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Vinhos produzidos por Biondi Santi na região italiana da Toscana

O porfólio das empresas da grife inclui os arrojados rótulos do Castello di Montepò e as linhas do clássico Brunello di Montalcino Biondi Santi

Por Arnaldo Lorençato
Atualizado em 20 jan 2022, 09h23 - Publicado em 4 dez 2013, 18h02
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Parecia uma viagem tranquila pela paisagem montanhosa da Toscana. Depois de passar parte da manhã na histórica Montalcino e comprar algumas garrafas para abastecer a adega, bastava pegar a rodovia sinuosa e dirigir até o Castello di Montepò, destino da minha visita naquele dia. Na secular propriedade em Maremma, está instalada a vinícola de Jacopo Biondi Santi, descendente de vinhateiros aos quais se atribui a honraria de ter criado a denominação de origem Brunello di Montalcino. Depois de meia hora sob o sol de fim de outono, o GPS me levou a uma estradinha esburacada e, de repente, eu estava entrando em um rio cuja ponte viera abaixo na última temporada de chuvas. Por mais que insistisse em tentar outro caminho, a bússola moderna me jogava para o mesmo ponto (cuidado, nunca confie totalmente nessas máquinas). Foi preciso entrar em uma propriedade rural para que uma senhora, o único ser vivo que encontrei naquele cenário bucólico, indicasse o rumo certo. Aflito, bati na porta monumental do castelo com nada menos que uma hora de atraso.

 

“O Brasil é surpreendente”, disse Jacopo Biondi Santi, antes mesmo de começar a contar a saga de sua família no universo do vinho por meio de slides projetados na sala de jantar da magnífica propriedade. “Seu país se tornou o quarto comprador desse rótulo no mundo. Despacho 1 250 caixas de doze garrafas por ano para lá”, completou, referindo-se a um de seus tintos de preço intermediário, o Sassoalloro, o único de seus vinhos elaborado só com a sangiovese, uva-símbolo da Toscana.

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O desenvolvimento dessa cepa está diretamente ligado aos ancestrais de Biondi Santi. Coube ao bisavô dele, Ferruccio Biondi Santi, isolar e produzir um clone da sangiovese grosso, chamada originalmente de brunello. Logo em seguida, esse cultivo projetou Montalcino como uma das mais importantes regiões vinícolas do planeta. Filho e sucessor de Ferruccio, Tancredi não só aprimorou o clone, com a ajuda de especialistas da Universidade de Florença, como conseguiu algo inédito: batizou a uva com o nome de sua família, BBS11, ou Brunello Biondi Santi 11. Também foi um dos pioneiros naquela região a elaborar vinhos somente de safras especiais, e não todo ano. Algumas delas se tornaram míticas, como a de 1945. Até hoje, a BBS11 é a única variedade utilizada pela vinícola Tenuta Il Greppo, que era comandada pelo pai de Jacopo, Franco Biondi Santi, morto em abril, aos 91 anos. Franco sempre foi um purista, defensor do uso exclusivo da sangiovese em seus vinhos, muito embora seu nome tenha sido arranhado no escândalo da adulteração, em 2008, quando alguns renomados produtores foram acusados de adicionar uma porcentagem de merlot à bebida.

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Biondi_Santi_Morione_Arnaldo_Lorencato
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Com uma visão diferente da do pai, Jacopo deixou a Tenuta Il Greppo, no início dos anos 1990, para montar o próprio negócio. Foi uma saída marcada por certa turbulência, já que, ao mesmo tempo em que se beneficiava de um nome construído ao longo de mais de dois séculos, poderia pôr a reputação familiar em xeque, caso a empreitada não desse certo. Depois de detalhados estudos do clima e do solo, ele instalou-se no Castello di Montepò, em 1996. Em vez de manter os pés no terreno seguro da tradição, preferiu produzir vinhos modernos, no estilo que ficou conhecido internacionalmente como supertoscano, que não segue regras de denominação de origem. Além de cultivar a sangiovese, plantou vinhedos das cepas francesas cabernet sauvignon, merlot, sauvignon blanc e chardonnay, essenciais na composição de suas bebidas. Antes do almoço para o qual fui convidado, tive a oportunidade de provar todos os rótulos do portfólio, do mais simples ao mais sofisticado. 

Primeiro, foram apresentados o branco, o rosado e o tinto Braccale, a linha mais básica. No outro extremo, o topo da lista era ocupado pelo Schidione 2000, uma preciosa composição de sangiovese, cabernet sauvignon e merlot que repousa durante dois anos em barris de carvalho antes de ser engarrafada. Depois de desarrolhado, mostrou-se vigoroso e, ao mesmo tempo, elegante. 

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Para o fim da degustação, que antecedia o almoço — uma massa ao ragu de javali, carne pela qual meu anfitrião tem predileção —, havia uma joia ainda desconhecida no Brasil: o Morione 2006. Essa é a única safra produzida até agora, da qual existem apenas 7 000 garrafas. Nesse caso específico, Biondi Santi optou por criar um varietal. Inspirado em um dos maiores ícones da região francesa de Bordeaux, o lendário Château Petrus, o novo vinho é 100% merlot. Na taça, revela uma cor púrpura, intensa e vívida, com um tom quase azulado no halo. Tem aromas marcantes de frutas vermelhas misturados ao perfume suave de violeta. Embora possua grande potencial de guarda, podendo ser esquecido por anos na cave, os taninos são afinados, e os efeitos da madeira, equilibrados. Não se trata de uma reprodução de um merlot típico da França, mas de uma bebida aveludada com estilo próprio, que associa potência e sofisticação. Ainda sem previsão de distribuição no Brasil, custa 170 euros no produtor. 

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Desde maio, Jacopo Biondi Santi tornou-se também administrador da Tenuta Greppo. Entusiasta da inovação, o empresário garante que nada será alterado na vinícola herdada do pai. “Não se muda a tradição”, declarou recentemente. Ele continuará a fazer o Brunello di Montalcino exatamente como se fazia desde o século XIX. Para Jacopo, são duas linhas paralelas e harmônicas que unem agora as duas empresas. No Greppo, a palavra de ordem é tradição, enquanto no Castello di Montepò a ousadia dita a produção de vinhos.

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