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Casal cria “linha de montagem” para cuidar bebês quíntuplos

Karina Barbara Barreira e João Biagi Júnior ganharam Arthur, Melissa, Laís, Giulia e Gabriela em abril deste ano

Por Alexandre Nobeschi
Atualizado em 17 Maio 2024, 15h52 - Publicado em 9 out 2015, 19h11
Quintúplos - Capa 2447
Quintúplos - Capa 2447 (Fernando Moraes/)
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Dividindo o espaço com dois sofás, um rack e um video game Xbox desligado desde janeiro, mais de 4 000 fraldas, separadas por tamanho e prazo de validade, estão empilhadas no canto da sala. Na pequena cozinha, onde uma mesa de quatro lugares logo se tornará insuficiente, muitas latas de leite em pó estão organizadas sobre o armário. O banheiro é tomado por inúmeros tubos de xampu infantil. Nessa casa simples, em um bairro de classe média em Santos, moram Karina Barbara Barreira, de 35 anos, e João Biagi Junior, 36. A decoração foi improvisada pelo casal para suprir as necessidades da família, que cresceu em progressão geométrica quando os quíntuplos Arthur, Melissa, Laís, Giulia e Gabriela (as duas últimas são gêmeas idênticas) nasceram, em 13 de abril, em uma maternidade de São Paulo.

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Se o lar demandou transformação para receber os bebês, que dirá o dia a dia dos pais. A rotina entre casa e trabalho, praia e uma pizza no fim semana evaporou. “Vivemos em função deles, e as nossas coisas ficam por último”, diz Karina. Para darem conta de tamanho desafio, ela e o marido adotaram um método industrial nos cuidados com a prole. Tudo é planejado e preparado com antecedência. As regras de horário são rígidas e as crianças precisam fazer tudo junto. “Aqui é rotina e organização”, diz a mãe da tropa mirim, em tom à la Capitão Nascimento. “Não podemos enrolar, senão eles ficam irritados, choram mais e a coisa se complica.”

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O dia com as crianças começa cedo. Perto das 6 horas, elas são trocadas e recebem a primeira mamadeira. Karina e João ganharam o reforço de Angela Maria Barbara, de 59 anos, avó materna dos bebês. De segunda a sexta, ela deixa sua casa, em São Vicente, para ficar com os netos. Ao fim do café da manhã, os recipientes são lavados e completados com leite para a próxima rodada, às 9 horas. Ao meio-dia, é hora da logística para o banho coletivo. Na cama do casal, as roupinhas são organizadas lado a lado. Pomada contra assaduras e sorofisiológico também estão a postos. Enquanto Karina dá banho em uma criança, a avó seca e troca outra. No quarto, o pai já está dando leite a uma terceira. Uma verdadeira linha de montagem. “Isso tudo leva cerca de uma hora”, diz a avó. “Estamos ficando cada vez mais ágeis.”

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Quintúplos – Capa 2447 ()
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Durante todo o dia, cada criança toma sete mamadeiras e tem a fralda trocada, em média, oito vezes. Uma conta rápida mostra que o estoque disposto na sala deve durar perto de quatro meses. Para os bebês, o expediente termina por volta da meia-noite. Os pais só vão conseguir descansar após 1 da manhã, assim que a casa tenha sido minimamente organizada. O quinteto, normalmente, embala até cinco horas seguidas de sono durante a madrugada, o que causa inveja em pais cujos filhos trocam o dia pela noite. Por estarem acomodados em um quarto de apenas 14 metros quadrados e com os berços colados uns aos outros, o choro de um deles pode provocar um efeito dominó na turma toda, tirando pai, mãe e avó da cama. “Ainda bem que eles são calminhos e costumam dormir bem, senão seria impossível suportar o cansaço”, conta Karina. “Acho que eles fizeram um acordo e têm nos poupado um pouco”, brinca o pai. Por outro lado, a mãe não vê a hora de voltar a dormir oito horas diárias. “É meu sonho, e não sei se isso vai acontecer novamente.”

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Caminhando para o 6º mês, os quíntuplos mamaram no peito no primeiro trimestre de vida. No princípio, a cada três horas, todos tomavam leite materno e, depois, recebiam o complemento. A mamadeira, no entanto, ganhou terreno. Karina desejava amamentar por um ano, mas entende que seria impossível dar conta de todos. “No fim, isso também agilizou nosso dia a dia, pois no peito, às vezes, eles ficavam até trinta minutos cada um.” Como os bebêsainda não estão liberados para sair de casa, exceção feita às visitas ao pediatra e ao posto de saúde, os pais ficam 24 horas à disposição da prole. “Espero ansiosa a hora de poder levá-los à praia e vê-los brincando na areia”, diz Karina. 

