Ladeira do Parque da Independência é a predileta de skatistas
Considerada uma das pistas de skate mais indicadas para o longboard, a rampa no Ipiranga atrai 15 000 praticantes por fim de semana
Em uma cidade onde existem mais de oitenta pistas construídas especificamente para a prática do skate, o lugar mais procurado pelos adeptos por aqui não nasceu com essa vocação. Trata-se da ladeira do Parque da Independência, no Ipiranga, que liga o jardim do Museu Paulista à cripta do imperador. Por fim de semana, cerca de 15 000 fãs do esporte procuram o local para literalmente despencar no percurso. O ponto de partida fica a mais de 22 metros de altura, o equivalente a um prédio de sete andares. Quem desce em linha reta chega a atingir 40 quilômetros por hora. Muitos preferem experimentar a emoção de vencer o percurso fazendo curvas, de forma a aproveitar os 20 metros de largura do circuito, quase o triplo da que existe em uma rua residencial.
Pequenos grupos de pioneiros já frequentavam o lugar nos anos 70. O impulso definitivo da rampa, no entanto, veio com a reforma do asfalto, realizada em 2008. Hoje, com poucos buracos e ondulações, o pavimento recebe elogios rasgados entre os frequentadores. Outra virtude da pista está no fato de não haver circulação de veículos na área. “Não existe um lugar como este na capital, em que não corremos o risco de ser atropelados”, explica Rafael Massucci, o Massa, campeão sul-americano de downhill. Como o próprio nome em inglês diz, é a variação em que os adeptos se atiram em uma espécie de queda livre sobre quatro rodinhas, atingindo alta velocidade ladeira abaixo. Devido a tantas características favoráveis, o espaço sedia um dos principais campeonatos da categoria, o Independência ao Longboard, que terá a quinta edição em 23 e 24 agosto. A competição atrai cerca de 200 atletas, inclusive feras da Europa e de outros países da América do Sul. Em dias de finais, mais de 10 000 pessoas acompanham as manobras na torcida.
Um efeito colateral do sucesso do ponto são as confusões que começaram a ocorrer no trânsito por ali. Alguns pedestres invadem a pista e acabam levando trombadas. Outro problema é a disputa por espaço entre os skatistas mais experientes e os novatos. “Quem anda mais devagar corre o risco de ser atropelado”, explica Bruno Hupfer, presidente da Associação Quintal do Ipiranga, criada em 2009 com o objetivo de organizar o movimento e garantir a harmonia entre os esportistas e os frequentadores do parque.
Hupfer e os membros da entidade começaram a fazer nos últimos anos um trabalho de conscientização, colocando placas para a utilização de equipamentos de segurança e indicando a faixa de acostamento do lado direito da rampa para o uso dos pedestres. Eles abordam também, no esquema corpo a corpo, gente que desrespeita as regras ou consome drogas no local (alguns praticantes acendem um cigarro de maconha antes de iniciar a descida). “Viramos os chatos da ladeira, mas estamos conseguindo melhorar a convivência entre todos”, afirma Hupfer. A Secretaria do Verde e Meio Ambiente, que responde pela área, limita-se a recomendar o uso do capacete e proíbe skates das 13 às 17 horas aos sábados, domingos e feriados, período de pico de pedestres.
Os hospitais Ipiranga e São Camilo, os mais próximos ao parque, recebem pelo menos duas pessoas por fim de semana com lesões ortopédicas (fraturas e torções, principalmente), além de arranhões que precisam de curativo. “A maioria dos machucados ocorre em partes onde deveria estar a proteção”, conta a enfermeira Maria do Carmo, do Ipiranga. Há pelo menos um registro de acidente fatal. Em 2007, um garoto perdeu o controle da prancha e foi projetado de cabeça no meio-fio, falecendo dias depois por causa de um traumatismo craniano.