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Filial da Cracolândia surge na região da Paulista

Pontos de consumo de droga também prosperam na Avenida Nove de Julho e na Praça 14 Bis. Na Baixada do Glicério, grupo e criou passagem para a pista da Radial Leste

Por Adriana Farias
Atualizado em 1 jun 2017, 17h03 - Publicado em 20 fev 2015, 22h00
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minicracolandia-paulista-noite-ilustrada-2 ( Mário Rodrigues/)
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Não bastasse o problema de consumo e tráfico de drogas nas ruas do bairro da Luz, no centro, ocorre agora na cidade a proliferação das chamadas “minicracolândias”. A mais nova delas está instalada nas redondezas de um dos cartões-postais da capital, a Avenida Paulista. Um grupo de cerca de quarenta pessoas se aglomerava entre cobertores e suportes de papelão para consumir crack e álcool dentro do Túnel Noite Ilustrada, que faz a ligação entre as avenidas Rebouças e Doutor Arnaldo, às 23h30 do último dia 1º. A poucos metros dali, no Complexo Viário José Roberto Fanganiello Melhem, outras vinte se estiravam no chão para usar drogas na via e em meio a um matagal na parte superior do viaduto. Desde outubro do ano passado, cenas como essas vêm se repetindo nas madrugadas do pedaço. Em dezembro, o movimento engrossou com a chegada de outros usuários expulsos da Praça Marechal Cordeiro de Farias, em Higienópolis.

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Embora o número de viciados ainda não seja muito grande, moradores e comerciantes da área se mostram preocupados e relatam vários problemas. A Associação Paulista Viva, por exemplo, recebeu catorze reclamações nos últimos quatro meses. “Fiz um orçamento para instalar um alarme na porta, porque eles entram pedindo água e aproveitam para furtar equipamentos”, diz Arnaldo Mello, dono de uma oficina de velocímetros localizada a poucos metros do túnel. Um dos estabelecimentos da vizinhança, o restaurante Lisboa, sofreu recentemente um prejuízo de cerca de 15 000 reais durante um assalto. Além do portão destruído, foram subtraídos de lá dois televisores de tela plana, diversas bebidas e alimentos, incluindo queijos e chocolates. “Durante a madrugada, os bandidos entraram e levaram o que podiam”, conta o proprietário, Sérgio Augusto. “Quando vi as imagens da câmera de segurança, ficou claro que a ação tinha sido feita pelos viciados daqui. Avisei a polícia e recuperamos um dos aparelhos.”

De acordo com os últimos dados disponibilizados pela Secretaria de Segurança Pública, o número de furtos nessa região aumentou 17% entre outubro e dezembro de 2014 na comparação com o mesmo período do ano anterior. Policiais que patrulham o local atribuem parte desse crescimento à presença dos consumidores de crack. “Vamos mandar equipes de investigadores para checar o Túnel Noite Ilustrada”, promete o delegado Roberto Pacheco de Toledo, titular do 4º Distrito Policial, que investiga o tráfico de drogas na região da Rua Augusta. “Além dos grupos de radiopatrulhamento que já atuam no local, intensificamos o policiamento com mais oito equipes”, afirma o capitão Emerson Massera, chefe da seção de comunicações da Polícia Militar.

 

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Segundo especialistas, as “minicracolândias” surgiram em meados de 2012, quando foi deflagrada uma grande operação policial na Luz para combater o tráfico e retirar os viciados em crack. “A ação desastrada fez com que eles migrassem em pequenos grupos para outros locais da cidade”, diz o jurista Wálter Maierovitch, ex-secretário nacional antidrogas. O fenômeno da multiplicação de pontos foi dimensionado pela primeira vez em 2013, quando a Secretaria Municipal de Saúde mapeou as áreas de consumo na cidade. Na época, o trabalho listou cerca de 200 endereços onde isso ocorria.

A prefeitura concentrou esforços no atendimento aos usuários de trinta lugares em que  havia aglomerações de, no mínimo, trinta pessoas por um período de quatro meses. Na lista, entraram localidades como a Avenida Gastão Vidigal (Ceagesp), o Viaduto Jabaquara e a Baixada do Glicério. As ações dos agentes municipais incluíram a abordagem aos dependentes químicos de forma a convencê-los a aceitar tratamento médico. Com isso, ao menos 1 500 pessoas foram retiradas das ruas. Na ocasião, foi ampliado de quatro para dezoito o número de equipes encarregadas desse trabalho de campo. Ao todo, hoje são 230 profissionais, entre médicos, enfermeiros, psicólogos e agentes sociais e comunitários.

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O mapeamento das “minicracolândias” nunca mais foi atualizado. Vários novos focos do problema surgiram. A menos de 3 quilômetros do fim da Avenida Paulista, a Praça 14 Bis é outra área que virou ponto de consumo e venda de drogas. A maconha e o crack são retirados de dentro de um colchonete e distribuídos a um grupo que fica por ali. Menos de 1 quilômetro adiante, na Avenida 9 de Julho, na altura do número 871, as drogas são comercializadas em barracas de camping bem em frente ao Espaço de Convivência Bela Vista, da prefeitura, um abrigo para moradores de rua.

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minicracolandia-glicerio ()

Um dos maiores focos se encontra na Baixada do Glicério, onde pelo menos setenta pessoas vivem entre barracas de lona ou de madeira tomando as vias para consumir a droga. No fim de dezembro, um grupo fez um buraco na parede da Rua Mituto Mizumoto e criou uma passagem para a pista da Radial Leste. A abertura continua lá até hoje. Moradores relatam que usuários usam o atalho para aproveitar o trânsito parado e furtar os motoristas. “Quando não conseguem roubar dinheiro, geralmente é um celular ou o rádio do carro”, relata um comerciante que pediu para não ser identificado. No Viaduto Jabaquara outros quarenta chegam até a tomar uma das faixas e o risco de atropelamento é grande.

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Uma das estratégias para tentar conter o problema é deter os criminosos da  região da Luz, que enviam seus comparsas para atuar nos outros pontos menores. “Vamos aos poucos asfixiar o tráfico”, promete Alexandre de Moraes, secretário de Segurança do estado. Uma das vitórias recentes envolveu a prisão, em dezembro, de Osmar Aparecido Luiz Filho, que se encontra agora na penitenciária de Mirandópolis, no interior de São Paulo. Apontado como o principal distribuidor de crack na metrópole, ele estava foragido desde 2011. Para a pesquisadora Solange Nappo, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Unifesp, a batalha está apenas no começo. “As pequenas cracolândias são mais difíceis de ser enfrentadas do que a matriz da Luz, pois mudam de local o tempo todo e levam junto o crime”, explica.

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