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Desde que a história dos quíntuplos veio a público, houve intensa mobilização para ajudá-los. Encarregada de vendas em uma loja de perfume, Karina precisou ser afastada do trabalho por causa do alto risco de sua gestação. O marido deixou o emprego de promotor de vendas para ajudar nos cuidados diários com a esposa. A renda, que antes dos quíntuplos era de aproximadamente 3 000 reais, caiu para 1 300 reais. Na internet, o casal criou uma página no Facebook (“Os quíntuplos chegaram”) e encontrou, além de mensagens de apoio e carinho, muita gente disposta a colaborar com ambos.

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Uma empresa de Santos mandou os móveis para o quartinho do quinteto. Outra companhia presenteou os irmãos com fraldas descartáveis suficientes para um ano, alívio e tanto para o orçamento doméstico. “Tivemos muita sorte, e tudo aqui em casa veio por doação”, conta o pai. “Das roupinhas aos bichos de pelúcia.” Mais coisas chegaram após a exposição na TV. No programa do Gugu, entre outras contribuições, a família ganhou no palco um automóvel T8 da Jac Motors, que tem capacidade para acomodar os sete. O veículo é avaliado em 95 000 reais. O apresentador, aliás, acompanhou intensivamente a família. Em um quadro, chegou a levar a pequena Melissa, a última a deixar o hospital, para casa, surpreendendo a mãe. No Hoje em Dia, com Ana Hickmann e César Filho, eles receberam um cheque de 5 000 reais.

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Juntos há quinze anos, fazia cinco que tentavam o primeiro filho. Após procurar um especialista, Karina foi orientada a tomar medicamentos para regular a ovulação e aumentar a parede do útero. “Caso simples, sem necessidade de fertilização in vitro”, afirma Orlando de Castro Neto, médico que atendeu o casal. Quatro meses depois, ela desconfiou que estava grávida. Comprou um teste de farmácia, e o resultado foi positivo. A confirmação, de fato, veio com um exame de sangue. “Vivemos uma explosão de felicidade, mas mal sabíamos o que estava por vir”, conta a mãe.

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No primeiro ultrassom, eles deixaram a sala anestesiados. O médico havia enxergado três bebês. “Pulei de alegria na hora”, relata o pai. A euforia do primeiro exame, porém, deu lugar ao nervosismo na segunda consulta. “Quando o médico me disse que eram cinco, e não três, fiquei preocupado”, diz João. “Perguntei: quantos aparecerão na próxima vez?”

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Nascimentos de quíntuplos são raríssimos. Especialistas afirmam que a chance é de 1 em 40 milhões, sobretudo em gestações naturais, como no caso de Karina e João. Para efeito de comparação, a probabilidade de um apostador acertar sozinho as seis dezenas da Mega-Sena com um jogo simples é de 50 milhões. “Tentei acertar a sena e fiz a quina”, diverte-se o pai. No Brasil, não há dados oficiais sobre essa forma de gravidez, mas um casal de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, teve cinco filhos de uma só vez em julho último. A concepção, porém, foi assistida. Entre as quatro maiores maternidades de São Paulo, só a Santa Joana contabiliza em seus registros um parto do tipo, realizado em 1996.

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Incomuns, gestações de múltiplos são consideradas de altíssimo risco. A sobrecarga pode originar dores nas costas e nas articulações. A mãe também fica suscetível ao aumento da pressão arterial e ao diabetes gestacional, o que aumenta o risco de prematuridade. Karina chegou ao fim da gestação com 80 quilos, 10 a mais em comparação com seu peso habitual. “Enjoei muito no começo e perdi peso, mas me alimentei direito e controlei a balança”, lembra ela, destacando também não ter padecido com as temidas estrias na barriga.

