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Coreanos são sucesso no Bom Retiro

Eles mudaram a cara do lugar, bancando projetos arquitetônicos que não fariam feio em endereços mais chiques

Por Sandra Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h08 - Publicado em 7 out 2009, 19h39

O primeiro navio que trouxe emigrantes da Coréia para São Paulo chegou em 1963, com 103 passageiros daquele país a bordo. De lá para cá a comunidade coreana cresceu – hoje reúne mais de 50 000 pessoas na capital – e apareceu. É ela a grande responsável pela revitalização do Bom Retiro. Quando os coreanos começaram a investir no bairro, muitas das lojas estavam vazias. Hoje, cerca de 2 000 imóveis comerciais são tão disputados que, segundo agentes imobiliários da região, o metro quadrado chega a custar 25 000 reais. Mais de 70% deles são ocupados pelos coreanos.

Com medo de ser copiada

Estilista e proprietária da Diva Couture, com uma loja de atacado no Bom Retiro e outra de varejo em Moema, Priscila Park, de 26 anos, é dona também de uma confecção nos Estados Unidos, aberta há dez anos. Celebridades americanas como a apresentadora e ex-modelo Tyra Banks e a patricinha Nick Hilton são clientes da grife. “Por favor, não mencione na reportagem o nome da minha marca lá fora”, pede ela, que inaugurou o negócio no Brasil há apenas um ano. “Se os coreanos descobrirem onde fica a loja, vão viajar para copiar minhas roupas.” Embora seja filha de um casal nascido na Coréia do Sul, que em meados dos anos 60 trocou a terra natal pelo Bom Retiro, Priscila se refere aos conterrâneos de seus pais como “eles”. Brasileira de nascimento e americana de criação – ela viveu mais da metade de sua vida em Los Angeles –, a jovem designer tem razão em temer que a vizinhança imite suas criações. Os lojistas coreanos são famosos por “xerocar” coleções inteiras. Eles viajam para o exterior munidos de máquinas fotográficas e registram o que encontram nas vitrines de marcas famosas. O fato de as grifes do Hemisfério Norte estarem sempre uma estação à frente ajuda a fazer funcionar esse sistema. Já Priscila jura preferir o lápis à câmera. “Desenho mais de 200 peças por temporada”, afirma.

Do divã aos cabides

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Filho mais velho de coreanos que chegaram ao Brasil no início da década de 70, Mateo Chang, de 27 anos, começou a trabalhar aos 16, varrendo o chão e recolhendo o lixo da loja da família. “Na nossa cultura é praxe os filhos ajudarem os pais quando eles têm um negócio próprio”, diz. Por causa dessa tradição, Chang não pôde terminar o curso de psicologia iniciado em uma universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, para onde ele se mudou na época de prestar vestibular. “Voltei para o Brasil atendendo a pedidos, numa fase em que os negócios não iam muito bem.” Há um ano o quase-psicólogo administra uma loja própria, a OAK, que pretende entregar para um de seus quatro irmãos. “As relações comerciais são difíceis e muitas vezes rendem brigas”, reclama. Seu sonho é abrir uma ONG. “Quero ajudar as pessoas, ver sorrisos.”

“Detestamos a fama”

Adriano Pak atua, informalmente, como uma espécie de porta-voz da comunidade coreana. Fotógrafo profissional e dono de uma agência de publicidade que cria catálogos para grifes do Bom Retiro, ele diz que por trabalhar na área de comunicação compreende bem o “drama” dos jornalistas que precisam entrevistar imigrantes no bairro. Avessos a perguntas e fotografias, os coreanos são frios no trato com os repórteres e muitas vezes respondem na língua natal. “É que eles ‘desaprendem’ o português quando o assunto não lhes interessa”, diz Pak. O fotógrafo explica que seus conterrâneos – ele chegou ao Brasil em 1963 – não consideram a fama um indicativo de sucesso. Pelo contrário. Uma pessoa bem-sucedida é aquela que ganha muito dinheiro e leva uma vida discreta. “Os coreanos não gostam da popularidade porque ela pode ser uma desvantagem na hora de negociar”, afirma.

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