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Ciclistas viram alvo de assaltantes na capital

Gangues especializadas buscam modelos de bicicleta que chegam a custar 40 000 reais

Por Silas Colombo
Atualizado em 1 jun 2017, 17h25 - Publicado em 7 fev 2014, 17h32

Por volta das 6 da manhã do último dia 16, a decoradora Marisa Sack chegou ao câmpus da Universidade de São Paulo, no Butantã, para cumprir sua rotina de treinos. Na Avenida da Raia Olímpica, enquanto começava a tirar do carro sua bicicleta personalizada de 17 000 reais, viu três homens se aproximando, um deles armado. Assustada, voltou para o veículo e acelerou. Ela conseguiu escapar, mas a lataria do veículo ganhou dois buracos de bala. “Um dos tiros atravessou o porta-malas e parou na roda da bike”, conta. Menos de dez minutos depois, a poucos metros dali, o professor de educação física Emerson Vilela sofreu um ataque parecido. Dois homens em uma moto anunciaram o assalto. “Eles gritaram: ‘Perdeu! Perdeu! Desce, senão eu atiro!’. Fiquei sem reação”, lembra Vilela. O garupa colocou a Merida de 7 500 reais nas costas e, em seguida, desapare- ceu junto com o seu comparsa em direção à favela São Remo.

 

Gangues especializadas em ações do tipo atuam hoje em vários pontos da cidade, em busca de modelos importados que podem chegar a 40 000 reais. A tecnologia dos produtos, desenvolvida para amenizar o esforço dos ciclistas, acabou facilitando também a vida dos criminosos. Como são feitas hoje de materiais ultraleves (alguns modelos não pesam mais que 10 quilos), as bicicletas podem ser facilmente carregadas pelos bandidos durante a fuga.

 

Muito frequentada por atletas e amadores com seus equipamentos de ponta, a USP ocupa o topo do ranking de pontos mais visados. Desde o começo do ano, mais de vinte roubos ocorreram ali — número duas vezes maior que o registrado no mesmo período em 2013. Apenas uma minoria das vítimas procura a polícia. Por isso, o 93º DP, que atende à região, registrava somente quatro ocorrências do tipo em 2014 até a última quinta (6). “A falta de controle de quem entra e de quem sai nas portarias da universidade dificulta a investigação”, afirma Paulo Arbues de Andrade, delegado titular do 93º. Recentemente, duas viaturas da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) foram deslocadas para lá a fim ajudar os dois policiais da base móvel da Polícia Militar que monitora a região. “Alguns dias há quatro soldados e em outros não encontramos nenhum”, reclama o ciclista Guilherme Ribeiro.

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A Rodovia dos Bandeirantes, na chegada à capital, é outro ponto perigoso. Em dezembro, o publicitário Júlio Barreto foi surpreendido ali por três garotos armados enquanto pedalava próximo ao quilômetro 27. Os criminosos pularam o guard-rail da pista, pegaram a bicicleta e desapareceram na vila ao lado. “Tive de andar um bom pedaço até um posto de gasolina e ligar para alguém me pegar”, conta Barreto. Problemas semelhantes têm ocorrido nas rodovias Ayrton Senna, Fernão Dias e Imigrantes, cujos acostamentos são muito procurados para treinos de ciclismo. Alguns esportistas foram surpreendidos nos acessos à capital, onde é preciso cruzar viadutos e diminuir o ritmo por causa do trânsito. Sem lugar para escapar e distantes de postos policiais, eles viraram alvo fácil de ladrões em motocicletas e caminhonetes. “A única forma de tentar se proteger é andar em grandes grupos”, conta o triatleta Diego Lopez. “Mesmo assim, acabam pegando quem fica desgarrado do comboio.”

charles Schweitzer ciclista
charles Schweitzer ciclista ()

Nas mãos dos bandidos, as peças são repassadas a pessoas que oferecem os artigos surrupiados na internet ou em lojas de bikes usadas. Em sites de comércio virtual, como Mercado Livre e OLX, há uma oferta de bicicletas importadas com preços 10% abaixo dos encontrados no mercado. Os produtos possuem um número de identificação no quadro, mas ele pode ser facilmente removido. “Isso dificulta incriminar alguém por receptação”, explica o delegado Paulo Arbues de Andrade. Até modelos de valor mais baixo entraram na mira. Por falta de segurança, o Itaú resolveu fechar recentemente dez das 134 estações do sistema de aluguel Bike Sampa, por problemas de furto e vandalismo.

A ação das gangues especializadas fez aumentar a procura dos proprietários por seguro. Hoje são mais de 1 000 apólices ativas para uma frota estimada em 1 milhão de bicicletas. Em 2011, o número de equipamentos com essa proteção não passava de 400. O administrador Charles Schweitzer deve engrossar em breve esse grupo. Enquanto não conclui a assinatura de um contrato para o seu modelo de 5 000 reais, resolveu dar uma pausa nos treinos. “Melhor não arriscar”, diz.

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Fábio Samori
Fábio Samori ()

Todos os contratos são para equipamentos acima de 3 000 reais. A apólice custa 10% do valor do veículo. Devido à frequência maior de crimes, o número de sinistros do tipo também começou a aumentar. A Estar Seguro, uma das companhias que vendem esse produto, registrou uma alta de 55% no pagamento de sinistros na capital entre 2012 e 2013. “Muitas vezes, o bandido rouba e nem sabe direito o que tem em mãos”, afirma Luiz Fernando Giovannini, sócio da empresa.

As lojas especializadas na venda de bicicletas, outro dos alvos das gangues, vêm reforçando a segurança. Na Aro 27, em Pinheiros, os proprietários investiram 20 000 reais no meio do ano passado. Boa parte do dinheiro foi usada para instalar um sistema de monitoramento com oito câmeras, divididas entre a loja e o estacionamento, que recebe quarenta bicicletas por semana. “O zelo dos donos já é igual ao dos proprietários de automóveis”, entende Fábio Samori, responsável pela Aro 27.

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