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Após a gestante ter sofrido dois sangramentos, seu médico durante o pré-natal, Otacilio Sant’anna Junior, sugeriu a internação. Em 10 de março, um mês antes do nascimento, Karina precisou ser levada ao Hospital Sepaco, na Vila Mariana. Ao todo, 34 profissionais estiveram envolvidos no parto, sendo três obstetras, quatro anestesistas e sete pediatras. O time, comandado pelo médico Raimundo Nunes, ensaiou previamente a cirurgia, realizada em uma sala de 60 metros quadrados, uma das maiores do centro de saúde. Para que tudo desse certo, as crianças deveriam ser retiradas em, no máximo, cinco minutos. Às 10h55, Arthur, com 1,2 quilo, foi o primeiro a nascer. Às 10h58, três minutos depois, Melissa (905 gramas), Laís (930 gramas), Giulia (595 gramas) e Gabriela (715 gramas) recebiam os primeiros cuidados médicos. 

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Nascidos na 28· semana — uma gravidez normal transcorre por quarenta semanas —, os quíntuplos são considerados prematuros extremos. De acordo com o pediatra neonatologista Lúcio Flávio de Peixoto Lima, que cuidou das crianças enquanto elas estiveram na UTI, bebês assim têm, em média, um risco 20% maior de ficar com sequelas, como atrasos neurológicos, complicações na visão e dificuldades respiratórias. “Os bebês da Karina, no entanto, evoluíram, e a probabilidade de algo aparecer daqui para a frente é menor”, afirma. Apesar das boas condições, três deles, Arthur, Laís e Gabriela, precisaram ser entubados nos primeiros dias de vida. Os três saíram de lá bem, mas ficaram com pequenas cicatrizes nos pulmões — nada que preocupe os médicos.

Em 15 de junho, Arthur e Gabriela foram os primeiros a deixar o centro hospitalar. O menino saiu pesando 2,715 quilos e a garota, 2,115 quilos. Menos de um mês depois, Laís (2,745 quilos) e Giulia (2,130 quilos) iam para casa. Melissa teve alta no dia 16 de julho, com 2,795 quilos. Em agosto, Laís, Melissa e Giulia voltariam a ser internadas, dessa vez em Santos. Melissa e Giulia foram diagnosticadas com bronquiolite, doença que afeta as vias aéreas superiores e dificulta a respiração. Laís contraiu pneumonia. Enquanto ficou hospitalizada, teve quatro paradas cardíacas e precisou ser reanimada. Felizmente, o procedimento foi bem-sucedido. “Uma das paradas aconteceu na minha frente. Foi como se estivessem arrancando meu coração”, lembra o pai.

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Hoje, todos estão saudáveis. Arthur, o maior deles, pesa 5,5 quilos. Os pais sabem que os perrengues financeiros atuais são fichinha perto do que está por vir, principalmente porque Karina dificilmente regressará ao trabalho e João continua desempregado. Uma família com esse perfil gasta, em média, 54 000 reais para criar um filho até os 23 anos, segundo pesquisa recente realizada pela Invent, empresa especializada em finanças. Multiplicada por cinco, a conta chega a 270 000 reais, uma fortuna para o casal de Santos.

“É muito trabalho e cansaço, mas também a felicidade é multiplicada”, pondera João. Os pais sentem-se orgulhosos com as conquistas dos últimos meses. Conseguem identificar os bebês pelo choro e arriscam até dizer a personalidade de cada um deles. “O Arthur é zen, calminho e risonho. A Melissa é um docinho. A Laís é mais chorona e manhosa. E as gêmeas são muito espevitadas, dão um baile na gente”, descreve a mãe. “Estamos curtindo muito, vivendo um dia de cada vez e esperando que as coisas se ajeitem”, completa o pai.

PARA AJUDAR A FAMÍLIA: Banco Caixa Econômica Federal; Agência 1613; conta poupança 67612-5; em nome de Karina Barbara Barreira.

Haja despensa e trabalho!

Alguns números surpreendentes da contabilidade mensal

FRALDAS: 1 200

LEITE: 170 litros

LENÇOS UMEDECIDOS: 30 pacotes

POMADA: 8 tubos

BANHOS: 300

ROUPINHAS SUJAS: 100 quilos

UNHAS CORTADAS: 400

 

Tão difícil quantoganhar na loteria

O nascimento de múltiplos temcrescido, mas ainda é raro

1 em 40 milhões é aprobabilidade de nascimentode quíntuplos, chance semelhanteà de acertar sozinho a Mega-Sena

51 000 múltiplos nascem a cada ano no Brasil

20 % de alta nos casos desse tipo nos últimos sete anos

Nas maiores maternidadesde São Paulo (Santa Joana,Pro Matre, São Luís e Einstein),só foi registrado um parto de quíntuplos, em 1996

* Agradecimentos: Tip Top e Baby Gap

 

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