de uvas brancas e tintas usadas na linha de apenas cinco rótulos. Em vez de elaborar a bebida e imediatamente colocá-la no mercado, a Krug fermenta seus vinhos em barris de carvalho de 205 litros. Em cada um deles, aparece identificado o vinhedo de origem da matéria-prima, informação essencial. Afinal, os cachos não vêm de um único lugar, mas de vários terrenos pertencentes a uma constelação de vinhateiros, que oferece o melhor de sua produção à empresa. Depois de processada, a bebida reflete as características do terroir onde as videiras foram plantadas. Daí a importância de vinificar separadamente as uvas de cada vinhedo.
Primeiro dos champanhes criados pela maison, o Grande Cuvée respeita a tradicional fórmula de combinar três tipos de vinho. “É um trabalho artesanal, semelhante ao dos perfumistas, que mesclam diferentes aromas para obter um resultado sofisticado num líquido único”, disse Margareth Henríquez, presidente da Krug, em visita que fez a São Paulo em fevereiro último.
As garrafas disponíveis no mercado neste momento, cotadas em média a 900 reais, são da colheita de 2003. Na elaboração, acrescentaram-se cerca de cinquenta vinhos, que permaneceram armazenados na cave, que dispõe de 120 a 150 exemplares para adicionar à assemblage. “O mais antigo deles foi produzido em 1988”, conta Margareth. “Só assim se entende que luxo é sinônimo de tempo e paciência.”
Embora demorem anos para ficar prontos, os champanhes Krug se distinguem pelo frescor, pela acidez equilibrada e pelo aroma marcante de nozes. No palato, revelam complexidade e potência encontradas somente em vinhos nobres. Com pequenas variações, adota-se processo idêntico na elaboração do sedutor Rosé e do exuberante Vintage. Para ganhar a tonalidade cereja-claro, a versão rosada recebe quantidade extra de uva pinot noir discretamente macerada junto das cascas. Além do sabor acentuado de frutas vermelhas comum aos tintos, o Rosé tem aroma inebriante. Custa, em média, 1.400 reais. O Vintage, só lançado em anos considerados fenomenais, revela-se a expressão máxima de uma safra. Em sua composição, entram apenas uvas colhidas no ano de sua elaboração. A edição 1998 sai por cerca de 1.100 reais.
Completam o portfólio duas exceções no estilo de vinificar da maison Krug: o Clos du Mesnil e o Clos d’Ambonnay. Ambos não são blends e, obrigatoriamente, exibem a safra estampada no rótulo. Como todo blanc des blancs, o soberbo Clos du Mesnil leva apenas uvas chardonnay. Neste caso, colhidas em um vinhedo murado de menos de 2 hectares no centro da cidadezinha de Mesnil-sur-Oger. Datada de 1698, a charmosa propriedade foi adquirida pela família Krug em 1971. Replantaram-se todas as videiras logo em seguida, e a primeira colheita ocorreu oito anos depois. Desde então, esse champanhe só pode ser engarrafado quando um comitê de degustadores da empresa acredita tratar-se de uma safra excepcional. Os exemplares de 1998, dos quais foram lançadas cerca de 10.000 garrafas, custam por volta de 3.600 reais.
Uma minúscula plantação de pouco mais de meio hectare de pinot noir no sudeste da Montanha de Reims fornece as uvas empregadas para fazer o Clos d’Ambonnay, cuja safra de estreia é a 1995. Para atingir a maturação ideal, 3.000 garrafas do blanc de noirs permaneceram na cave da empresa descansando por catorze anos. Elas só começaram a ser comercializadas em 2009. Embora o Brasil esteja entre os vinte maiores compradores de Krug no mundo, só dois exemplares dessa preciosidade chegaram ao país e foram vendidos em São Paulo.
Quem quiser encomendar uma garrafa hoje precisará fazê-lo diretamente à LVMH do Brasil e terá de desembolsar 15.000 reais. Em fevereiro, durante a comemoração do aniversário do restaurante japonês Kinoshita, onde a Krug mantém uma das cinco salas exclusivas da marca no planeta, Margareth Henríquez demonstrou grande entusiasmo pelo mercado nacional. “Há bastante potencial de expansão”, acredita a executiva. “O Brasil deve integrar o grupo dos nossos dez maiores compradores nos próximos seis anos.”