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Projeto quer transformar a Praça do Pôr do Sol em parque

Vizinhos também pretendem definir regras para frear as baladas na madrugada

Por Jussara Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 14h16 - Publicado em 18 jul 2014, 23h00
Praça do Pôr do Sol
Praça do Pôr do Sol (Veja São Paulo/)
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Todos os dias, pouco antes das 17 horas, dezenas de pessoas começam a se acomodar no imenso gramado da Praça do Pôr do Sol (oficialmente, Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro), no Alto de Pinheiros. Uns aparecem com cadeiras, outros se esticam sobre cangas. Quando o sol se despede definitivamente, por volta das 17h30 (no inverno), alguns aplaudem e vão embora. Outra turma, no entanto, chega mais tarde e permanece por ali até a madrugada. Nos fins de semana, quando cerca de 2 000 pessoas procuram o local, a balbúrdia atinge o auge. Música alta, consumo de drogas, presença de ambulantes e flanelinhas, garagens sendo usadas como banheiro e até sexo sobre carros são algumas das principais queixas da vizinhança. “Vira uma balada”, reclama a presidente da Associação dos Amigos de Alto de Pinheiros, Maria Helena do Amaral Osório Bueno. Para estipularem regras de uso e voltarem a desfrutar noites tranquilas, os moradores da região querem transformar a área de 31 000 metros quadrados em um parque municipal. Com a mudança, ela deixaria de ser administrada pela Subprefeitura de Pinheiros e ficaria aos cuidados da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Também ganharia gestão própria e um conselho poderia opinar sobre a realização de eventos e o horário de funcionamento. “A ideia não é fechar o espaço, mas organizá-lo e educar o frequentador”, afirma Maria Helena.

 

A proposta foi levada à prefeitura em fevereiro. No mês passado, o secretário do Verde, Wanderley Meira do Nascimento, apresentou um projeto que entrará em discussão nas reuniões do Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz de Pinheiros (Cades-PI). No começo de 2015, o plano deve ser encaminhado ao Poder Executivo, que pode transformá-lo em realidade por meio de um decreto. A intenção é realizar uma reforma de 4 milhões de reais sem alterar a arquitetura original, assinada por Miranda Martinelli Magnoli e pela paisagista Rosa Kliass. “Teremos cuidado para não intervir na vista do horizonte”, diz Nascimento, que afastou a possibilidade de instalar grades no local. “Isso seria uma interferência na paisagem.” A obra de maior impacto consiste em um mirante: abaixo dele seriam construídos banheiros e uma área administrativa. Um espaço para leitura e um novo playground também estão previstos.

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Além das melhorias na infraestrutura, o local ganharia serviços mais eficientes em segurança e conservação. No primeiro caso, com a contratação de uma equipe fixa de vigilância, que permaneceria ali 24 horas por dia. No segundo, com a ampliação dos horários de limpeza. Parques municipais contam com varrição diária; na Praça do Pôr do Sol, o recolhimento de lixo é realizado só nos fins de semana e às segundas. Também seria criada uma agenda de eventos organizada, com atividades de educação ambiental para crianças, por exemplo. “A área urbana exige convivência, é preciso haver regras”, afirma o secretário.

 

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É justamente com a sensação de baderna atual que os moradores estão mais preocupados. Segundo eles, os rastros do consumo desenfreado de drogas e álcool durante a madrugada são facilmente identificáveis por quem caminha por ali pela manhã. “Encontramos garrafas de cerveja, pontas de cigarro de maconha e até tubos de cocaína. Uma nojeira”, indigna-se o corretor de imóveis Sérgio Rubens Sampaio, que mora há cinquenta anos na vizinha Rua Pascoal Vita. A Polícia Militar afirma ter abordado 868 pessoas e vistoriado 204 carros no entorno da praça desde janeiro. Ao todo, 39 pessoas acabaram autuadas por posse de entorpecentes. O delegado Gilmar Contrera, do 14º Distrito, responsável pela área, reconhece que a fama da praça como point para uso de maconha é tão célebre quanto a fantástica vista da Zona Oeste da capital. “Mas não há tráfico, os usuários identificados assinam um termo circunstanciado e depois são liberados”, explica.

Apesar dos problemas de convívio apontados pelos vizinhos, os frequentadores temem que a área perca parte de seu charme com as novas regras. “Nunca presenciei problemas de segurança ou barulho, as pessoas vêm aqui justamente para ficar em silêncio”, afirma o administrador Michel Blomenfeld. “Até já participei de uma roda de violão e percussão durante a madrugada, mas foi bem tranquilo.” Morador da Rua Augusta, o artista visual Daniel Galvão pedala até a área pelo menos quatro vezes por semana e não vê necessidade de criação de um controle administrativo. “Ela já é naturalmente bem organizada”, comenta ele, admitindo, no entanto, que costuma usar as frondosas árvores dali como banheiro após tomar algumas garrafas de cerveja.

 

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Se a regulamentação for realmente concretizada, a Praça do Pôr do Sol poderá seguir o caminho recente da Chácara do Jockey. Na última quinta (17), o prefeito Fernando Haddad anunciou a transformação do terreno de 151 000 metros quadrados na Vila Sônia em parque municipal. A desapropriação, que custou 64 milhões de reais aos cofres públicos, era uma antiga reivindicação dos moradores da região, que temiam a construção de prédios no entorno. Atualmente, a capital tem 102 parques municipais. Juntos, eles consomem uma verba de 150 milhões de reais por ano em manutenção. O dinheiro é usado na conservação da cobertura verde e também em reparos de infraestrutura, como na parte elétrica, e em pequenas reformas.

 

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