Leonardo Moreira estreia no teatro juvenil com “Menor que o Mundo”
Em cartaz no palco do Sesi, peça é inspirada na poesia de Carlos Drummond de Andrade
Com dois Prêmios Shell como autor no currículo, por “Escuro” e “O Jardim”, o diretor de teatro e dramaturgo Leonardo Moreira ainda se diz inseguro apesar de todo o reconhecimento que conquistou com apenas 29 anos. “Sempre que vou começar um novo projeto, acho que não sei fazer.”
Para Leo, como é chamado nos bastidores, o acumulo de críticas positivas é ao mesmo tempo gratificante e perigoso, por conta da grande expectativa criada ao redor das produções da Cia. Hiato, que ajudou a fundar.
Fã dos projetos longos, ele diz se cercar de cuidados antes de qualquer estreia. Os já citados “Escuro” e “O Jardim” exigiram mais de um ano de ensaio. “Ficção”, que começa a ser preparado, deve chegar aos palcos apenas em 2013.
A nova peça, segundo ele, deve ter um pouco de Hitchcock e Almodóvar. O espetáculo irá aprofundar a discussão sobre o espaço entre o ficcional e a realidade, que inclusive inspira o nome de sua companhia.
Enquanto isso, Leo se arrisca em novas terras, pela primeira vez à frente de um espetáculo juvenil, o poema cênico “Menor que o Mundo”, inspirado na obra de Carlos Drummond de Andrade.
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Com o espetáculo, ele toma a frente da Cia. Nau de ícaros, que se aproveita de técnicas circenses, em uma peça anunciado para os jovens e que carrega toda a profundidade do poeta mineiro.
Há quem possa dizer que “Cachorro Morto”, peça que ajudou a criar a Cia. Hiato, em 2008, era também voltada ao público mais novo, tendo sido indicada inclusive ao prêmio Femsa na categoria melhor espetáculo jovem. Leo explica que o texto foi sempre pensado para adultos.
Baseado no romance “O Estranho Caso do Cachorro Morto”, do inglês Mark Haddon, a encenação era um drama sobre um garoto com síndrome de Asperger intrigado com o assassinato do cachorro da vizinha. “Usamos a deficiência como um pretexto para falar da diferença”, resume. Ele diz que o tema se repetiu, de alguma forma, nos textos que vieram depois.
Inspirações
Interessado em dar um tom biográfico a suas montagens, o diretor não raro se inspira em momentos de sua infância, na cidade de Areado, interior de Minas Gerais. Outras vezes, tira dos atores experiências que podem ajudá-lo a criar.
Outra grande fonte de inspiração é o cinema, já que viu a primeira peça de sua vida apenas aos 18 anos, quando se mudou para a capital paulista a fim de cursar artes cênicas na Universidade de São Paulo. Antes, estudou para o vestibular de audiovisual, também na USP. Passou pela primeira fase, mas perdeu o horário no dia da segunda prova.
Na época, trabalhava em uma locadora de vídeos em Ribeirão Preto. Assistia a cerca de cinco filmes por dia, número que inclui as idas periódicas ao cinema. Hoje, ainda sonha em escrever para a sétima arte e para a televisão. “A linguagem da novela é desvalorizada, apesar de ser difícil: você tem que pensar em um público muito grande e retomar a história diariamente.”
No papel, já há dois projetos audiovisuais que espera lançar em 2013 — o longa de animação “Halley”, com direção de Fernando Frahia, e o seriado “O Amor Não Tem Vista para o Mar”.
A Cia. Hiato
O grupo de teatro surgiu de um momento em que Leo estava infeliz com seu trabalho. Foi quando mineiro decidiu inscrever “Cachorro Morto” em um edital e o sucesso repentino o projetou.
O talento vem desde criança, quando acumulava rascunhos de diversas histórias, e montava e dirigia encenações amadoras. “Bagagem ou Memórias Extraviadas” foi um dos primeiros textos que submeteu à crítica, em 2007, pelo projeto Seleção Brasil em Cena. Hoje, ele diz achar o texto ruim.
Apesar de consagrado ainda jovem, Leo precisa lidar com sua insegurança diariamente. Com “Prometheus – A Tragédia do Fogo”, em outubro de 2011, teve de aprender a confiar seu texto a outra pessoa, no caso a diretora Maria Thaís.