Marcos Lopes: resgate da escuridão
O ex-traficante que se tornou educador e ajuda outros jovens do Capão Redondo
O educador Marcos Lopes, de 29 anos, conseguiu abandonar o tráfico em 2002 graças ao estudo. Formou-se em letras na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) e escreveu um livro (Zona de Guerra, publicado em 2009 pela Matrix Editora) no qual narra sua vida. Hoje, dedica-se a apontar a porta de saída do mundo das drogas a outros jovens em bairros da Zona Sul. Afirma já ter conseguido resgatar trinta deles — vinte durante os quatro anos em que trabalhou no Instituto Rukha, ONG de ressocialização e enfrentamento da violência, extinta neste ano. Para dar continuidade à missão, fundou em outubro o Projeto Sonhar. Os jovens só se juntam ao grupo se quiserem. O programa oferece reuniões semanais e rodas de conversa na sede da organização, no Capão Redondo. “Meu método é baseado na compreensão, confiança e amizade”, define Lopes, cuja entidade sobrevive de doações de outras ONGs e de pessoas físicas. Ele cita o mito da caverna, de Platão, para descrever a situação em que estão imersos os traficantes e viciados de áreas pobres. Na alegoria grega, prisioneiros da gruta acreditam que as sombras projetadas na parede são a realidade do mundo exterior. “Da mesma forma, essa galera acha que a vida é aquela escuridão e limbo, não enxerga perspectivas”, compara. “O sonho de um dos garotos que atendi era sentar numa mesa de refeição com a família.”
O processo de resgate leva tempo e exige persistência. Começa com uma visita à família, momento no qual o educador tenta entender por que o garoto começou a usar drogas. Um dos beneficiados, Genildo Silva de Araújo, 19 anos, é eternamente grato a Lopes. “Se não fosse o Marcos, não teria deixado nunca o crime”, conta. Ex-traficante e ex-assaltante de farmácias, Guinho, como Genildo é conhecido, afirma ter mudado de rumo há um ano. Não foi um processo tranquilo. O garoto relutou, teve diversas recaídas, mas deixou a vida bandida e o vício da cocaína. Ele afirma que Lopes ganhou sua confiança na conversa. Literalmente. “Esse cara conhece nossa vida e fala a mesma língua que a gente”, diz. Guinho voltou a estudar, a ser respeitado pela família e pela namorada. Atualmente recebe salário de uma entidade, o Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja), em troca do trabalho de transportar cadeirantes no supletivo que frequenta, no Capão Redondo. Seus planos são fazer faculdade e dar palestras sobre como sua trajetória mudou.
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■ Projeto Sonhar
Rua Anália Dolácio Albino, 533,Capão Redondo, telefone 5513-7857