“Nem a desculpa de black bloc a polícia tem dessa vez”, diz mãe de estudante ferido
Mãe de Guilherme Camargos, de 19 anos, afirma que vai processar o Estado; garoto passou por cirurgia de reconstrução do dedo no Hospital Albert Einstein
Para o estudante de arquitetura Gustavo Camargos, de 19 anos, o protesto contra o aumento da tarifa do transporte público começou na Avenida Paulista, no centro, e terminou em uma sala de cirurgia. Atingido por estilhaços de bomba de efeito moral lançada pela Polícia Militar, o jovem sofreu fratura exposta no polegar direito, quebrou ossos da mão e rompeu um tendão.
Por causa dos ferimentos, a mãe dele, a advogada Ana Amélia Camargos, afirma que vai processar o Estado e pedir indenização. Ela conta que o filho participava pacificamente do ato organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) na tarde de terça (12). “De repente, começou um corre-corre: a polícia o acuou e começou a jogar bomba. Ele sentiu a explosão e ficou com o ouvido zumbindo. Ao olhar para mão, percebeu que estava ferido”, conta a advogada.
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Um pano foi usado para imobilizar o dedo fraturado, mas Camargos não conseguia sair para pedir ajuda por causa da fumaça de gás lacrimogêneo que o cercava. O estudante recebeu ajuda de um homem e foi abrigado em uma galeria. Com a situação mais calma, conseguiu ligar para a mãe. Ana Amélia o levou para o Hospital Albert Einstein, na zona sul, onde passou pelo primeiro de uma série de procedimentos cirúrgicos para reconstituição do dedo fraturado. “A preocupação maior era limpar o local e evitar infecções, mas ele vai passar por outras cirurgias”, conta.
“Estou consultando colegas de outras áreas para fazer um manifesto de repúdio à violência da polícia contra os jovens. Também vamos processar o Estado e pedir indenização.”, diz a advogada. “O ato é legítimo e os manifestantes não estavam fazendo nada demais. Nem a desculpa de black bloc a polícia tem dessa vez.”
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Camargos já havia participado de manifestações anteriores, mas, se depender da mãe, ele não deve voltar tão cedo às ruas para protestar. “Ele tem visão social, mas considerando essa polícia absurda e troglodita, vou ficar extremamente preocupada”, afirma.
O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, afirmou nesta quarta (13) que foi necessário fazer a “dispersão” porque os manifestantes se recusaram a seguir o trajeto proposto pela PM sem ter combinado previamente por que caminho seguiriam. “Em vez de quererem se manifestar, eles preferiram tentar romper o bloqueio e ir para a Avenida Rebouças, que não estava preparada para manifestações.”
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Moraes também classificou como “absolutamente necessário” o aparato policial empregado no protesto, que, além de armas não letais como bombas de gás e de efeito moral, contou com blindados para conter tumultos e até a presença da Rondas Ostensiva Tobias de Aguiar (Rota), a tropa da PM preparada para ocorrências mais perigosas e com o maior índice de letalidade da corporação.
Feridos
De acordo com informações do MPL, 24 foi o total de feridos durante o ato na Avenida Paulista. Outras 13 pessoas foram detidas e 11 delas liberadas após se apresentarem na delegacia, segundo a SSP.
Um menor foi encaminhado para uma unidade da Fundação Casa e um homem permaneceu detido. Os dois são acusados de portar explosivos.