Palácio Campos Elíseos: uma joia na região da Cracolândia
Com um projeto de restauração de 14,5 milhões de reais, ex-sede do governo estadual é preparada para se tornar um museu destinado a relembrar sua própria história
Os muros de mais de 2 metros de altura em plena região da Cracolândia, ao lado do terminal de ônibus Princesa Isabel e dos usuários de drogas que perambulam pelo entorno,escondem as pistas do que foi por 44 anos o epicentro da política paulista. Apenas os portões de ferro deixam entrever a arquitetura de ares renascentistas do Palácio dos Campos Elíseos, imóvel de quatro pisos e 4 000 metros quadrados, inspirado no Castelo de Écouen, na França. Ele deve voltar a ganhar um papel de destaque na cidade graças a um grande projeto de revitalização.
Entre 2008 e 2009, sua fachada foi restaurada, ao custo de3,65 milhões de reais. Desde meados de junho, o imóvel está mergulhado na fase final de sua recauchutagem: a reparação da estrutura interna, com previsão de duração de dezoito meses e 14,5 milhões de reais em gastos.
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Quando tudo estiver terminado, reabrirá como um museu, destinado a relembrar sua própria história. Na época da construção, no fim do século XIX, por encomenda do exportador de café Elias Antonio Pacheco Chaves, o bairro Campos Elíseos era a nova fronteira da elite da metrópole. Para implementar o projeto,o arquiteto Matheus Häussler e o cenógrafo Cláudio Rossi importaram materiais dos Estados Unidos e da Europa. Boa parte deles está praticamente intacta, como as portas de pinho-de-riga.
Em 1911, após a morte de Chaves, é que se iniciou sua fase mais gloriosa: virou moradia dos governadores paulistas (então chamados de presidentes do estado) e, dez anos depois, também a sede do próprio Executivo. O que os livros de história registram a partir de então se passa em grande parte por ali. Em 1924, quando tenentes se insurgiram pela segunda vez contra o presidente Arthur Bernardes, o palácio chegou a ser bombardeado. “Na Revolução de1932, era um dos centros nervosos, sempre cercado de manifestantes”, diz Ricardo Della Rosa, um dos maiores colecionadores de documentos do período.
Nos anos seguintes, governadores como Júlio Prestes viveriam lá, até que o governador Adhemar de Barros decidiu, em 1965, a mudança para o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi. Desde então o prédio passou a abrigar secretarias estaduais. Aos poucos, acabou abandonado e dominado por problemas como a infestação de cupins. Na nova fase, os sistemas hidráulico e elétrico e a climatização estão sendo revistos e todas as paredes e revestimentos, recuperados.
As cerca de 250 peças de mobília, entre espelhos, tapetes e poltronas, serão levadas de volta (hoje, ficam no acervo do Bandeirantes). Haverá ainda por lá um café, um auditório para sessenta pessoas e uma plataforma de acesso a cadeirantes. E parte dos muros irá ao chão. “Isso fará com que não seja apenas um projeto educativo e cultural, mas ajude na melhora do entorno”, diz o governador Geraldo Alckmin. São Paulo assim espera.